Sobre a arte de escrever

28 de Noviembre de 2018

[Por: José Neivaldo de Souza]




Não sei escrever! O que escrevo é para aquietar meu coração e não meus pensamentos. Estes querem responder a um mundo que não é meu e que não me suporta. Se me perguntam: você não escreve para o leitor? Não! Escrevo para o meu prazer. Frei Betto, em seu livro Ofício de escrever, diz: “Escrevo para constituir a minha própria identidade. A identidade é o reflexo de um jogo de espelhos... escrevo também para sublimar minha pulsão e dar forma e voz à babel que me povoa interiormente”. 

 

Escrevemos para ser feliz! simplesmente porque o sabor do saber nos encanta. Só depois ofertamos aos outros. O jogo das palavras me fascina e, se por um motivo ou outro, elas não se encaixam, me sinto desajeitado. Rubem Alves diria: “O escritor não escreve com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor”. De fato! Imagino Victor Hugo, Leon Tolstoi e F. Dostoievski, eles expressam isso. Não esperavam uma multidão de leitores e tampouco queriam ser mal interpretados, mas, como dizia Virginia Woolf, o verdadeiro prazer já foi realizado. 

 

Escrevo para adubar perguntas. Não há lugar para mim no mundo das respostas. Certo o poeta Manuel bandeira que, em sua desilusão diante de tantas “certezas”, fez descortinar um novo mundo: “Vou-me embora para Pasárgada. Aqui eu não sou feliz. Lá a existência é uma aventura...”. Escrever é expressar, ao mesmo tempo, a dor de existir e a aventura de viver. Clarice Lispector tinha a alma de Bandeira. Para ela, escrever é a forma mais insana de colocar um coração neste mundo. 

 

Não escrevo sem pensar, apesar de deixar os gritos do meu inconsciente saltarem para fora. Sou vagaroso e tenho dificuldades para escrever! Quando escrevo para mim, em minha estranheza e solidão, sem a intenção de atingir os outros, escrevo mal e o texto se torna agradável. Mas, ao me dirigir aos outros, com o objetivo de ser compreendido, o argumento se torna penoso e exigente. Há a obrigação de escrever bem e dizer tudo em poucas palavras. 

 

Meu desejo é escrever sobre o Reino de Deus. Não qualquer deus, usado para justificar o poder e as enganações, mas o verdadeiro Deus que há na alma humana e sofre derradeiramente por amor e justiça.

 

Imagem: http://www.digitalindia18.com/2017/10/kayastha-kalam.html 

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