Titãs encontro: “todos ao mesmo tempo agora”

28 de Junio de 2023

[Por: Emerson Sbardelotti]




Praça do papa – vitória/es – 23/06/2023

 

Acordei neste sábado, 24 de junho de 2023, dia de São João Batista, dia de acender a fogueira para iluminar e aquecer a noite de frio, ouvir muito Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Marinês e Sua Gente... enfim, o que há de melhor na legítima e autêntica música popular nordestina que embala as verdadeiras festas juninas. Adoro festa junina, desde que não tenha o chamado sertanejo universitário, cada um no seu quadrado.

 

Mas, vamos ao que interessa:

 

Ontem, tive a experiência única de assistir pela 10ª. vez um show dos Titãs... aleluia... 4 vezes com a formação clássica. Tive a sensação, quando anunciaram essa série de shows, que estavam se reunindo para comemorarem a amizade de uma vida inteira e também a recuperação do Branco Mello, curado de um tumor na garganta... mesmo com a ausência do querido e aglutinador Marcelo Frommer. Ao olhar os Titãs remanescentes no palco, senti que tenha sido o Marcelo, que tocando sua divina guitarra tenha inspirado os Titãs, a se encontrarem mais uma vez, depois de tantos anos longe... para quem não sabe, ultimamente, os Titãs são um trio: Sergio Britto, Toni Belotto e Branco Mello, porém, o faça você mesmo de 40 anos atrás continua presente; contudo, a emoção de ver os 7 no palco, é algo indescritível, que salta aos olhos, preenche a alma e acalanta o coração. Afinal, o repertório escolhido é esmagador, furioso, profético, contestador... parece ter saído do forno hoje.

 

Os Titãs contam com o auxílio luxuoso do Mutante Liminha, que gravou tudo e todos nesta nossa Música Popular Brasileira, tocando violões e guitarras na ausência do Marcelo Frommer; nada mais justo: um Mutante no meio dos Titãs, juntos e misturados!

 

Nem parece que chegaram e passaram dos 60 anos; tamanha a vitalidade, energia e simpatia em mais de 2 horas de show.

 

Os sucessos titânicos, do show que tem percorrido o Brasil, tem sua base no inigualável divisor de águas Cabeça Dinossauro, de 1986, com 10 canções. Seguido de Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, de 1987, com 6 canções. Na sequência: Õ Blesq Blom, de 1989, com 4 canções; Acústico Volume 2, 1998, com 3 canções; Go Back ao Vivo, de 1988, com 2 canções; Acústico MTV, de 1997, com 2 canções; Titãs, 1984, com 1 canção; Televisão, 1984, com 1 canção; Tudo ao Mesmo Tempo Agora, de 1991, com 1 canção; A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, de 2001, com 1 canção.

 

Fica nítido que o repertório procurou priorizar aqueles álbuns em que Arnaldo Antunes estava na banda. A harmonia entre eles no palco é impressionante: só de se olharem já sabem o que irão fazer.

 

O repertório arrasador:

 

1.    Diversão (Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, 1987).

2.    Lugar Nenhum (Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, 1987).

3.    Desordem (Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, 1987).

4.    Tô Cansado (Cabeça Dinossauro, 1986).

5.    Igreja (Cabeça Dinossauro, 1986).

6.    Homem Primata (Cabeça Dinossauro, 1986).

7.    Estado Violência (Cabeça Dinossauro, 1986).

8.    O Pulso (Õ Blesq Blom, 1989).

9.    Comida (Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, 1987).

10.  Jesus Não tem Dentes no País dos Banguelas (Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, 1987).

11. Nome aos Bois (Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, 1987).

12. Eu Não Sei Fazer Música (Tudo ao Mesmo Tempo Agora, 1991).

13. Cabeça Dinossauro (Cabeça Dinossauro, 1986).

14. Epitáfio (A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, 2001).

15. Os Cegos do Castelo (Acústico MTV, 1997).

16. Pra Dizer Adeus (Acústico MTV, 1997).

17. Toda Cor (Acústico Volume 2, 1998).

18. Não Vou Me Adaptar (Acústico Volume 2, 1998).

19. Família (Cabeça Dinossauro, 1986).

20. Go Back (Go Back ao Vivo, 1988).

21. É Preciso Saber Viver (Acústico Volume 2, 1998).

22. 32 Dentes (Õ Blesq Blom, 1989).

23. Flores (Õ Blesq Blom, 1989).

24. Televisão (Televisão, 1984).

25. Porrada (Cabeça Dinossauro, 1986).

26. Polícia (Cabeça Dinossauro, 1986).

27. AA UU (Cabeça Dinossauro, 1986).

28. Bichos Escrotos (Cabeça Dinossauro, 1986).

29. Miséria (Õ Blesq Blom, 1989).

30. Marvin (Go Back ao Vivo, 1988).

31. Sonífera Ilha (Titãs, 1984).

 

Todos ao Mesmo Tempo Agora é um show imperdível. Quem não foi tem que ir. A estrutura utilizada pelos Titãs para o seu Encontro, é nível The Rolling Stones! É grandiosa, potente, titânica. Acredito que os Titãs elevaram mais uma vez o nível das apresentações musicais de bandas nacionais com muitos anos de estrada. Penso que será impossível uma banda de rock, hoje no Brasil, depois deste Encontro dos Titãs continuar fazendo shows com uma estrutura inferior a esta que está sendo mostrada por todo o Brasil. Quem assistiu o show na Multishow e na Globoplay não fez nem metade da experiência do que presenciar ao vivo a catarse que é. Todas as nossas emoções e tensões são liberadas, pois, os Titãs voltaram para mostrar que continuam gigantes e fortes. 

 

Não é exagero nenhum afirmar que disparadamente é o melhor show de rock que assisti nos últimos anos, e ficará guardado na minha memória, na minha alma e no meu coração até o fim dos meus dias. A carga afetiva de toda uma vida passou na frente dos meus olhos em cada música cantada por Arnaldo Antunes, Branco Mello (com uma nova voz, diferente daquela que havíamos nos acostumado, porém, uma voz feliz e viva...bem viva), Nando Reis, Paulo Miklos e Sergio Britto. 

 

A cada canção uma lembrança de momentos vividos naqueles dias da redemocratização do país, onde a sombra maléfica da ditadura militar e da censura pairava no ar. Os Titãs enfiaram o pé na porta e mostraram que é possível fazer música de qualidade com contestação e poesia. Talvez, tenha sido essa fórmula que tenha me ajudado a me levantar todas as vezes que tropecei e cai.

 

Sobre os erros técnicos no show: o microfone que deixou Sergio Britto na mão durante a execução de Homem Primata, logo socorrido por Paulo Miklos, que cedeu o seu microfone. No meio do show, na execução de Go Back, Paulo Miklos teve problemas com o teclado de Sergio Britto na introdução da canção, sendo rapidamente socorrido por Sergio Britto. No mais, o show foi impecável.

 

A participação de Alice Frommer, filha do Marcelo Frommer, foi como a cereja no bolo de chocolate; graciosa e simpática, Alice conquistou os/as fãs presentes na Praça do Papa; foi apresentada por Arnaldo Antunes, visivelmente emocionado, para cantarem juntos Toda Cor e Não Vou Me Adaptar 

 

Toni Belotto apresentou Liminha que agradeceu pela oportunidade de estar fazendo a turnê com os Titãs, e ao público que tem lotado todos os shows.

 

Charles Gavin surpreendeu os/as capixabas ao usar a camisa da Desportiva Ferroviária e do Rio Branco, times capixabas. Charles sempre discreto e pulsante. O coração da banda. Antes do início do show, se aproximou da frente do palco para conversar com este que vos escreve, a simpatia em pessoa.

 

Sinto ter presenciado algo único, arrebatador. 

 

Esse Encontro com os Titãs, em sua formação clássica, mexe profundamente com cada um, cada uma que assiste, assistiu ou assistirá o show. Quem de fato entende a poesia contida nestas canções sai totalmente transformado do show. Eu saí modificado, livre, leve e solto. Os Titãs me deixaram inteligente demais.

 

Desejo, do fundo do meu coração, que os Titãs se encontrem outras vezes, para nossa alegria. Ouso sugerir que aproveitem toda essa harmonia, sintonia e alegria que mostram no palco e façam um novo álbum justamente chamado Encontro.

 

Vida longa Arnaldo, Branco, Charles, Nando, Paulo, Sergio, Toni.

Vida longa Titãs!

Titãs! Titãs! Titãs!

 

Emerson Sbardelotti

Procesar Pago
Compartir

debugger
0
0

CONTACTO

©2017 Amerindia - Todos los derechos reservados.