Partilha da Palavra: 1º. Domingo do Advento – Ano A

27 de Noviembre de 2022

[Por: Emerson Sbardelotti]




PRIMEIRA LEITURA

Leitura do Livro do Profeta Isaías 2,1-5

 

Isaías é o profeta mais lido no Tempo do Advento; sua profecia é lida à luz da ressurreição de Jesus de Nazaré.

 

Os judeus peregrinavam para o Templo de Jerusalém, durante a Festa das Tendas; Isaías vendo essa romaria, utiliza-a como imagem, como visão futura, em que todos os povos que reconhecem Deus como único se dirigem para lá. Um momento novo na vida de todas as nações.

 

José Bortolini[1] afirma: “A visão se refere ao monte da casa do Senhor, ou seja, o monte Sião, sobre o qual foi construído o Templo. Ele estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. Para os povos antigos, os montes eram lugar de encontro com a divindade. Afirmando que o monte da casa do Senhor estará acima de todas as montanhas, Isaías intuiu um tempo em que o mundo inteiro irá prestar culto ao único Deus verdadeiro, o Deus juiz dos povos e árbitro de muitas nações. Qual será o resultado disso? A transformação de toda a sociedade: a criação do mundo novo, sem fronteiras, porque a norma última será a justiça que vem de Deus e transforma as relações entre as pessoas e os povos. Fruto maduro dessa união universal será a paz que decorre da justiça!” (BORTOLINI, 2010, p.12).

 

A mensagem da profecia de Isaías para nós hoje é que o amor deve ser a nossa única defesa. As armas que mataram tantas pessoas nos últimos anos, devem ser destruídas; somos irmãs e irmãos, não deveríamos nos odiar, não deveríamos estar tirando as vidas uns dos outros. Só haverá paz, se plantarmos e adubarmos em nossos corações a justiça de Deus.

 

Nas CEBs temos um cântico muito bonito que sintoniza a profecia de Isaías com os nossos dias atuais, cobrando-nos um compromisso sério na defesa da vida e com os/as empobrecidos/as, com os/as descartáveis, com os/as invisíveis:

 

ISAÍAS[2]

(Pe. Luizinho)

 

É tempo do meu Advento, da vinda surpresa no meio de vós. 

Por isso conclamo profetas que ao longo da terra elevam sua voz. 

É tempo de um novo Isaías que, atento aos rumos da vida, 

indique um caminho novo e a libertação para todo o meu povo.

 

Isaías, Isaías! Anuncia o Messias e consola o povo meu.

Anuncia o Messias e consola o povo meu!

 

Que eleve sua voz contra todos aqueles que levam uma vida maldosa. 

Que aja com grande energia, que implante a justiça e aos pobres console. 

Que anuncie uma nova esperança e um Deus que é sempre presença. 

Que a todos os homens conteste e, no meio dos povos, se torne um profeta.

Isaías, Isaías! Anuncia o Messias e consola o povo meu.

Anuncia o Messias e consola o povo meu!

 

Eu quero que todos os homens caminhem segundo os critérios de Deus. 

Eu quero uma tal comunhão que eu possa chamá-los de filhos meus. 

Eu quero as crianças sorrindo sempre ao ver novo mundo surgindo. 

Eu quero esperança maior para aqueles que lutam por um mundo melhor.

 

Isaías, Isaías! Anuncia o Messias e consola o povo meu.

Anuncia o Messias e consola o povo meu!

 

Vai, enche a terra de esperança, 

pois, junto a ti, junto a ti sempre estou.

Leva a tua fé e sê sinal, 

pois Emanuel, Emanuel já vai voltar.

Crê no meu amor, ele é constante, 

pois junto a ti, junto a ti sempre estou.

 

É tempo de ter mais justiça, não hipocrisia no meio de vós. 

De gente que goste de gente e espere contente o Messias voltar. 

É tempo de ter solução para um mundo que segue pro mal, 

por isso tu és escolhido e este povo sofrido será meu sinal.

 

Isaías, Isaías! Anuncia o Messias e consola o povo meu.

Anuncia o Messias e consola o povo meu!

E consola o povo meu!

 

SALMO RESPONSORIAL 121(122),1-2.4-5.6-7.8-9 (R. cf. 1)

 

Este salmo era cantado durante as romarias ao Templo de Jerusalém. Celebra a cidade de Jerusalém, sede do poder religioso e judiciário, centro e fim das romarias.

 

Segundo Carlos Mesters[3]: “Durante a peregrinação, os romeiros entoam este cântico, louvando a cidade santa, meta final de sua viagem. A alegria os invade, desde o convite inicial para participar da romaria. O salmo sugere que os peregrinos já estão chegando ao alto do monte das Oliveiras e contemplam a cidade de Jerusalém. O grande desejo de todo romeiro é viver a felicidade na justiça e na paz. Só YHWH pode garantir a verdadeira paz!” (MESTERS, OROFINO, WEILER, 2016, p.419).

 

Neste salmo manifestamos uma imensa alegria por essa paz prometida que nos é anunciada. Que não demore: que a paz venha reinar entre nós, entre os povos, em todo o mundo.

 

Para José Bortolini[4]: “Javé praticamente não age neste salmo. Fala-se da casa dele, das tribos dele, seguindo um costume de Israel. Javé, portanto, tem casa, nome e tribos. E tudo isso é celebrado em Jerusalém, cidade que reúne o povo em torno de dois polos importantes: a fé e a prática da justiça. Apesar disso, Javé não deixa de ser o aliado do povo. Escolhe uma cidade para morar no meio dele, para festejar com ele e para garantir uma sociedade justa” (BORTOLINI, 2013, p.511-512).

 

SEGUNDA LEITURA

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 13,11-14a

 

Na leitura de hoje, ela nos apresenta a razão fundamental do ser e do agir cristão: Paulo, nos últimos capítulos da Carta aos Romanos, apresenta-nos uma série de ensinamentos bem concretos sobre o amor entre os irmãos e irmãs de uma mesma comunidade. Assim, podemos entender hoje, estarmos vivendo um tempo de graça, pois, somos convidados/as a expressar o amor mútuo e permanecermos vigilantes até a vinda do Senhor. Enquanto isso, façamos a justiça e a paz acontecer em nosso meio!

 

A comunidade deve despertar para as consequências de ser cristão, de ser cristã, pois se aproxima a redenção. Nós que abraçamos a fé e por ela defendemos a vida, estamos vestidos/as com as armas da luz, da luz de Jesus de Nazaré. No tempo presente descobrimos as sementes da eternidade, um kairós (tempo de graça).

 

Precisamos nos questionar: Qual futuro queremos construir nesta sociedade marcada por um ódio desenfreado, onde pessoas inocentes são assassinadas, onde não há vacinas para novas doenças e para controlar antigas doenças de retornarem? É preciso despertar para este encontro com Jesus de Nazaré não no futuro, mas aqui e agora.

 

Já é hora de acordar meu povo! Um novo tempo está raiando em nossas comunidades!

 

EVANGELHO

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 24,37-44

 

A passagem do Evangelho de Mateus pede a cada um, a cada uma de nós, para sermos vigilantes. Sejamos vigilantes de uma nova sociedade que deve nascer do amor mútuo entre as pessoas, sem discriminação de raça, sexo, cor. Uma nova sociedade baseada na justiça e na misericórdia. Não saber quando Jesus de Nazaré retornará compromete a todos, a todas nós numa transformação profunda da realidade em que vivemos. É sobre isso que o Evangelho de hoje chama a nossa atenção, pois toca na urgência do tempo. A ordem é ficarmos preparados, preparados, atentos e atentas, vigilantes. 

 

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil[5] nos diz: “Estamos diante do grande discurso escatológico de Mateus que compreende os capítulos 24 – 25. No capítulo 24, 1-44 o evangelista combina o anúncio da destruição de Jerusalém com a chegada do fim do mundo. E acrescenta ainda algumas parábolas para incentivar as suas comunidades a esperar o fim do mundo numa vigilância ativa, praticando o amor e a misericórdia, porque este será o conteúdo do grande julgamento quando Jesus voltar. Ninguém conhece o momento preciso do fim do mundo. Nem o Filho do Homem. Somente o Pai. O que torna impossível fazer um plano do futuro. Resta permanecer numa vigilância ativa e responsável. Para deixar bem claro como deve ser esta espera ativa, Jesus conta três parábolas: a) a parábola do mordomo (24,45-51); b) a parábola das dez moças (25,1-13); c) a parábola dos talentos (25,14-30). Os versículos 37-44 fazem uma introdução às três parábolas enfatizando a incerteza do momento presente. O exemplo dado é a história de Noé (Gn 6,9-12). Enquanto Noé com sua família se preparava para entrar na arca, o pessoal ao seu redor fazia banquetes, casava e se dava em casamento em total alienação. Veio a catástrofe e o pegou de surpresa. Para reforçar a necessidade da vigilância, o texto ainda lembra o ladrão que vem quando menos se espera. Na verdade, a incerteza é nossa grande certeza. Há que estar preparado!” (CNBB, 1998, p.166.170).

 

Não podemos jamais ficar indiferentes, achando que tudo está resolvido cuidando apenas de nós mesmos, é preciso estarmos atentos, atentas e fortes! Com os olhos bem abertos!

 

Segundo José Antonio Pagola[6]: “A maneira mais fácil de falsear a esperança cristã é justamente esperar de Deus nossa própria salvação eterna, enquanto viramos as costas ao sofrimento que existe agora mesmo no mundo. Um dia precisaremos reconhecer nossa cegueira diante do Cristo Juiz: Quando te vimos faminto ou sedento, estrangeiro ou nu, enfermo ou na prisão, e não te prestamos assistência? Será esse o nosso diálogo final com Ele se vivermos com os olhos fechados. Precisamos despertar e abrir bem os olhos. Viver vigilantes a fim de olhar para além dos nossos pequenos interesses e preocupações. A espera do cristão não é uma atitude cega, porque não esquece os que sofrem. A espiritualidade cristã não consiste apenas num olhar para o interior, porque o coração do cristão está atento aos que vivem abandonados à sua sorte. Nas comunidades cristãs precisamos cuidar cada vez mais para que nossa maneira de viver a esperança não nos leve à indiferença e ao esquecimento dos pobres. Não podemos isolar-nos na religião a fim de não ouvir o clamor dos que diariamente morrem de fome. Não nos é permitido alimentar nossa ilusão de inocência para defender nossa tranquilidade” (PAGOLA, 2019, p.11).

 

A solução é vigiar. E vigiar não é ficar prestando atenção na vida dos outros, mas solidarizar-se com Jesus de Nazaré na manutenção da verdade, da justiça, da paz e do amor.        Na coroa do Advento há quatro velas: verde – vermelha – rosa – branca; que elas nos ajudem a vigiar e a festejar a novidade de Deus acontecendo em nossas vidas. Esse Deus que sempre busca todos, todas, nós! E nós que sempre o buscamos.

 

Amém! Axé! Awirê! Aleluia!

 

ARTE-VIDA: Maximino Cerezo Barredo / Luís Henrique Alves Pinto

 

Emerson Sbardelotti

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 

[1] BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos Anos A, B, C, Festas e Solenidades. 5.ed. São Paulo: Paulus, 2010.

[2] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5gzsxHC3NFU>. Acesso em: 27 nov. 2022.

[3] MESTERS, Carlos. OROFINO, Francisco. WEILER, Lúcia. Rezar os Salmos hoje – a lei orante do povo de Deus. São Leopoldo: CEBI; São Paulo: Paulus, 2016.

[4] BORTOLINI, José. Conhecer e Rezar os Salmos – comentário popular para nossos dias. 5.reim. São Paulo: 2013.

[5] CNBB. Ele está no meio de nós! – O Semeador do Reino: O Evangelho segundo Mateus. São Paulo: Paulinas, 1998.

[6] PAGOLA, José Antonio. A Boa Notícia de Jesus – Roteiro Homilético Anos A, B e C. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.

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