14 de Diciembre de 2024
[Por: Emerson Sbardelotti]
COR RÓSEA OU ROXA
15 DE DEZEMBRO DE 2024
PRIMEIRA LEITURA
Leitura da Profecia de Sofonias 3,14-18a
Sofonias foi profeta em Jerusalém no tempo do rei Josias (640-609 a.E.C.), no reino de Judá, no sul; sua atuação foi em torno de 640-620 a.E.C. Seu nome significa YHWH protege. A profecia de Sofonias possui três preocupações: 1. O dia do YHWH; 2. Oráculos contra os opressores; 3. Defesa e esperança para os pobres.
1. O Dia do YHWH: é o dia em que a justiça é realizada plenamente. Para testemunhar este dia é preciso ser justo = defender a vida.
2. Oráculos contra os opressores: o profeta anuncia o amor e a misericórdia de Deus; o profeta denuncia todos os tipos de violência e opressão; o profeta ameaça o poder dos poderosos.
3. Defesa e esperança para os pobres: os pobres são os preferidos de Deus não por serem melhores do que os ricos, mas por serem as vítimas do sistema injusto e corrupto.
O relato de hoje é uma mensagem de otimismo e esperança dirigida aos pobres que sobreviveram na cidade durante as invasões e conquistas estrangeiras e, ao exílio da elite.
A profecia de Sofonias, neste 3º. Domingo do Advento, é de alegria, que é uma forma de Deus viver em nós, todos os dias de nossas vidas. Sofonias pede a Sião (Jerusalém) que cante de alegria, pois a alegria transbordará do coração, fazendo Israel feliz. O Senhor, o Deus da Vida, afastará todos os inimigos, pois ele está no meio do ser humano e é, Ele quem governa Israel, este é o motivo de tanta alegria, é o auge do texto: não haverá mais exílio, pois, é o próprio Deus quem reina. Não haverá tempo para desânimo. Deus é um valente guerreiro, que movido pelo amor, salva. O amor de Deus nos salva. O amor de Deus defende o povo das ameaças externas, pois exerce a justiça dentro de Israel. Sofonias sinaliza para um novo começo da história do povo santo de Deus: a partir dos/as pobres, dos/as marginalizados/as, dos/as excluídos/as, dos/as descartados/as.
SALMO RESPONSORIAL Is 12, 2-3. 4bcd.5-6 (R. 6)
A profecia de Isaías tornada salmo responsorial deste Dia do Senhor, e com a belíssima melodia da saudosa Irmã Miria Therezinha Kolling1, convida-nos no refrão: “Exultai cantando alegres, habitantes de Sião, porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel!”. Deus é o Santo de Israel, por isso a nossa alegria deve ser imensa, todos os dias de nossas vidas.
1. Alonso Schökel e J.L. Sicre Diaz2 refletem assim: “O hino acha-se dividido em duas partes: um solista entoa a primeira parte, repetindo três vezes “salvação”; convida-se o coro a honrar o “seu nome” (bis), ao Santo de Israel.
2. Citação tomada do cântico de Moisés 15, 2, que evoca espontaneamente a recordação do Êxodo. Com a experiência do consolo interior e da salvação objetiva, o temor cede lugar à confiança. Em outros termos: da ira-temor para a salvação-confiança.
3. A salvação é como fonte inesgotável. Pode evocar as fontes miraculosas do deserto (Ex 17,6), relaciona-se com a fonte de Siloé (8,6) e é, em última análise, o próprio Deus como fonte sempre perene (Jr 2,13). “Aquella eterna fuente está escondida, que bién sé yo do tiene su manida” (Aquela eterna fonte está ocultada, que bem sei eu onde tem a sua morada) (S. João da Cruz). Não é mais trabalho penoso ir tirar água da fonte (recordações patriarcais, por exemplo, Gn 21,23-24; 26,12-33). Tem ressonâncias no NT: Jo 4,14; 7,37s; Ap 21,6.
4. Nome e renome: nome revelado para a invocação; renome adquirido pelas suas proezas e que o povo eleito deve propagar pelo mundo inteiro.
6. Sião pode representar tradicionalmente toda a comunidade enquanto capital do reino (SCHÖKEL & DIAZ, 1988, p. 174).
SEGUNDA LEITURA
Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Filipenses 4,4-7
Em nossas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), alguns anos atrás, dos encontros de Catequese Infantil até os encontros de Crisma, passando pelos Círculos Bíblicos e grupos de jovens das Pastorais das Juventudes, havia um refrão meditativo que animava os encontros e reuniões: “Alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos no Senhor (2x). Alegrai, alegrai, alegrai-vos no Senhor. (2x)3”,que é uma adaptação do v.4 da Segunda Leitura de hoje, que se conecta com a Exortação Apostólica Evangelli Gaudium4, do Papa Francisco que nos diz assim: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1).
José Bortolini5 nos informa: “Os Atos dos Apóstolos (16,11-40) mostram como foi a fundação da comunidade de Filipos. Ela surgiu na casa de uma senhora de nome Lídia e em torno da família do carcereiro, do qual Paulo salvou a vida. Filipos foi a primeira cidade da Europa a receber o anúncio do Evangelho. A comunidade cristã nascida nessa cidade se caracterizou por relacionamento estreito e solidário com a missão de Paulo, que tinha como norma não receber bens em troca de pregação. Mas com os filipenses foi diferente. A comunidade ficou sabendo da prisão de Paulo (provavelmente em Éfeso, entre os anos 56 e 57), e lhe mandou uma ajuda, manifestando assim a solidariedade para com o Apóstolo e, sobretudo, com a causa do Evangelho. A carta aos Filipenses é uma coleção de três bilhetes que Paulo escreveu a essa comunidade, em breve espaço de tempo. Cada um desses bilhetes tem preocupação própria. O texto de hoje contém algumas considerações feitas em nome do Senhor. O Apóstolo ficou sabendo que havia desentendimento entre duas mulheres líderes da comunidade. Isso causou divisões e descontentamento. Depois de fazer um apelo ao diálogo e à união das lideranças, Paulo convoca a alegria, um dos temas fortes da carta. Ser cristão é motivo de alegria; é também apelo ao equilíbrio: “Como cristãos, alegrem-se sempre! Repito: Alegrem-se! Que todo mundo note que vocês são compreensivos (= equilibrados). O Senhor está próximo” (4,4-5). A união da comunidade em torno de um objetivo comum – o projeto de Deus – é propaganda para os que estão fora da comunidade vendo a união e harmonia dos membros, os de fora percebem que o Senhor está próximo, morando no meio das pessoas. O equilíbrio é remédio para os momentos de tensão. Paulo não ignora as dificuldades internas e externas enfrentadas pela comunidade. Por isso pede que tudo seja resolvido em clima de diálogo com as pessoas e com Deus, na oração: “Não se angustiem com nada, mas sempre, em orações e súplicas e com ação de graças apresentem suas necessidades a Deus” (v. 6). Nem sempre o discernimento é suficiente para se chegar à paz de Deus. Mas esta, uma vez buscada com vontade e coragem, será capaz de orientar, modificar ou aperfeiçoar as opções que a comunidade fez: a paz de Deus, que vai além de todo entendimento humano, guardava seus corações (a sede das opções profundas) e pensamentos em sintonia com o projeto de Cristo Jesus (cf. v.7)” (BORTOLINI, 2010, p. 508).
Será que a nossa bondade está sendo conhecida por todos os seres humanos?
Será que a nossa bondade está frutificando alegria por onde passamos?
Será que nossas necessidades são maiores que as necessidades de nossas irmãs e irmãos, descartadas e descartados da sociedade, ao ponto de não sermos pessoas boas?
“Alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos no Senhor (2x). Alegrai, alegrai, alegrai-vos no Senhor. (2x).
EVANGELHO
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 3,10-18
O que devemos fazer? É a pergunta que nós também fazemos todos os dias de nossas vidas quando estamos frente à frente com a discriminação, com o preconceito, com o ódio, com o racismo, com o fundamentalismo, com o fanatismo, com a intolerância, com o descarte de seres humanos e de seres vivos.
A conversão, que é o pano de fundo do Evangelho de hoje, é um convite a alegria, é um convite a uma ressignificação de vida e de profissão. É uma atualização do que fazemos a partir do coração de Deus.
Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil6: “A pregação de João é carregada de esperança. [...] João desafia para uma verdadeira conversão que se expressa em ações concretas. Não basta ser do povo de Deus. Não basta ser batizado e crismado, diríamos nós. Deus não olha só para isso. Quem pertence a este povo não tem passagem garantida para dentro da casa. Pode ficar para trás. Outros podem ser incluídos na caminhada. O que importa é a vivência da conversão. Também não basta receber o batismo e a crisma. Importante é vivê-los na prática. Aí vem a pergunta: que significa viver a conversão? Que se deve fazer? É uma pergunta que as pessoas fazem a João Batista. É uma pergunta que as comunidades de Lucas muitas vezes se fazem. Também hoje nos perguntamos sobre isso. João dá indicações concretas: partilhar as coisas com quem precisa, não ser corrupto nem corruptor, não praticar extorsão, não denunciar falsamente e não ter aspirações de riqueza (Lc 3,10-14). É interessante: as pistas de ação que João dá vão todas na linha da justiça, da partilha e da defesa dos fracos. Essas são características do Reino que Lucas gosta de acentuar” (CNBB, 1998, p. 60-62).
José Antonio Pagola7, a respeito de João Batista argumenta: “João não se considerou nunca o Messias dos últimos tempos. Ele era apenas aquele que iniciava a preparação. Sua visão era fascinante. João pensava num processo dinâmico com duas etapas bem diferenciadas. O primeiro momento seria o da preparação. Seu protagonista é o Batista e terá como cenário o deserto. Esta preparação gira em torno do batismo no Jordão: é o grande sinal que expressa a conversão a Deus e a acolhida de seu perdão. Viria em seguida uma segunda etapa que ocorreria já dentro da terra prometida. Não será protagonizada pelo Batista, mas por uma figura misteriosa que João designa como “o mais forte”. Ao batismo de água sucederá um “batismo de fogo” que transformará o povo de forma definitiva e o conduzirá a uma vida plena. Quem exatamente virá depois do Batista? João não fala com clareza. Sem dúvida é o personagem central dos últimos tempos, mas João não o chama de Messias nem lhe dá título algum. Apenas diz que é “aquele que há de vir”, aquele que é “mais forte” do que ele. Estará pensando em Deus? Na tradição bíblica é muito comum chamar a Deus “o forte”; além disso, Deus é o Juiz de Israel, o único que pode julgar seu povo ou infundir seu Espírito sobre ele. No entanto, resulta estranho ouvi-lo dizer que Deus é “mais forte” do que ele ou que ele não é digno de “desatar as correias de suas sandálias”. Provavelmente João esperava um personagem ainda por chegar, por meio do qual Deus realizaria seu último desígnio. Não tinha uma ideia clara de quem haveria de ser, mas esperava-o como mediador definitivo. Já não virá “preparar” o caminho para Deus, como João. Chegará para tornar realidade seu juízo e sua salvação. Ele levará à sua conclusão o processo iniciado pelo Batista, conduzindo todos ao destino escolhido por uns e outros com sua reação perante o batismo de João: o juízo ou a restauração. É difícil saber com precisão como o Batista imaginava aquilo que iria acontecer. A primeira coisa nesta etapa definitiva seria, sem dúvida, um grande juízo purificador, o tempo de um “batismo de fogo”, que purificaria definitivamente o povo, eliminando a maldade e implantando a justiça. O Batista via como iam se definindo dois grandes grupos: aqueles que, como Antipas e seus cortesãos, não escutavam o chamado ao arrependimento e aqueles que, vindos de todas as partes, haviam recebido o batismo, iniciando uma vida nova. O “fogo” de Deus julgaria definitivamente seu povo. João utiliza imagens agrícolas muito próprias de um homem de origem rural. Imagens violentas que sem dúvida causavam impacto nos camponeses que o ouviam. Via Israel como a plantação de Deus que necessita de uma limpeza radical. Chega o momento de eliminar os arbustos inúteis, cortando e queimando as árvores que não dão frutos bons. Só permanecerão vivas e em pé as árvores que dão fruto: a autêntica plantação de Deus, o verdadeiro Israel. João vale-se também de outra imagem. Israel é como a eira de um povoado onde há de tudo: cereais, poeira e palha. É necessária uma limpeza completa para separar o grão e armazená-lo no celeiro e recolher a palha, e queimá-la no fogo. Com seu juízo, Deus eliminará tudo o que não serve e recolherá limpa sua colheita. O grande juízo purificador desembocará numa situação nova de paz e de vida plena. Para isso não basta o “batismo do fogo”. Joao espera, além disso, um “batismo com espírito santo”. Israel experimentará a força transformadora de Deus, a efusão vivificante de seu Espírito. O povo conhecerá por fim uma vida digna e justa numa terra transformada. Viverá uma aliança nova com seu Deus (PAGOLA, 2012, p. 96-98).
E assim, lembramo-nos do Padre Zezinho8, quando canta:
Quando a gente encontra Deus
Todo dia lhe pede perdão
E do fundo do seu coração
Se entrega a Deus e nele confia
Quando a gente encontra Deus
Quando encontra de verdade a grande luz
Diz o que disse João, apontando Jesus
A verdade, não sou eu
E também não sou o caminho
Sou apenas uma seta
Sou apenas um profeta
Retomando José Antonio Pagola9, que nos diz: “A pregação do Batista sacudiu a consciência de muitos. Aquele profeta do deserto estava dizendo-lhes em voz alta o que eles sentiam no seu coração: era necessário mudar, voltar para Deus, preparar-se para acolher o Messias. Alguns se aproximaram dele com esta pergunta: “O que podemos fazer?”. O Batista tem as ideias muito claras. Não lhes propõe acrescentar novas práticas religiosas à sua vida. Não lhes pede que permaneçam no deserto fazendo penitência. Não lhes fala de novos preceitos. O Messias precisa ser acolhido olhando atentamente para os necessitados. Ele não se perde em teorias sublimes nem em motivações profundas. De maneira direta, no mais puro espírito profético, resume tudo numa fórmula genial: “Quem tiver duas túnicas reparta-as com quem não tem; e quem tiver comida faça o mesmo”. E nós, o que podemos fazer para acolher o Cristo nesta sociedade em crise? Antes de mais nada, esforçar-nos muito mais para conhecer o que está acontecendo: a falta de informação é primeira causa de nossa passividade. Por outro lado, não tolerar a mentira ou o encobrimento da verdade. Precisamos conhecer, em toda a sua crueza, o sofrimento que está sendo produzido de maneira injusta entre nós (PAGOLA, 2019, p. 251).
Hoje iniciamos a novena de Natal. A partir de agora estamos grávidos e grávidas deste Deus que sempre está com cada um, cada uma de nós. Que nunca nos abandona. Nossa espera por Jesus de Nazaré é repleta de esperança!
E com o saudoso Reginaldo Veloso10 cantamos alegres:
Dizei, gritai aos corações desanimados:
não tenham medo! Criem coragem, que Deus já vem!
Deus de vocês, Ele vem vindo para julgar.
Divino prêmio consigo traz, vem libertar!
Nesta espera feliz, recordo uma frase do querido amigo e irmão Leonardo Boff: "Todo menino quer ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser Deus. Só Deus quis ser menino”.
Um Feliz e Santo Natal!
Amém! Axé! Awirê! Aleluia!
ARTE-VIDA: Luís Henrique Alves Pinto
Emerson Sbardelotti
Simplex agricola ego sum in regnum vitae
Notas
1. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eLRSPh-qSRs>. Acesso em: 13 dez. 2024.
2. SCHÖKEL, L. Alonso. DIAZ, J.L. Sicre. Profetas I – Isaías / Jeremias – Grande Comentário Bíblico. São Paulo: Edições Paulinas, 1988.
3. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RQG7vHdEABo>. Acesso em: 09 dez. 2024.
4. FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelli Gaudium – A Alegria do Evangelho sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual – Documentos do Magistério. 5.ed. São Paulo: Paulus; Edições Loyola, 2015.
5. BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos Anos A, B, C, Festas e Solenidades. 5.ed. São Paulo: Paulus, 2010.
6. CNBB. Hoje a Salvação entra nesta Casa – O Evangelho de Lucas. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 1998.
7. PAGOLA, José Antonio. Jesus Aproximação Histórica. 5.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2012.
8. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=34xskKb02q0>. Acesso em: 13 dez. 2024.
9. PAGOLA, José Antonio. A Boa Notícia de Jesus – Roteiro Homilético Anos A, B e C. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.
10. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=v6b2EiLoTa4>. Acesso em: 13 dez. 2024.
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