Partilha da Palavra: 30º. Domingo do tempo comum

23 de Octubre de 2022

[Por: Emerson Sbardelotti]




23 DE OUTUBRO DE 2022

 

PRIMEIRA LEITURA

Leitura do Livro do Eclesiástico 35,15b-17.20-22a (gr. 12-14.16-18)

 

O Livro do Eclesiástico ou Sirácida, no Primeiro Testamento sugere que seu autor seja conhecido com certa segurança. Seu nome é “Jesus, filho de Sirac” (50,27; 51,30: em hebraico, Ben Sirac, que vivia em Jerusalém por volta de 200 a.EC. e que sua obra remonta a 180 a.EC. aproximadamente.

 

A leitura de hoje já começa dizendo, o que poucas pessoas hoje em dia conseguem de fato compreender: O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Em palavras simples: Deus não faz distinção de pessoas. Como é difícil as pessoas do século XXI entenderem isso. Deus é o protetor qualificado do pobre, do órfão e da viúva, que escuta suas preces apelando à sua justiça.

 

Quem é servido? Deus ou o próximo? O que Deus espera de mim para que eu possa servi-lo? Para que todos, todas nós, possamos servi-lo? Aquele/a que não discrimina o seu irmão, a sua irmã receberá a acolhida de Deus, pois o coração é humilde e a oração verdadeira, por isso, o julgamento será justo. 

 

Não se pode devolver a Deus aquilo que é fruto de violência e injustiça em relação aos pobres. Na Igreja Católica Apostólica Romana não há a obrigatoriedade dos 10% do dízimo, por exemplo; porém, recomenda-se que católicas e católicos devolvam a Deus conforme as disposições de seus corações.

 

O Papa Francisco nos diz que “quem toca a carne dos pobres, toca a carne de Cristo!”. Pois o Cristo escuta as súplicas dos/as oprimidos/as e jamais despreza quem o chama a partir de um coração puro e aberto para o amor incondicional. A prece do humilde, como diz o texto de hoje, atravessa as nuvens, e com certeza alcança o coração de Deus, que volta o seu olhar. 

 

A justiça divina alcança os pobres, não por que eles são melhores do que os ricos, mas, por que são as vítimas.    

 

SALMO RESPONSORIAL Sl 33(34),2-3.17-18.19.23 (R. 7a.23a)

 

Este salmo realça a opção do Senhor pelos injustiçados, males existem também para os justos, porém, quando os injustiçados insistem na divina justiça, há uma certeza: a esperança de redenção. Resistir à maldade aproxima a pessoa discriminada de Deus, e por isso, pode relatar publicamente, sua experiência pessoal de ter sido libertado pelo Senhor e quer passar essa boa nova para cada um, cada uma que também está na mesma situação: quem se refugia na bondade de Deus encontrará alegria.

 

Frei Carlos Mesters[1], que no último dia 20 de outubro completou 91 anos nos diz: “A oração deste salmo é fruto de uma sabedoria acumulada e amadurecida pela experiência ao longo dos anos da vida. A sabedoria se expressa através da repetição constante do nome YHWH, repetido dezessete vezes só neste salmo. (O Nome de Deus ocupa um lugar central nos Salmos. Em hebraico, ele se escreve com estas quatro letras: YHWH. Nome muito antigo, de origem desconhecida. Não se sabe o seu sentido exato, nem a sua pronúncia correta. Foi a experiência da libertação do Egito, vivida e aprofundada ao longo dos séculos, que foi dando um sentido novo a esse nome antigo. No passado, ainda na época do Antigo Testamento, para evitar que esse nome sagrado fosse pronunciado levianamente, sem o devido respeito, combinaram de pronunciar aquelas quatro letras YHWH como Adonai, que quer dizer Senhor. Era para reverenciar o mistério de Deus que nele se revela e se esconde. O nome é a pessoa! É a presença! Em hebraico, as quatro letras do Nome de Deus YHWH são associadas às letras do verbo HYH ou HWH, que significa estar. A variedade das invocações revela a riqueza, encerrada no Nome. Só no livro dos Salmos, ele é rezado e repetido, ruminado e invocado, cantado e gritado, mais de 630 vezes! Rezar os Salmos é penetrar no mistério do Nome de Deus). O salmista, após passar por uma experiência de libertação, convida os pobres a se unirem a ele numa oração agradecida. Na oração ele convida a comunidade a viver no temor de YHWH. Isso significa reconhecer nossa pequenez e nossos limites diante de Deus, demonstrando nossa vontade em realizar o projeto de justiça, construindo a paz e vencendo toda a maldade. Viver no temor de YHWH é lutar pela vida plena para todos” (MESTERS in MESTERS, OROFINO & WEILER, 2016, p. 7-9. 118-119).

 

A versão popular[2] deste Salmo que já foi muito cantada[3] em nossas Comunidades Eclesiais de Base relembra-nos que o Senhor escuta a oração dos empobrecidos, dos descartados, dos invisíveis e liberta-os, conforme a própria letra nos informa:

 

Bendirei ao Senhor todo o tempo,

Minha boca vai sempre louvar,

A minh’alma o Senhor glorifica,

Os humildes irão se alegrar.

 

1.    Vamos juntos dar glória ao Senhor

E ao seu nome fazer louvação

Procurei o Senhor, me atendeu,

Me livrou de uma grande aflição.

 

Olhem todos pra ele e se alegrem,

Todo o tempo sua boca sorria.

Este pobre gritou e ele ouviu,

Fiquei livre da minha agonia.

 

2.    Acampou na batalha seu anjo,

Defendendo seu povo e o livrando;

Provem todos, pra ver como é bom,

O Senhor que nos vai abrigando.

 

Povo santo, adore o Senhor;

Aos que o temem, nenhum mal assalta.

Quem é rico empobrece e tem fome,

Mas a quem busca a Deus, nada falta.

 

3.    Ó meus filhos, escutem o que eu digo

Pra aprender o temor do Senhor.

Quem de nós que não ama sua vida,

E a seus dias não quer dar valor?

 

Tua língua preserva do mal

E não deixes tua boca mentir.

Ama o bem e detesta a maldade,

Vem a paz procurar e seguir.

 

4.    Sobre o justo, o Senhor olha sempre,

Seu ouvido se põe a escutar;

Que teus olhos se afastem dos maus,

Pois ninguém deles vai se lembrar.

 

Deus ouviu quando os justos chamaram

E livrou-os de sua aflição.

Está perto de quem se arrepende;

Ao pequeno, ele dá salvação.

 

5.    Para o justo, há momentos amargos,

Mas vem Deus pra lhe dar proteção.

Ele guarda com amor os seus ossos;

Nenhum deles terá perdição.

 

A malícia do ímpio o liquida,

Quem persegue o inocente é arrasado.

O Senhor a seus servos liberta,

Quem se abriga em Deus é poupado.

 

6.    Glória a Deus, Criador que nos ama,

Glória a Cristo que é nosso bem,

E ao Espírito, amor e ternura,

Desde agora e pra sempre. Amém!

 

SEGUNDA LEITURA

Leitura da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 4,6-8.16-18

 

A leitura de hoje nos apresenta um cristão diante da morte! O trecho pertence ao chamado “testamento de Paulo”. Ele relata sua partida, aproveita para se despedir daqueles e daquelas que tanto ama. Para o apóstolo, a morte não é o fim, mas o início da nova viagem. 

 

Ele compreende, sente, sabe, que cumpriu sua missão e usa uma imagem militar e outra atlética para afirmar isso: Combati o bom combate, completei a corrida. Contudo, o objetivo alcançado foi ter corrido e combatido a partir da evangelização, mostrando, divulgando e guardando a . 

 

A coroa da justiça que deseja receber do Senhor, é o símbolo da imortalidade, da vitória, do amor com que Deus confere a todas as pessoas que lutam com amor, pela verdade.

 

Paulo se sente abandonado, da mesma forma que se sentiu Jesus de Nazaré. Contudo, o testemunho que brota de seu peito não dá espaço para lamentar, pelo contrário, ele reforça a certeza de que o Senhor está do seu lado. O Senhor está sempre do nosso lado. 

 

Assim, deve ser para todos nós, todas nós, hoje, também: combater o bom combate, completar a corrida, guardar a fé, sem desânimo, sem medo, sem desespero. Desde o nosso batismo, sabemos que para alcançar a salvação, devemos caminhar em direção da cruz. Paulo entendeu muito bem isso. E isso é motivo de alegria, que o faz dar glória a Deus enquanto viver

 

EVANGELHO 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 18,9-14

 

O Evangelho de hoje desmascara a falsidade presente em algumas pessoas, mostra que quando procuramos desprezar quem é diferente de nós, nos afastamos do relacionamento com Deus. Quem se convence que é justo mas discrimina quem é diferente já decidiu o seu destino.

 

Deus ama o pecador arrependido e o perdoa. Jesus de Nazaré teve grandes embates com os fariseus (palavra que significa “separados”) porém, não os discrimina, pelo contrário, procura sempre dialogar para que consigam entender a mensagem que traz para todos, todas; somente no Evangelho de Lucas, os fariseus são chamados de “amigos do Dinheiro”, pois, defendem seus próprios interesses, o uso indiscriminado da lei do puro e do impuro e a defesa de um sistema desigual e excludente nas cidades. 

 

O que Jesus de Nazaré critica é a postura do fariseu que reza com altivez, de pé, em voz alta, enumerando suas qualidades a Deus, sendo superior ao publicano, com a consciência de não ser como o resto das pessoas, contudo, o seu erro é julgar. Julgar o publicano pelos erros, pelas faltas e pelos pecados que cometeu. O publicano tem uma atitude muito diferente do fariseu: reconhece-se pecador, não tem coragem de levantar os olhos, bate no peito e pede perdão com sinceridade. 

 

Jesus de Nazaré que conhece a cada uma, a cada um em sua essência e profundidade, mostra-nos que o publicano voltou para casa perdoado, e o fariseu, retornou para casa humilhado. A oração feita pelo publicano alcançou as nuvens e chegou aos ouvidos de Deus, pois nasceu de sua condição de pecador. Com sinceridade mergulhou no mistério de Deus.

 

José Antonio Pagola[4] nos diz: “Em certa ocasião, diante da pergunta de um jornalista, o Papa Francisco fez a seguinte afirmação: “Quem sou eu para julgar um gay?”. Suas palavras surpreenderam quase todos. Ao que parece, ninguém esperava uma resposta tão simples e tão evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a atitude de quem vive em verdade diante de Deus” (PAGOLA, 2019, p. 356).

 

Deus nos ajude a não julgar as pessoas diferentes de nós!

 

Amém. Axé. Awirê. Aleluia!

 

ARTE-VIDA: Maximino Cerezo Barredo / Luís Henrique Alves Pinto

 

Emerson Sbardelotti

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 

[1] MESTERS, Carlos. OROFINO, Francisco. WEILER. Rezar os Salmos hoje – a lei orante do povo de Deus. São Leopoldo: CEBI. São Paulo: Paulus, 2016.

[2] Cf.: OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES. 3.ed. São Paulo: Paulus, 2018, p. 58-61. Cf.: VELOSO, Reginaldo. Ofício da Mãe do Senhor – “Eis aí a tua mãe!”. São Paulo: Paulus, 2001, p. 124-125.

[3] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SnsSSqeec94>. Acesso em 20 out. 2022.

[4] PAGOLA, José Antonio. A Boa Notícia de Jesus – Roteiro homilético Anos A, B e C. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.

Procesar Pago
Compartir

debugger
0
0

CONTACTO

©2017 Amerindia - Todos los derechos reservados.