10 de Marzo de 2024
[Por: Luiz Cláudio Cunha | Caderno IHU ideias]
O judeu assassinado e o judeu assassino. Oitenta anos separam essa brutal metamorfose de um povo perseguido em 1943 pela barbárie nazista na Polônia e convertido, em 2023, em um Estado vingativo que bombardeia impiedosamente hospitais, escolas, ambulâncias, mesquitas, mulheres, crianças e dois milhões de civis inocentes no enclave palestino de Gaza. A dramática inversão de papéis dos judeus atacados no Gueto de Varsóvia para os judeus atacantes no Gueto de Gaza – a inacreditável degeneração do judeu perseguido para o papel de judeu perseguidor – marca talvez o pior retrocesso moral e ético dos princípios civilizatórios de um povo no curto espaço das últimas oito décadas da Humanidade.
A impensável conversão de Israel ao horror nazista tem agora um pretexto de sangue e terror. O silêncio da manhã ensolarada de terça-feira, 7 de outubro, foi quebrado pelo silvo de aproximadamente três mil foguetes disparados de Gaza pelo grupo militar islâmico Hamas sobre a fronteira sul e cidades próximas de Israel, incluindo a capital, Tel-Aviv, apenas 70 km ao norte. Eram tantos foguetes no ar que o poderoso “Domo de Ferro”, o sistema antimíssil de defesa de Israel que detecta alvos a até 70 km, ficou sobrecarregado e impotente diante de tantas ameaças desabando dos céus.
O pior viria a seguir. Os foguetes ainda fumegavam no ar quando um punhado de 1.500 homens da brigada Al-Qassam, o braço armado e terrorista do Hamas, ultrapassou as cercas da fronteira com tratores, motos e parapentes com duplas armadas de metralhadoras para o maior e mais brutal ataque ao território de Israel desde sua fundação, em 1948. Em poucas horas, em ação abominável, os terroristas massacraram quase 1.200 homens, mulheres e idosos, incluindo 33 crianças, numa operação que tinha como alvo indefesos civis israelenses, não militares. Quando retornaram a Gaza, os atacantes do Hamas levaram 240 reféns, incluindo 40 crianças. Foi o maior atentado terrorista no mundo desde o 11 de setembro de 2001, quando 19 membros da Al-Qaeda de Bin Laden sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos – atingindo entre eles as torres gêmeas de 110 andares do World Trade Center, em Nova Iorque. Naquele dia morreram 2.996 pessoas em quatro ataques, incluindo os 19 terroristas.
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