A arte nas CEBs!

22 de Noviembre de 2017

[Por: Emerson Sbardelotti]




Outro dia, olhando as fotos que tirei durante a mais recente Romaria dos/as Mártires da Caminhada Latino-Americana, ocorrida em Ribeirão Cascalheira, em julho de 2016, parei para admirar os Murais da Libertação criados por Cerezo Barredo, no Santuário, na antiga Catedral e em outras igrejas da Prelazia de São Félix do Araguaia-MT. 

 

Em cada mural, me veio à mente uma música da caminhada que ia sendo emendada com outras músicas. Em cada uma daquelas pinturas está contida a história recente de luta e vida do povo santo de Deus; claro, que primeiramente do povo da Prelazia, mas, estendida para todo o povo brasileiro, latino-americano e caribenho. 

 

Em muitas de nossas CEBs podemos ainda encontrar tais maravilhas. Esculturas, pinturas, canções pé no chão, que de fato, fazem a ligação fé e vida, que impulsiona para um serviço fora da Igreja, como nos pede o papa Francisco. Porém, há uma movimentação nas redes sociais, feita por grupos reacionários em discriminar esta experiência tão genuína, o que é uma lástima, um verdadeiro pecado.

 

Em janeiro de 2018, acontecerá o 14º. Intereclesial das CEBs, em Londrina-PR, que abordará o tema das CEBs no mundo urbano; constituindo um momento propício para entrar em contato com toda a arte produzida nas Comunidades Eclesiais de Base, espalhadas pelo país, que brotam no Evento em forma de canções, de estampas nas camisas dos participantes, nos brincos, colares, bonés, chapéus, lenços, velas, banners, cartazes, ícones, vestes e toalhas litúrgicas. 

 

Torna-se, por assim dizer, o único espaço em que podemos encontrar com os/as Artistas da Caminhada (escritores/as, poetas/poetisas, compositores/as, pintores/as, escultores/as, desenhistas, designers, etc) com maior liberdade, fora dos shows e exposições, ou da virtualidade; conversar e tirar fotos com eles/as, comprar seus produtos – que muitas vezes não são oferecidos nas lojas católicas. Essa troca de experiências causa no coração de quem a vive, a certeza de que ainda há muito a ser construído, e que há muita luta pela frente. Há muita luta pela sobrevivência de um modo de ser Igreja que aos poucos está sendo colocado para escanteio, que por muitas vezes está sendo acusado de ser herético, de ser uma coisa do passado. Uma Igreja que não tem e não faz memória da arte que anima a comunidade reunida, que não respeita as diversas manifestações artísticas em seu seio, está fadada a fechar-se e a morrer.

 

A Constituição Pastoral Gaudium Et Spes – sobre a Igreja no mundo de hoje1 nos recorda:

 

A literatura e as artes são também, segundo a maneira que lhes é própria, de grande importância para a vida da Igreja. Procuram elas dar expressão à natureza do homem, aos seus problemas e à experiência para a vida da Igreja. Procuram elas dar expressão à natureza do homem, aos seus problemas e à experiência das suas tentativas para conhecer-se e aperfeiçoar-se a si mesmo e ao mundo; e tentam identificar a sua situação na história e no universo, dar a conhecer as suas misérias e alegrias e necessidades e energias, e desvendar um futuro melhor. Conseguem assim elevar a vida humana, que exprimem sob muito diferentes formas, segundo os tempos e lugares.

 

Por conseguinte, deve trabalhar-se por que os artistas se sintam compreendidos, na sua atividade, pela Igreja e que, gozando duma conveniente liberdade, tenham mais facilidade de contatos com a comunidade cristã. A Igreja deve também reconhecer as novas formas artísticas, que segundo o gênio próprio das várias nações e regiões se adaptam às exigências dos nossos contemporâneos. Serão admitidos nos templos quando, graças a uma linguagem conveniente e conforme com as exigências litúrgicas, elevam o espírito a Deus.

 

Deste modo, o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado; a perfeitamente manifestado; a pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens e aparece como que integrada nas suas condições normais de vida.

 

É preciso uma refundação cultural na Igreja! A refundação é edificada a partir do conhecimento das fontes de nossa fé e de nossa vida; de todo esforço e processo de inculturação, principalmente no que tange ao respeito, ao diálogo e ao encontro, com tudo aquilo que é diferente do que estamos acostumados a cantar, a admirar com todo o nosso corpo, a vestir. Lembra-nos o Papa Francisco2:

 

Na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede lugar à aparência. Em muitos países, a globalização comportou uma acelerada deterioração das raízes culturais com a invasão de tendências pertencentes a outras culturas, economicamente desenvolvidas, mas eticamente debilitadas.

 

A fé católica de muitos povos encontra-se hoje perante o desafio da proliferação de novos movimentos religiosos, alguns tendentes ao fundamentalismo e outros que parecem propor uma espiritualidade sem Deus. Um olhar de fé sobre a realidade não pode deixar de reconhecer o que semeia o Espírito Santo. Uma cultura popular evangelizada contém valores de fé e solidariedade que podem provocar o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e crente, e possui uma sabedoria peculiar que devemos saber reconhecer com olhar agradecido.

 

Para nós cantores/as é preciso cantar a Missa, cantar a Celebração da Palavra, cantar os momentos de vida das assembleias do povo santo de Deus. É preciso ser e estar a serviço do que se canta, pois se canta para o próprio Jesus de Nazaré que nos reúne em assembleia de irmãs e irmãos:

 

A música é um dos elementos que mais contribuem para que toda a assembleia participe de uma celebração. A música não é um enfeite, mas parte integrante da ação litúrgica. Por meio dela, a Palavra de Deus atinge mais profundamente nossa pessoa em sua totalidade e a nossa fé e comunhão se expressam com mais força3.

 

Não quero arrumar confusão ao dizer que é necessário se levar a arte nas CEBs mais a sério, caso contrário, se estará decretando o seu fim. É necessária uma formação cotidiana e de excelente qualidade que alcance e incentive principalmente a juventude que participa das CEBs e em alguns casos que só “assistem” à Missa ou a Celebração da Palavra. Que leve a juventude a se apaixonar novamente pelas CEBs, pelo seu sempre novo jeito de ser Igreja.

 

Quem sabe, o 15º. Intereclesial das CEBs possa viver e tratar do tema da arte nas CEBs! Trazendo à tona, tudo o que foi produzido em todos estes anos, e sua importância para as novas gerações deste século XXI.

 

Que mais pessoas possam divulgar os artistas da caminhada, em suas redes sociais, comprando seus produtos, estando presente em suas exposições e shows, convidando-os/as para pintarem e restaurarem suas igrejas, à exemplo do que pede o Vaticano II: uma igreja onde haja irmãs e irmãos.

 

Aproveito para divulgar o canal do You Tube: Músicas da Caminhada, que desde 2016 vem recuperando canções importantes na caminhada do povo santo de Deus, e colocando-as a disposição de toda pessoa de boa vontade para baixar e compartilhar. Não deixe de conhecer o canal acessando o vídeo.

 

O Observatório da Evangelização da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais fez uma entrevista com o organizador do canal, onde apresenta o Projeto Músicas da Caminhada e sua importância. Não deixe de ler a íntegra: https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2017/10/17/projeto-musicas-da-caminhada-ja-deu-seus-primeiros-passos/

 

Citas 

 

1 CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Gaudium Et Spes – Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo de hoje. 16.ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 86-87.

2 FRANCISCO. Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho – sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 5.ed. São Paulo: Paulus / Loyola, 2013, p. 45-48.

3 OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES. Introdução. 11.ed. São Paulo: Paulus, 1994, p. 18.

 

Imagem: https://observatoriodaevangelizacao.files.wordpress.com/2017/10/alterada-1_2.jpg?w=816 

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