Meu amigo Pedro  

08 de Agosto de 2023

[Por: Emerson Sbardelotti]




Querido e amado Pedro, quanta saudade de você meu amigo.

 

3 anos de sua Páscoa, e sua presença física me faz muita falta, por conta de nossas conversas, nossas risadas, nossos olhares, tudo em relação à vida que nos cercava e cerca.

 

Continuo vivendo a Espiritualidade da Libertação e a Teologia que dela nasce por causa das Causas do Reino, por causa de Jesus de Nazaré, do jeito que você me explicou, me ensinou.

 

Acordei esta manhã e fui rezar o Ofício Divino das Comunidades e o Hino que cantei foi AQUI ESTÃO OS PROFETAS (Ricardo Canta la Piedra) que você fez a versão e que está em uma das cenas do filme O ANEL DE TUCUM (Verbo Filmes). Por um momento precisei parar, pois as lágrimas vieram.

 

Sabe Pedro, não tem sido fácil. O ódio ainda está presente, o clericalismo e o fanatismo religioso a cada dia aumentam mais em nossas comunidades, paróquias e dioceses; a sensação é que o Vaticano II nunca foi colocado em prática; e continuam perseguindo os teólogos e teólogas da libertação, o nome mais bonito que nos xingam é o de hereges. Dou risada e sigo em frente. Tem hora que cansa. E nessa hora me lembro do que você me dizia em sua casa: "O caminho se faz caminhando...caminhe". 

 

Lembra dessa nossa foto Pedro? 

 

Foi em 2002, no Memorial da América Latina, em São Paulo, onde você me entregou o Prêmio Páginas Neobíblicas da Agenda Latino-Americana Mundial, e eu lhe presenteei com um CD com Jongos das Bandas de Congo da Serra-ES. Gosto muito dessa foto, pois nós dois estávamos muito bem. Nesse dia nos abraçamos como irmãos e amigos e você me deu um beijo paternal. Meu coração se encheu de alegria, pois eu estava abraçando e sendo abraçado pelo Pedro, aquele bispo que por causa do seu compromisso com os pobres havia sido ameaçado de morte muitas vezes; o mesmo Casaldáliga que eu havia lido em vários livros e aprendido a reconhecer Jesus de Nazaré nas pessoas excluídas, deixadas à margem e amá-las;  o Pedro Casaldáliga - pastorprofeta - que sempre foi um exemplo para mim e para tantos e tantas por essa América Latina e Caribe. E disso jorrou uma grande amizade e irmandade.

 

Foi nesse lançamento da Agenda que você confirmou o meu apelido: DIVINO IMPACIENTE. 

 

Continuo impaciente com as injustiças, com o racismo, com o preconceito, com o fundamentalismo e o fanatismo religioso, com o clericalismo: cânceres atuais da humanidade.

 

Tenho tantas lembranças de nós dois, na sua casinha em São Félix do Araguaia, nos meses que convivi com você e com nossa querida e amada Ir. Irene. Jantando com vocês, olhando para vocês dois, eu falei: "Vocês me lembram Francisco e Clara". Vocês riram. Rimos juntos. Mas, era verdade!

 

Certa manhã, você pediu que eu dirigisse para você até a rádio local para participar de um programa. Lembro-me que era uma mensagem de Natal, e você falava da importância da defesa da Vida, de todas as Vidas. E que tudo era Páscoa! Perguntei ao programador da rádio, se aqueles programas que o Pedro participava eram gravados para arquivo, e ele apenas balançou a cabeça negativamente, e eu sussurrei: "que pena". Talvez, se tivessem sido gravados, teríamos hoje um grande número de mensagens de esperança e teimosia em favor da Vida.

 

Dali da rádio, fomos visitar algumas pessoas que estavam doentes e elas ficavam felizes ao ver o "padre Pedro" ou simplesmente "Pedro". E você, Pedro, levava para elas uma palavra de profundo conforto e esperança. A partir daquele dia, fui em muitas visitas com você.

 

Me lembro de sentar ao seu lado para responder à inúmeras entrevistas que solicitavam. Uma, inclusive, era de uma associação de cabos e soldados, que você foi respondendo com carinho. Depois, fomos para a mesa onde você ia lendo as diversas cartas que chegavam de todo o Brasil e de fora do país. E você lia e respondia na medida do possível, sempre com uma ternura incrível.

 

As celebrações na Capelinha com os/as agentes de pastoral, era uma alegria. 

 

O que mais me impressionava, era acordar por volta das 05:30 e você já estava de pé e rezando, depois eu ia e me aproximava, rezávamos juntos. Aprendi com você a alimentar-me da oração diária para enfrentar os problemas da vida e agradecer a Deus pelas soluções.

 

3 anos já se passaram amigo Pedro...3 anos...O Papa Francisco continua insistindo em uma Igreja dos Pobres, em saída, samaritana, misericordiosa, madalênica, amazônica, profética... nós somos poucos, mas estamos com ele.

 

Se você puder, fala com Jesus para continuar ajudando o Chiquinho, ele merece.

 

Saudades de você!

 

Abreijos com Fraternura, Pedro.

 

Na paz!

 

PS.: Resolvi cantar uma canção sua com Frei Mingas. Espero que goste:

 

https://www.youtube.com/watch?v=vtWtQjXV73s

 

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