[Por: Emerson Sbardelotti]

PRIMEIRA LEITURA

Leitura dos Atos dos Apóstolos 1, 1-11.

Se no Evangelho de Lucas temos a práxis de Jesus – do início de sua missão até sua ascensão – no livro dos Atos dos Apóstolos temos a práxis cristã. A começar pelo nome que aparece logo no início da leitura de hoje: Teófilo. Teófilo significa amigo de Deus. Esta leitura de hoje convida a todos, todas nós a sermos amigos e amigas de Deus, pois este nome identifica e caracteriza todos os cristãos e cristãs.

O ponto alto da leitura é o fato o Espírito Santo que esteve presente em toda a caminhada de Jesus de Nazaré, agora estará presente na caminhada das comunidades. É o Espírito Santo que nos faz caminhar no seguimento de Jesus de Nazaré.

Somos convidados, convidadas a fazermos uma experiência plena deste Jesus de Nazaré ressuscitado, pois será desta intimidade que encontraremos forças para darmos um verdadeiro testemunho cristão, vivermos a missão e evangelizar espalhando a Boa Nova de Jesus de Nazaré.

Em comunidade reunida enquanto anunciamos o Reino de Deus, aguardaremos os sinais dos tempos. A partir de Jerusalém para os confins de todo o mundo, a mensagem será levada. O Projeto de Deus está aberto para todos, para todas.

SALMO RESPONSORIAL 46(47), 2-3.6-7.8-9 (R. 6).

O Salmo de hoje é um hino de louvor à realeza de Deus.

Carlos Mesters^[1] explica que “o salmo canta o poder de YHWH como rei de todas as nações. O reinado de Deus se manifesta na fidelidade de seu povo à Aliança. O povo é o instrumento de Deus para que o Reino se estabeleça em todo o universo. Existe certa ambivalência na maneira de se entender esta escolha do povo de Israel como Povo de Deus. Vista como privilégio de honra, a escolha pode tornar-se fonte de arrogância, de autossuficiência e de opressão. Vista como serviço à humanidade, ela pode tornar-se fonte de honra e de salvação”.

José Bortolini^[2] diz que “A palavra Deus aparece sete vezes. Frequentemente esse número significa totalidade. Deus, portanto, é o rei de toda a terra. Este salmo nasceu de celebrações em torno da realeza do Senhor. Por trás do salmo é possível perceber uma caminhada. De acordo com ela, Deus sobe, não só simbolicamente, mas também em sentido real. Talvez a procissão subisse para os pontos altos da cidade de Jerusalém (Templo), aclamando que Deus é rei de toda a terra”.

SEGUNDA LEITURA

Leitura Carta de São Paulo aos Efésios 1, 17-23.

Segundo José Bortolini: “A carta aos Efésios é um texto que Paulo (ou um discípulo seu) escreveu para diversas comunidades dos arredores de Éfeso. Parece que Paulo não conheceu essas comunidades. Ele só esteve em Éfeso (cf. At 19-20), onde deu início a uma comunidade cristã que, por sua vez, fez surgir comunidades nos arredores (por exemplo, a comunidade de Colossas, fundada por Epafras, colaborador de Paulo). Paulo estava preso. Teve notícias do surgimento dessas comunidades, de sua firmeza na fé do amor que unia a todos, e da esperança que animava suas lutas. Mas ficou sabendo também de alguns riscos trazidos pelas filosofias do tempo, que pregavam um Deus afastado e ausente da vida das pessoas; só através de entidades intermediárias (soberanias, poderes, forças, dominações) é que se podia ter acesso a Deus. Jesus não passaria de uma dessas entidades intermediárias. Isso trazia consequências sérias para toda a vida cristã. Paulo não polemiza contra as entidades intermediárias. Simplesmente mostra às comunidades que existe um único Senhor, que realizou o projeto do Pai, e que esse Senhor está presente na história e na vida dos fiéis. A comunidade cristã é o espaço no qual se revela o projeto de Deus, a realeza absoluta do Cristo ressuscitado”.

EVANGELHO

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 28, 16-20.

O trecho de hoje, é a conclusão do Evangelho de Mateus que apresentou Jesus de Nazaré como Deus conosco = Emanuel, como o Semeador do Reino, como o Mestre da Justiça; portanto, Aquele que se revela na práxis da comunidade cristã.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil^[3] afirma: “A comunidade convocada se reúne na Galileia, local do primeiro anúncio do Reino, sobre o monte, o que lembra a Nova Lei proclamada por Jesus. Agora, vão ouvir a palavra do Senhor glorioso. Os discípulos se ajoelham diante de Jesus, numa atitude de adoração. Mateus faz uma catequese para ajudar os seguidores e seguidoras de Cristo a amadurecer na fé. Mateus elabora o discurso pós-pascal em torno de três elementos da revelação de Jesus Ressuscitado: A) Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra (28,18). Trate-se do poder divino ilimitado e universal praticado, de maneira limitada, por Jesus durante sua vida, ao ensinar; perdoar pecados; propor uma nova forma de culto e dialogar com o Pai na oração. O seu poder nunca foi usado em benefício pessoal ou para dominar as pessoas, como lhe sugeriu o diabo nas tentações. Jesus sempre usou o seu poder para executar e proclamar a vontade do Pai para concretizar, aqui e agora, o seu Reino. A comunidade sabia que também havia recebido todos esses poderes e era portadora da semente do Reino entregue por Jesus. A ressurreição abre esse mundo novo. Jesus é o Senhor da História. B) Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês (28,19-20a). Com esse poder, Jesus envia a comunidade dos seus seguidores e seguidoras ao mundo a todos os povos, para continuar sua missão anunciada pelos profetas. As pessoas se tornam discípulas, ou seja, entram em relação com Jesus, pelo batismo e pela obediência a seus ensinamentos. Não basta os sacramentos, é preciso a prática. Pelo fruto se conhece a árvore... O Ressuscitado é o mesmo Jesus de Nazaré. Sua palavra não é nova, seu poder é novo, ele tem autoridade divina. Reconhecer sua ressurreição e seu senhorio de Filho de Deus é seguir sua prática. Portanto, a ressurreição é um prolongamento do Jesus histórico. Uma fé de ôba, ôba, de celebrações e ritos vazios é uma contradição com Jesus Ressuscitado. Sua ressurreição, longe de nos tirar da história, nos leva a encarnar na vida concreta a sua prática do amor e da misericórdia. C) Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo (28,20b). Após o mandamento da missão, Jesus promete aos seus sua presença contínua. O judaísmo formativo ensinava que Deus estava presente no meio daqueles que observavam rigorosamente a Lei. Jesus garante sua presença no meio daqueles que põem em prática a sua Palavra. Jesus está presente no duro caminhar das comunidades com a força da ressurreição. Jesus Ressuscitado não é um fantasma. Ele é o mesmo Jesus da Galileia, Messias dos impuros, excluídos e excluídas. Ressuscitar é seguir esse Jesus, Semeador do Reino, com a prática da nova justiça a partir da misericórdia e da solidariedade”.

A comunidade retratada por Mateus em seu Evangelho aparece bem semelhante às nossas comunidades espalhadas por todo o Brasil, ela é rica de dois mil e vinte e três anos de tradição, reunida em torno de Jesus de Nazaré, proclamado e servido na liturgia. A Igreja está para o mundo, é a Igreja em saída. A Igreja sabe que ela não é o Reino, mas é sinal do Reino no mundo, que é o lugar onde o Filho do Homem exerceu em plenitude sua misericórdia, seu amor e sua justiça. A Igreja é a união de pessoas que seguem Jesus de Nazaré e procuram viver as virtudes deixadas pelo Mestre: o perdão, o amor e a misericórdia.

A grande segurança e esperança que temos é que, em Jesus de Nazaré, Deus é infinitamente e definitivamente Deus conosco!

Amém! Axé! Awirê! Aleluia!

ARTE-VIDA: Maximino Cerezo Barredo / Luís Henrique Alves Pinto

Emerson Sbardelotti

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

^[1] MESTERS, Carlos. OROFINO, Francisco. WEILER, Lúcia. Rezar os Salmos hoje – a lei orante do povo de Deus. São Leopoldo: CEBI. São Paulo: Paulus, 2016, p. 164.

^[2] BORTOLINI, José. Conhecer e Rezar os Salmos – comentário popular para nossos dias. 5.reimp. São Paulo: Paulus, 2013, p. 198-200.

^[3] CNBB. Ele está no meio de nós! – O Semeador do Reino: o Evangelho segundo Mateus. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 207-210.