[Por: Equipo coordinador de BM]
"Jesús no les hablaba sino en parábolas, pero a sus propios discípulos,
en privado, les explicaba todo" (Mc 4,34).
Habiendo transcurrido el primer fin de semana, Bendita Mezcla decide hacer su primer alto en el camino. Los tres primeros días han sido muy cargados y necesitan ser procesados. La respiración del encuentro exige parar, tomar aire…apaciguar.
La jornada abierta en lo que denominamos Cafarnaún aguarda. Las comunidades del Bajo Lempa saben que hoy es un día para hacerse parte de la ronda. Ya pasó el desayuno, sabroso como cada día. Los vecinos que pasan por afuera, escuchan canciones que entibian el corazón. Ellos ya saben que si hay música, Bendita Mezcla está presente. Mucho se incorporan y la Minga de Teología Narrativa, se multiplica.
El día transcurrirá en tres etapas, una con cada sabedor. Juntos hacen un gran equipo. Cada uno hará su aporte, preparado de antemano, pero repensado a partir de tantas vivencias. Diego Irarrazabal, pondrá el foco en la interculturalidad insistiendo en la imagen de ‘sembrar entre culturas’. Es una intervención cargada de poesía. Su larga experiencia junto a comunidades campesinas le devolvió el lenguaje de Jesús. Diego es sencillo y profundo. Conmueve escucharlo.
A continuación, Susi Moreira nos regala una experiencia de cuerpo, territorio de Revelación. La coordina con ternura y pasión. Hay expansión y contracción. Hay un reconocimiento de la realidad, tal como es. Hay aceptación y reconciliación. Sin mediar palabra, las vivencias corporales de las jornadas anteriores parecen transfigurarse. El dolor se ilumina. El grupo también.
Cuando se retome la tercer parte, Geraldina Céspedes pondrá al grupo delante de un tema crucial: el ecofeminismo. Esta mujer afro, que ha vivido en carne propia las consecuencias del Patriarcado en la sociedad, en la iglesia y en la madre naturaleza ha dicho basta. Con filosa precisión, expone y desarma la telaraña que sostiene la matriz de explotación de los cuerpos y de la tierra. La guerra por ejemplo, que siempre es un sin sentido, comprendida desde el ecofeminismo queda completamente al desnudo. Cala hondo. El presente de la comunidad humana y de su casa común exige un nuevo paradigma, con base en el cuidado. Se percibe un deseo genuino de habitar este nuevo tiempo, con nuevas prácticas y renovada consciencia.
El cierre de la jornada es una parábola de todo lo vivido. Una espiral construida entre todos los participantes se expande y se contrae al ritmo de un gran latino del corazón. Se escucha un mantra que dice: ‘En espiral hacia el centro, al centro del corazón. Soy el tejido soy el tejedor, soy el sueño y el soñador’.
La jornada de Cafarnaún comienza su síntesis. Los hermanos y hermanas de las comunidades se retiran.
Durante la tarde y en pequeños grupos comienza un trabajo de discernimiento que en algunos casos se extenderá a lo largo de la semana. Sistematizar la experiencia significa, entre otras cosas, transformar lo vivido en una fuente de conocimiento.
El Salvador comienza revelarse. La Escuelita de Comunidad Bendita Mezcla, está decida a aprender.
VER dia 4 en: https://youtu.be/tVeb7KbRt-0
El diario de una sabedora compañera, Suzy Moreira
Segunda-feira, o dia de nosso Cafarnaum, para nos reunir na pequena comunidade de Nueva Esperanza e aprender juntos refletindo sobre a caminhada já feita e que ainda está por vir. Me enxergar sendo reconhecida e afirmada como teóloga por essa comunidade tão bella estava mexendo muito comigo. Pra mim tem valor demais eu ter sido chamada pra somar com as minhas reflexões teológicas sobre o corpo nesse encontro presencial, sendo precedida pelo grande Diego Irrarrázaval e a incrível Geraldina Céspedes. Que território sagrado, passei o dia inteiro descalça por isso. A ordem foi interculturalidade com o Diego, ecofeminismo com a Geraldina, e de tarde corporeidade comigo. Muita gente veio participar, porque a formação só tem sentido se for aberta e em comunhão com as comunidades com quem estamos partilhando esses dias.
Conforme as pessoas iam chegando, eu ficava olhando pra entrada na expectativa do tão esperado encontro com o Marco e o Víctor, dois amigos que conheci pelo Instagram e que viraram irmãos companheiros queridos da minha jornada teológica. A Rossy veio me avisar que eles estavam estacionando e eu saí rapidinho pra poder abraçar e celebrar esse encontro ainda ali na rua, sem distrair o pessoal dentro com a dinâmica que já estava começando. É muito louco se sentir tão irmã de duas pessoas que nunca tinha conhecido pessoalmente. Abraço cheio de afago, longo, íntimo, sentindo o coração, o corpo, a respiração. O frei Víctor é de El Salvador, mas pela graça divina justo essa semana em que eu estaria em seu país seria a semana de férias dele. E o Marco, sem pensar duas vezes, quando contei que estaria em El Salvador já decidiu que iria também, apesar de morar na Colômbia. Precisávamos desse encontro de nós três, partilhar presencialmente a nossa comunhão de vida e de sonhos. E que riqueza eles poderem entrar em comunhão nessa manhã com minha família da Bendita Mezcla, nem que só por essa manhã mesmo.
Diego na sua exposição falou sobre semear entreculturas e, conforme a manhã foi passando, eu fui começando a sentir cólica, pois a menstruação estava por vir. Além de ficar descalça o dia inteiro pra pisar nessa terra sagrada de nossas partilhas, fiquei com a mão na barriga pensando no meu sangue como sinal de que sou capaz de dar vida mesmo optando por não ser mãe, o território fértil da minha sensibilidade onde juntes como comunidade conceberíamos uma síntese da experiência desses dias a partir do e com o corpo, minha corpa, nossas corpas. Semeamos entreculturas nos ventres de nossas comunidades. El milagro de la vida es el compartir de la comunidad como protagonista - la solidaridad. Em seguida veio a Geraldina, com toda sua energia e carisma trazendo a beleza do ecofeminismo já com um chamado direto à corporeidade, incluindo todes numa dinâmica de despertar da consciência corporal em união com a ancestralidade e a mãe terra, pidiendo permiso a la tierra y a les ancestres. Como me encanta el ecofeminismo, reconocer que la crisis ecológica es fruto del patriarcado, denunciar las violencias y escuchar el grito eco-humano de las mujeres y de la madre tierra, vivir para cambiar desde la raiz - un cambio que viene de las bases para sacar a las injusticias sistémicas y no espera nada desde arriba. Una vida por la conversión ecológica y de género. La construcción de una sinodalidad ecológica. Bailamos sobre el patriarcado capitalista con una danza circular, letra em português ainda por cima!
Veio o almoço e tive que me despedir do Marco e do Víctor, infelizmente eles não iam poder ficar pra minha parte à tarde. Na noite anterior, a equipe escuchadores conversou com cada palestrante pra pensar na melhor dinâmica pra cada momento, pra costurar bem esse tecido do dia de formação comunitária. Meu grupo era o Fran, Manfredo de Honduras, Pame do Paraguai, e Javi do Panamá. Planejamos começar convidando as pessoas para fazer memória de suas corpas, das cicatrizes de suas corpas, pra em seguida fazermos a contemplação que eu havia preparado como exposição prática e não teórica sobre a corporeidade, e terminar fazendo memória das corpas de El Salvador. Apesar de saber qual era o plano, na hora que começamos eu fui pega de surpresa ao fazer memória da cicatriz da eu-corpa. E ainda por cima ouvir a partilha das cicatrizes de outras pessoas, mexeu demais comigo. Tanto que eu tinha pensado em falar várias coisas na minha hora de guiar a formação, mas quando chamaram meu nome eu só consegui dizer que me chamaram pra falar sobre corporeidade e juventudes, mas o que eu estaria fazendo ali era só abordar a corporeidade sendo jovem teóloga. Demorei muito pra preparar esse momento. Como costuma acontecer com meus trabalhos teológicos, eu passo um longo tempo de gestação até finalmente sair tudo de uma vez à vida.
Fiz uma adaptação do exame de consciência ecológico dos jesuítas dos EUA, pra ser uma contemplação a partir do corpo, com o corpo, refletindo sobre o corpo em conexão com o grito da Terra e o grito das pessoas injustiçadas. Gratitud, sensibilización, comprensión, conversión y reconciliación, las cinco etapas de esta contemplación. Me acuerdo de algo que Fran dijo en la pre-minga en que participé en línea, activar el cuerpo nos hace porosos. É algo que o Anselm Grun fala também no livro Rezar com o Corpo: através dos gestos de oração o corpo se torna permeável para Deus. Por isso cada uma das etapas eu pensei com muita intencionalidade sobre quais seriam as posições e movimentos do corpo, pra trazer essa permeabilidade e porosidade e assim podermos sentipensar a nossa experiência pessoal e comunitária em El Salvador. Que benção depois de dois anos de pandemia poder finalmente, e pela primeira vez, dar frutos práticos da minha dissertação de mestrado. Encerramos a contemplação com uma ciranda, ao som de Si Somos Americanos do Rolando Alarcón, música que o Diego tinha usado na parte da manhã também. Depois fizemos uma dinâmica de andar pelo espaço e parar numa posição corporal que fizesse memória de alguém ou algo que vivemos nesses dias em El Salvador. E terminamos fazendo um caracol, o núcleo sendo as pessoas anciãs que nos dão sua herança de vida, luta e memória. O momento fechou com um mantra e todes batendo a mão no peito no ritmo do coração.
Pra finalizar o dia, tendo já nos despedido das comunidades que vieram estar conosco nessa formação, nós do Bendita Mezcla nos dividimos em quatro grupos pra começar os trabalhos de sintetizar tudo que aprendemos e que ainda íamos aprender nessa minga. Cada grupo com uma forma diferente de sintetizar: o grupo das palavras, o grupo do corpo, o grupo do desenho, e o grupo da música. Fui pro grupo do corpo, obviamente, e me surpreendeu muito como foi surgindo a ideia de sintetizar tudo que vimos nesse dia através de uma pequena encenação simbólica. Fran, Iraide, Mario, Pame, Luis, Geraldina, Diego e eu queríamos denunciar a estrutura de opressão e revelar a beleza da construção conjunta da resistência com amor e cor. Diego seria o opressor e nós soldades ignorantes manipulades por ele, todes nós estreñides - a palavrinha que deu crise de riso em todo mundo enquanto bolávamos nossa encenação. Estreñido é constipado, uma forma menos pior de dizer que quem oprime tem cara de c*. Precisa de muita libertação (de ventre) essa galera mesmo!
O opressor então foi mandando cada pessoa ir compondo uma pirâmide humana, embaixo da qual haviam alguns fios de cores mortas. Pame, a última pessoa faltando, ao invés de subir na pirâmide observou a estrutura e o caráter rude do opressor, e começou a puxar um dos fios debaixo da pirâmide, logo pedindo ajuda de pessoas de fora pra puxar também. Com cada fio puxado, uma pessoa caía da pirâmide, até não restar mais nada e o opressor se encontrar enrolado preso nos fios que foram tirados. Libertos da pirâmide, nos juntamos num círculo bem fechadinho no mesmo lugar onde estavam aqueles fios raízes mortas da opressão, e abrimos o círculo puxando fios coloridos ao som de Baião Destemperado, dançando e enredando todo mundo numa grande teia colorida e festiva, chegando por fim até o próprio opressor que também precisa ser reintegrado na libertação. Eu mesma me surpreendi por chegarmos a essa percepção. Quando discutíamos sobre o que fazer com o opressor depois de acabar com a pirâmide, rolou comentário de que tinha que morrer, ou ser preso, ou algo... mas realmente, pra ser fiel à libertação e desconstrução da estrutura piramidal, até o opressor precisa ser libertado e reintegrado nas redes da vida. Mas não posso deixar de pensar que é mais fácil dito (e interpretado) do que feito na vida real.
En comunidad de escuelerxs, abrazados por las comunidades del Bajo Lempa, en perfecto espiral humano, cerramos el dia...
Equipo coordinador de BM.
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