Partilha da Palavra: 4.º Domingo do Advento – Ano A

17 de Diciembre de 2022

[Por: Emerson Sbardelotti]




PRIMEIRA LEITURA

Leitura do Livro do Profeta Isaías 7,10-14

 

A leitura de hoje nos diz que o Profeta Isaías diz para que o rei Acaz (do hebraico: ’ahaz, provavelmente uma abreviatura de Jeoacaz, “Iahweh agarra a mão”). Filho de Joatão e rei de Judá (735-715 a.EC.) peça para o Senhor teu Deus fazer um sinal. Mas Acaz recusou. Recusou, pois fazia o que era mal aos olhos de Deus.

 

Os assírios tomaram Samaria em 734 a.EC. e Damasco em 732 a.EC.; Acaz[1] salvou-se tornando-se um vassalo da Assíria. Essa política foi fortemente contestada por Isaías, que aconselhava a inatividade política e a fé em Iahweh e que se propunha a fortalecer essa fé com um sinal. Mas Acaz recusou o sinal, recebendo então o sinal do Emanuel, juntamente com a ameaça de que sua política acabaria redundando num desastre (MACKENZIE, 1984, p. 11).

 

José Bortolini[2] explica: “Apesar de o rei não pedir um sinal, Deus se adianta e, por meio de Isaías, dá um sinal de que sua fidelidade perdura para sempre: ‘A jovem concebeu e dará à luz um filho e lhe dará o nome de Emanuel’. O sinal é uma criança, provavelmente Ezequias, o filho de Acaz. Ele não vai garantir a salvação para Acaz, mas devolverá esperança ao povo. Porém, o sinal não possui espaço e tempo determinados; ele se projeta no horizonte da esperança, rompendo as barreiras do tempo. Foi assim que o povo, depois de Isaías, entendeu o oráculo, sonhando com a vinda do Messias. E os primeiros cristãos, à luz das promessas de Deus, descobriram que em Jesus a esperança do povo se realizou, e a fidelidade divina atingiu sua expressão máxima. Mateus cita esse texto a partir da versão grega chamada Septuaginta. Ela – não sabemos o motivo – em vez de “jovem”, como está no hebraico (almá), traz “virgem” (parténos)” (BORTOLINI, 2010, p. 25).

 

Acaz coloca toda a sua esperança na estabilidade política com a Assíria, que trouxe desenvolvimento econômico e prosperidade; enquanto Isaías, coloca toda a sua esperança e confiança no Deus da Aliança, que sempre livrou o povo de todos os perigos. Isaías deixa claro: O Emanuel, nossa esperança!

 

Emanuel (do hebraico: ‘imanû’el, “Deus conosco” ou “que Deus esteja conosco”). Nome dado por Isaías à criança cujo nascimento é anunciado em Is 7,10-17. 

 

Cantemos ao Deus conosco - Emanuel[3] esta singela e antiga canção das CEBs:

 

Vai, enche a terra de esperança, 

pois, junto a ti, junto a ti sempre estou.

Leva a tua fé e sê sinal, 

pois Emanuel, Emanuel já vai voltar.

Crê no meu amor, ele é constante, 

pois junto a ti, junto a ti sempre estou.

 

É tempo de ter mais justiça, não hipocrisia no meio de vós. 

De gente que goste de gente e espere contente o Messias voltar. 

É tempo de ter solução para um mundo que segue pro mal, 

por isso tu és escolhido e este povo sofrido será meu sinal.

 

Isaías, Isaías! Anuncia o Messias e consola o povo meu.

Anuncia o Messias e consola o povo meu!

E consola o povo meu!

 

Porém, há uma pergunta de fundo: Até quando YHWH continuará sendo aliado do povo que escolheu? Até quando YHWH continuará sendo nosso aliado?

 

SALMO RESPONSORIAL 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. 7c.10b)

 

O salmo de hoje é uma oração da procissão com a Arca da Aliança.

 

Carlos Mesters afirma: “Oração inspirada na procissão com que Davi trouxe a Arca da Aliança para Jerusalém (cf. 2Sm 5,6-10). O salmo orientava e animava a procissão dos peregrinos quando estes chegavam a Jerusalém para as grandes festas anuais. Diante das portas da cidade ou do templo, os romeiros dialogavam com os sacerdotes e habitantes da cidade. Só entram na cidade santa os que são sinceros em suas intenções, os que buscam ver e experimentar a presença de Deus no templo. É um dos salmos mais rezados e cantados até hoje: Senhor, quem entrará no santuário para te louvar?” (MESTERS, OROFINO & WEILER, 2016, p. 90).

 

Para José Bortolini[4], o salmo de hoje: “Recorda uma procissão com a Arca da Aliança, à semelhança do que se diz em 2Sm 6,1-19. Não se sabe exatamente se as portas mencionadas, são as da cidade ou as do Templo. É certo que a procissão era cheia de alegria e festa, e nela o povo cantava. O povo pergunta quais as condições para entrar (na cidade ou no Templo), a fim de participar das festividades. A resposta polemiza mais uma vez com os ídolos. E apresenta como condições a justiça (mãos inocentes), a integridade (coração puro), a rejeição dos ídolos e a retidão nas relações com as pessoas, sobretudo nos tribunais (Dt 5,20). Essa liturgia da porta polemiza contra os ritos vazios e contra a religião de aparências. O povo pede que as portas se levantem, a fim de que entre o Rei da glória. Os guardas perguntam quem é esse Rei da glória, e o povo responde que é YHWH. Após esse diálogo certamente as portas se abriam e a Arca entrava no espaço mais sagrado e reservado do Templo de Jerusalém” (BORTOLINI, 2013, p. 106-107).

 

Senhor, quem entrará no santuário para te louvar?

 

SEGUNDA LEITURA

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 1,1-7

 

Paulo escreve a uma comunidade que não fundou, por isso toma todo cuidado ao justificar a razão de sua carta, porém, didaticamente, expressa tudo aquilo que constitui o núcleo da sua fé: somos todos, todas, chamados e chamadas a sermos discípulos e discípulas de Jesus Cristo, descendente de Davi segundo a carne, autenticado com Filho de Deus com poder, pelo Espírito de Santidade que o ressuscitou dos mortos!

 

Alguns pontos de destaque deste trecho da Carta: 1. Vocação como dom gratuito de Deus. 2. Justificação pela fé, que é a adesão à pessoa do Messias. 3. A morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré trouxeram a salvação para todas as pessoas. 4. Sintonia entre o Primeiro e o Segundo Testamento, entendendo um como a preparação do outro.

 

Ao seguirmos os passos de Paulo entendemos que ao sermos fiéis à Palavra e ao Projeto de Deus receberemos a graça de Deus. Daí a importância de colocar em prática o nosso serviço aos mais desprotegidos, aos descartáveis e aos invisíveis da sociedade capitalista atual.

 

A evangelização é um dom de Deus à humanidade, para que a humanidade possa se reencontrar com Aquele que a criou a partir do seu eterno amor.

 

EVANGELHO

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 1,18-24

 

O 4º. Domingo do Advento é chamado também de O Domingo da Mulher grávida. Onde, em comunidade, lembramos a espera de Maria, porém, ouvimos que no silêncio de José, seu esposo, encontramos a certeza que Jesus é o Deus-conosco que salva o seu povo dos seus pecados e faltas.

 

O texto de hoje é o início do Evangelho de Mateus, onde é apresentada a origem de Jesus, e o compromisso entre José e Maria, os dois assumem papel importante na revelação de Deus em nosso meio. 

 

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil[5] argumenta: “Mateus apresenta Jesus como Filho de Deus com mãe humana. É o mistério da vida, onde Deus Pai-Mãe, gerador de vida, toma a iniciativa e encontra acolhida em Maria, símbolo da humanidade sedenta de vida. José, de início, tem muita dificuldade em aceitar aquela gravidez difícil de explicar. A lei condenava as mulheres que aparecessem grávidas antes do casamento (Dt 22,13-21). José entendia o ser justo à moda dos fariseus e escribas, seguindo a Lei à risca. Isso significava abandonar Maria e seu filho. Mas o encontro com o anjo faz com que José entenda qual é a verdadeira justiça que Deus quer: a defesa radical da vida, nas pessoas de uma mãe solteira e de uma criança em gestação. Enquanto Maria é o símbolo da humanidade que acolhe a graça de Deus, José é o símbolo do homem verdadeiramente justo, que coloca a vida acima da Lei. Mateus quer mostrar que o motivo da decisão de José é o desígnio de Deus anunciado pelo profeta Isaías 7,14, que afirmava que o Filho de Davi seria a manifestação de Deus presente na história. Essa criança é o Emanuel – Deus conosco (1,22-23), nascido de uma virgem por pura iniciativa de Deus. O nascimento de Jesus, que significa “Deus salva” (1,21) elimina a separação entre Deus e o ser humano” (CNBB, 1998, p. 43-44).

 

Exclusivamente, Mateus direciona o olhar para o SIM de José.

 

O Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos[6] afirma: “O foco de Mateus está em José. Mateus desloca o protagonismo dessa história para o homem que assumirá a paternidade de Jesus. Ouvimos muitas vezes dizer que o divino se fez humano no útero de Maria. Resumimos Maria apenas ao útero. Porém, o divino se fez humano no corpo de Maria. Todo o episódio da concepção é resumido em uma única expressão: o que foi gerado em Maria é obra do Espírito Santo; ou seja, puro dom de Deus. É a primeira vez que aparece, no relato de Mateus, a filiação divina do Messias. Jesus é, como demonstra a genealogia, filho de Davi e filho de Abraão (Mt 1,1), mas ele é principalmente o Filho de Deus. Costumamos nos referir a José como pai adotivo. Pai é pai. Ponto. Sempre delegamos a José um papel de menor importância no plano salvífico. Do mesmo modo que a nossa sociedade delega um papel secundário ao pai, todas as responsabilidades recaem quase exclusivamente sobre as mães. José vem nos falar (mesmo quando no texto ele não tem fala) sobre paternidade, sobre como ser pai. Vamos pensar um pouco na questão da gravidez de Maria pela ótica de José, dentro de uma sociedade patriarcal, de uma cidade pequena do interior: Maria aparece grávida antes do casamento, uma jovem solteira grávida!!!! Temos duas questões: ou ele engravidou a jovem e desonrou a casa do pai de Maria e fica com sua moral questionada, ou assume um filho ilegítimo fruto de uma traição de Maria. Para a sociedade do seu tempo, nenhuma das opções era bem-aceita. O versículo 19 nos diz: “e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo”. José sabia que se ele denunciasse Maria, ela seria apedrejada, seria morta. Ele já estava decidido quando o anjo do senhor intervém. No texto, não há falas de José, somente as dúvidas, os pensamentos e as ações dele. Porém, assim como a anjo apareceu a Maria, assim também foi com José. E o projeto do Reino aconteceu porque José também disse sim ao anjo do senhor. E a partir desse sim, José assume todos os riscos junto com Maria. Com José, a profecia que o Messias seria da casa de Davi (Jo 7,42) se cumpre. Pois, toda a genealogia humana de Jesus, descrita em Mateus (1,1-17), é a genealogia de José. No v. 21, o anjo diz a José que Maria dará a luz um filho e ele o chamará com o nome Jesus, que significa “Deus salva”. Ao nome próprio do menino, Mateus acrescenta outro nome, de natureza simbólica: ele será chamado Emanuel, que significa “Deus conosco” (v. 23 – Is 7,14; 8,10). Deste modo, o “Deus que salva” rompe as barreiras da transcendência para, mesmo sem deixar de ser o “totalmente Outro”, fazer-se o “Deus conosco”, gente como a gente, um de nós, na pequenez de uma criança. Mais importante que Deus salvar é a gente ter a certeza que, com o nascimento de Jesus, Deus reafirma mais uma vez que Ele está conosco, em nosso meio” (CEBI, 2022).

 

Celebrar a vinda de Jesus de Nazaré é afirmar a força da vida, cheia de ternura, que jorra da dureza da história humana. É alegria da mulher nova e do homem novo que sabe que depois de toda tempestade sempre vem um dia ensolarado nos convidando a permanecer firmes na luta. Emanuel! Emanuel! Emanuel!

 

Hoje, minha reflexão se estendeu um pouco além da conta, mas, é que em meu coração, vieram muitas canções antigas que conectam com as leituras de hoje. É o caso da canção que segue. Ela me faz recordar de um tempo nas CEBs, em que fazíamos nossas reuniões de grupos de jovens, depois da Celebração da Palavra ou depois da Celebração Eucarística, e entre os cantos, sempre aparecia uma que vinha da MPB. Pensando o que iria escrever a respeito das leituras e principalmente, do Evangelho de hoje, fiquei emocionado, ao ouvir a voz jovial da Rita Lee, (que ainda se recupera de um câncer), surgindo na minha playlist. Ao prestar atenção na delicadeza da letra e da voz da artista, entendi que o sim de José nos deu a oportunidade de compreendermos que Deus caminha com seu povo na pessoa de Jesus de Nazaré, pois quando precisou de um casal de jovens apaixonados, ele e ela disseram sim. Somos herdeiros e herdeiras deste sim! E por isso convido, a cantarem comigo:

 

JOSÉ (JOSEPH)[7]

(Georges Moustaki / Versão: Nara Leão)

 

Olha o que foi meu bom José

Se apaixonar pela donzela

Entre todas a mais bela 

De toda a sua galileia

 

Casar com Deborah ou com Sarah

Meu bom José você podia

E nada disso acontecia

Mas você foi amar Maria

 

Você podia simplesmente

Ser carpinteiro e trabalhar

Sem nunca ter que se exilar

De se esconder com Maria

 

Meu bom José você podia

Ter muitos filhos com Maria

E teu oficio ensinar

Como teu pai sempre fazia

 

Porque será meu bom José

Que esse seu pobre filho um dia

Andou com estranhas ideias

Que fizeram chorar Maria

 

Me lembro as vezes de você

Meu bom José meu pobre amigo

Que desta vida só queria

Ser feliz com sua Maria

 

Para encerrar nossa conversa familiar, lembro-me de uma frase simples, porém bela e profunda que introduz em nós a alegria do Natal que bate à nossa porta, e não nos deixa esquecer: “Todo menino quer ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser Deus. Só Deus quis ser menino” (Leonardo Boff).

 

Amém! Axé! Awirê! Aleluia!

 

ARTE-VIDA: Maximino Cerezo Barredo / Luís Henrique Alves Pinto

 

Emerson Sbardelotti

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 

[1] MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. 4.ed. São Paulo: Paulus, 1984.

[2] BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos Anos A, B, C, Festas e Solenidades. 5.ed. São Paulo: Paulus, 2010.

[3] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5gzsxHC3NFU>. Acesso em: 17 dez. 2022.

[4] BORTOLINI, José. Conhecer e Rezar os Salmos – comentário popular para nossos dias. 5.reim. São Paulo: Paulus, 2013.

[5] CNBB. Ele está no meio de nós! – O Semeador do Reino: O Evangelho segundo Mateus. São Paulo: Paulinas, 1998.

[6] CEBI. Reflexão do Evangelho segundo Mateus 1,18-25 para o quarto domingo do Advento na tradução da Bíblia de Jerusalém. Disponível em: < https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/reflexao-do-evangelho-segundo-mateus-118-25-para-o-quarto-domingo-do-advento-na-traducao-da-biblia-de-jerusalem/>. Acesso em 17 dez. 2022.

[7] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qm6bTqpak2A>. Acesso em: 17 dez. 2022.

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