Ataques aos povos Ava Guarani, Guarani Kaiowá e Kaingang

11 de Agosto de 2024

[Por: Joaquim Armindo]




Os ataques criminosos contra os povos Ava Guarani, Guarani Kaiowá e Kaingang, continuam de uma forma coordenada. São cercos, incêndios, invasão de aldeias, despejos, indígenas baleados, raptos, mesmo com a presença de autoridades federais, continuam criminosos a fazer-se sentir no seio destes povos.

 

O povo Ava Guarani, de origem do século XIII, encontra-se espalhado pelo Paraguai, Argentina, Bolívia e Brasil, neste nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Falam o guarani e já tinham “descoberto” a sua terra, muito antes dos “descobridores” portugueses ou espanhóis, que os reduziu à escravidão, eram “médicos” com plantas e ervas e comunicavam com os espíritos dos seus antepassados. A sua religião é a nativa e as suas danças e a bebida feita com milho fermentado, fortalece a sua ligação com o divino e, curiosamente, com o cosmos. O cuidado da terra lhes foi confiado por seu criador Ñande Ru Guasú (Nosso Grande Pai), entidade superior que se retirou após a criação para lugares inacessíveis ao homem. Subsistem com a caça e a agricultura mandioca doce, muitas variedades de milho, batata-doce, feijão, amendoim e criam galinhas, porquinhos-da-índia e porcos e o mel. No Brasil este povo sofreu usurpações dos seus territórios ancestrais e o clima de impunidade e de cerco permanente, pelas mãos de “pistoleiros” contratados pelos latifundiários, foi na década de 1980, que os Ava Guaraní começaram a se organizar para reivindicar os seus territórios nos espaços políticos nacionais, criando movimentos de reivindicação territorial. Tradicionalmente, entre os Ava Guaraní há uma notória divisão sexual e etária do trabalho: os homens caçam, pescam, ou dedicam-se à confeção de artigos têxteis (sacos de caraguatá -fibra têxtil agora muito usada pelos estilistas ) ou de cestaria. Meninas e meninos também confecionam cestos, enquanto o trabalho tipicamente feminino entre os Ava Guaraní é a cerâmica. A sua população no Brasil será cerca de 45 000 pessoas e vivem em comunidades de 150 a 200 pessoas.

 

O povo Guarani Kaiowá existe em Mato Grosso do Sul e na Argentina, habitando uma zona florestal e tropical, numa reserva que lhes foi destinada em 2003 depois de muitas lutas, serão no Brasil cerca de 30 000. Embora existam cristãos a sua religião dominante vê a terra como muito importante e o seu deus Ñande Ru os criou, eles são profundamente espirituais. Chamam “Terra sem Mal”, a uma porção de terra onde enterram os seus mortos, sendo muito importante que todos sejam lá enterrados, por isso para este povo é fundamental para serem felizes a conservação desta “terra sagrada”. Cultivam as suas terras e o fundamental é viverem felizes. Pedem insistentemente que ao lhes tirarem as suas terras, sagradas, então que os matem todos e os enterrem.

 

O povo Kaingang, homens da floresta, existe no centro-sul do Brasil, possui língua própria e foram os primeiros consumidores de erva-mate . Antigamente eles não processavam as folhas, mas as consumiam frescas. Vivem em grupos de 200 pessoas e onde abundam pinheiros cujos pinhões comem. Eles os amarravam em um fio que colocam na cintura e as comem durante todo o dia. Caçam veados, antas, macacos e aves e cultivam milho, feijão e abóboras. As suas lutas foram contra os colonizadores espanhóis e agora contra quem lhes quer tirar as suas terras.

 

Hoje, capangas tentam tirar as terras a estes povos, segundo o CIMI (
Conselho Indigenista Missionário)
, “quase uma dezena de camionetas se posicionaram trazendo homens nas caçambas (recipientes), que rapidamente se espalharam em um perímetro ofensivo ao grupo Guarani Kaiowá.” Na tomada das suas terras foram identificados veículos pertencentes a invasores, que assassinaram indígenas e feriram muitos com armas de fogo. Incêndios e falta de esperança nas autoridades ocorreram em todas as terras destes povos e as forças de defesa federais não prestam o apoio necessário. “Os relatos são dramáticos e revelam o sentimento de impotência dos indigenistas diante das graves violações presenciadas.” Denunciam estes povos: “A Força Nacional vem aqui e diz que a gente está bêbada. Isso é mentira. No norte da aldeia teve indígena baleado. Esse pessoal estava junto com a Força Nacional. Nós queremos segurança. Sabemos que a área não está homologada, mas essa é nossa demanda de território tradicional. Não queremos guerra, mas nossos direitos”, dizem as lideranças dos povos.

 

Joaquim Armindo

Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental

Diácono do Porto – Portugal

 

Imagem: https://climainfo.org.br/2024/07/15/povos-guarani-kaiowa-ava-guarani-e-kaingang-sofrem-ataques-armados-em-tres-estados/

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