Partilha da Palavra: 26º. Domingo do Tempo Comum

24 de Setiembre de 2022

[Por: Emerson Sbardelotti]




25 DE SETEMBRO DE 2022

 

PRIMEIRA LEITURA

Leitura da Profecia de Amós 6,1a.4-7

 

Amós, era pastor de ovelhas em Técua, ao sul de Jerusalém e cultivava sicômoros – o sicômoro é uma árvore que dura muitos anos; o sicômoro serve para abrigar animais, principalmente pássaros, suas folhas e frutos são alimentos para eles – (1,1; 7,14), no Reino de Judá, mas exerceu sua atividade profética no Reino do Norte, Israel, especificamente em Betel, perto da fronteira, no tempo de Jeroboão II (783-743 a.E.C.), época marcada por grande prosperidade para os ricos, que se tornavam cada dia mais ricos, enquanto os pobres cada dia mais pobres, pois estavam sempre mais explorados, sempre mais oprimidos.

 

Amós não deixou nada por escrito; foram outras pessoas que recolheram seus oráculos e transcreveram o que ele havia dito.

 

Em nome de Deus, Amós condenou a corrupção das cidades, as injustiças sociais e a falsidade do culto no templo. Por sua infidelidade a Deus, Israel será condenado. Em cinco visões, Amós anuncia o fim do Reino do Norte (7,1-3; 7,4-6; 7,7-9; 8,1-3; 9,1-4). A profecia de hoje é o anúncio do fim que virá.

 

Amós denuncia o luxo na coorte de Jeroboão II, mas também de toda a sociedade em torno do rei. Denuncia as mazelas impostas ao povo, que vive em condições precárias. Suas palavras no texto de hoje começam com um “ai”. Este “ai” é contra quem detêm riqueza e poder, suas palavras são muito duras. Porém, atingem em fundo os poderosos de ontem e de hoje!

 

Os ricos esperavam o “Dia do Senhor”, no qual as conquistas de Jeroboão II, desfrutadas apenas por uma minoria, assumiriam proporções imensas, por acreditarem que Israel era o escolhido de Deus. O profeta contesta esta certeza e segurança, pois o “Dia do Senhor” será um dia de humilhação e destruição para a capital Samaria e o exílio de Israel. O que de fato, acontece.

 

Os que oprimiam o povo irão puxar a fila dos que serão levados para o exílio. 

 

O “ai” do profeta Amós ressoa hoje pelas ruas, pelas praças, pelos campos do nosso país, pois nos últimos anos testemunhamos uma minoria enriquecendo-se às custas da exploração da maioria; testemunhamos que o bem-estar social e a paz social foi totalmente pervertida em mentiras e ódio; a fome voltou para o meio da população brasileira, voltamos para o mapa da fome da ONU: 33 milhões de pessoas passam fome neste momento no Brasil; nossas instituições retiraram as políticas públicas e os direitos outrora adquiridos e que sustentavam o mínimo de dignidade para a população. Esta orgia irá acabar. O bando dos gozadores será desfeito.

 

SALMO RESPONSORIAL: 145(146)

Sl 145(146),7.8-9a.9bc-10 (R.1)

 

É um hino de louvor, celebrado em lugar público, que evidencia o projeto do Senhor em oposição aos projetos de injustiça dos poderosos. Portanto, as pessoas são convidadas a não confiar nos poderosos; porém, devem apoiar-se apenas no Deus das promessas, da libertação e da aliança. Pois o projeto dos poderosos é oprimir, é deixar pessoas famintas, é prender, deixar as pessoas cegas pelo ódio, pessoas sempre exploradas.

 

A palavra Senhor é repetida várias vezes no Salmo, recordando o tempo dos patriarcas e da promessa da terra, lembrando da escravidão no Egito e da Aliança, lembrando que reinará sobre todos e todas apresentando um projeto de vida e de liberdade.

 

No Salmo encontramos três grupos sociais mais desprotegidos: estrangeiros, órfãos e viúvas. Estes grupos sociais não serão esquecidos também por Jesus de Nazaré. Contudo, Deus garante sua presença justamente onde a vida humana está sendo ameaçada. O Reino de Deus traz uma profunda e imensa alegria para os pobres, pois Deus opta por eles serem as vítimas; porém, é um transtorno eterno para os poderosos e opressores de todos os tempos.

 

Nossas Comunidades Eclesiais de Base possuem uma versão popular muito bonita e orante deste Salmo 145(146)[1], que está presente desde sua primeira edição no Ofício Divino das Comunidades[2], convidando-nos a defender a vida e a justiça:

 

Quero cantar ao Senhor,

Sempre enquanto eu viver,

Hei de provar seu amor,

Seu valor e seu poder!

 

1.     Aleluia, eu vou louvar:

Ó minh’alma, bendize ao Senhor;

Toda a vida eu vou tocar;

Ao meu Deus, vou cantar meu louvor!

 

2.     Não confiem nos poderosos,

São de barro e não podem salvar;

Quando expiram, voltam ao chão,

Seus projetos vão logo acabar!

 

3.     Feliz quem se apoia em Deus,

No Senhor põe a sua esperança;

Ele fez o céu e a terra.

Quem fez tudo mantém sua aliança.

 

4.     Faz justiça aos oprimidos,

Aos famintos sacia com pão,

O Senhor liberta os cativos,

Abre os olhos e os cegos verão!

 

5.     O Senhor levanta os caídos.

São os justos por ele amados;

O Senhor protege os migrantes

E sustenta os abandonados!

 

6.     O Senhor transtorna o caminho

Dos malvados, dos malfazejos;

O Senhor é rei para sempre,

Para sempre a reinar o teu Deus!

 

7.     Aleluia, vamos cantar,

Glória ao Pai e ao Filho também,

Glória igual ao Espírito Santo.

Aleluia, pra sempre. Amém.

 

SEGUNDA LEITURA

Leitura da Primeira Carta de São Paulo a Timóteo 6,11-16

 

Timóteo era originário de Listra, na Licaônia, filho de mãe judia convertida ao cristianismo e de pai pagão. Paulo o encontrou em sua primeira missão (cf.: At 14,8-20), e o associou definitivamente ao seu lado em sua segunda passagem por Listra, “e o circuncidou por causa dos judeus que havia naqueles lugares” (At 16,1-3). Paulo escreve a Timóteo, que segundo a Tradição, é seu verdadeiro filho na fé, e lhe atribui o título de “homem de Deus”. Assim também foram chamados os profetas Elias e Eliseu.

 

A parte da Carta escolhida para hoje diz respeito a bela profissão de fé de Jesus de Nazaré, modelo da fé do verdadeiro cristão, da verdadeira cristã.

 

A oração é agradável a Deus. Nós brasileiros e brasileiras oramos, rezamos a Deus para pedir o bem, pois Deus deseja o bem e a salvação para todos e todas, inclusive para os poderosos e governantes que muitas vezes não fazem bem para o povo; justamente para que estes e estas que governam, e possuem nas suas mãos o poder, alcancem o conhecimento da verdade e se convertam: devem salvar e defender todas as vidas para que alcancem a salvação!

 

Paulo pede a Timóteo para que fugisse das coisas perversas, entre elas o amor ao dinheiro, raiz de todos os males, alguns haviam caído na tentação, abandonaram a fé, fazendo da pregação do Evangelho, mercadoria, fonte de lucro. Paulo decidira não misturar o anúncio do Evangelho com dinheiro. Trabalhou com as próprias mãos para se sustentar.

 

Paulo diz a Timóteo a síntese do ideal cristão, e que muitas vezes, hoje em dia, passam despercebidos: procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão.

 

Combater o bom combate da fé, da mesma forma que Jesus de Nazaré fez. Jesus perseverou na mensagem que deveria anunciar, pois para isso foi convocado por Deus, e sabia de todas as exigências que daí decorrem. É um compromisso que dura até o fim de nossas vidas, até o último suspiro estaremos combatendo o bom combate da fé.

 

Por isso, devemos aumentar nossa fé em Jesus de Nazaré; para nós cristãos e cristãs, Jesus de Nazaré, é o único soberano, é o único que pode dar vida plena. 

 

EVANGELHO

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 16,19-31

 

O Evangelho de hoje nos convida a romper a indiferença, fazendo bom uso dos bens materiais. O texto de hoje é um contraste de duas realidades, de uma luta de classes: ricos X pobres. Jesus de Nazaré viaja para Jerusalém, e esta passagem é própria do evangelista Lucas.

 

Para José Bortolini[3], a viagem de Jesus é, portanto, o caminho da comunidade, cujas opções e riscos são os mesmos do Mestre. A parábola é, pois, um convite ao discernimento (BORTOLINI, 2010, p. 684).

 

O texto diz que um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes, púrpura e linho fino, fazia festas esplêndidas todos os dias. Havia um pobre, de nome Lázaro (que significa “Deus ajuda”), um mendigo cheio de feridas, estava no chão à porta do rico, estava faminto, desejava saciar sua fome com as sobras dos banquetes do rico, mas, nem isso conseguia, pois lhe faltavam forças; e os cachorros vinham lamber suas feridas.

 

Ambos morrem, um é levado para junto do pai da fé: Abraão. O outro foi levado para a região dos mortos (Hades) onde sofreu com as chamas e outros tormentos.

 

Há uma separação infinita entre misericórdia e ganância, no texto, e para nós hoje!

 

Quem vive pela ganância dos bens que possui e não faz a partilha, não poderá receber a misericórdia de Deus.

 

O texto descreve e acentua o contraste entre os dois personagens. Em nenhum momento se fala da exploração do rico com o pobre, ou que desprezou e maltratou, talvez, o rico não tenha feito ao pobre nada de mal. Porém, sua vida é desumana ao ser indiferente ao que está na frente dos seus olhos. O rico do Evangelho de hoje vive apenas para seu próprio bel prazer, para o seu próprio bem-estar. Ao decidir não cruzar a porta da própria casa para atender ao mendigo Lázaro que está enfermo à sua porta, determina o seu destino. A falta de empatia selou o seu destino!

 

Hoje, na sociedade brasileira, quantas são as famílias que estão vivendo com abundância, tendo às suas portas, a maioria da população vivendo ou morrendo na mais absoluta miséria?

 

Há uma sociedade do mal-estar em contrapartida ao sonho de uma sociedade do bem-estar. Precisamos de representantes, eleitos democraticamente, que optem pelo bem-estar da população e não pelos interesses próprios. A falta de políticas públicas em todas as áreas, diminuem a possibilidade das pessoas viverem com dignidade, de viverem com alegria.

 

Não dá para fugir de nossas obrigações, a maior delas é defender todas as vidas!

 

Para José Antonio Pagola[4], nossa primeira tarefa é romper a indiferença. Resistir à tendência de continuar desfrutando um bem-estar vazio de compaixão. Não continuar isolando-nos mentalmente para deslocar a miséria e a fome existentes no mundo para um abstrato lugar remoto, a fim de podermos assim viver sem ouvir nenhum clamor, gemido ou pranto. O Evangelho pode nos ajudar a viver vigilantes, sem tornar-nos cada vez mais insensíveis aos sofrimentos dos abandonados, sem perder o sentido da responsabilidade fraterna e sem permanecer passivos quando podemos atuar (PAGOLA, 2019, p. 348).

 

A opção de Deus é pelos pobres, não porque sejam melhores do que os ricos, mas, porque são as vítimas; não me canso de lembrar e falar. Os ricos cavam para si um abismo intransponível justamente quando abandonam a justiça, a compaixão, a misericórdia, a empatia e o amor por todas as pessoas que não possuem o que eles possuem. Enquanto as pessoas ricas permanecerem indiferentes com a realidade atual em que se vive no Brasil, seus caminhos jamais se identificarão com o de Jesus de Nazaré e não participarão do Reino de Deus. Porém, se partilharem seus bens, possuirão como herança a vida.

 

Deus nos ajude sempre a romper com todas as indiferenças!

Amém. Axé. Awire. Aleluia!

 

ARTE-VIDA: Maximino Cerezo Barredo / Luís Henrique Alves Pinto

 

Emerson Sbardelotti

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 

[1] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-_pvxiMAZOE>. Acesso em 21 set. 2022.

[2] Cf.: OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES. 3.ed. São Paulo: Paulus, 2018, p. 196-197.

[3] BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos – Anos A, B, C, Festas e Solenidades. 5.ed. São Paulo: Paulus, 2010.

[4] PAGOLA, José Antonio. A Boa Notícia de Jesus – Roteiro homilético Anos A, B e C. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.

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