31 de Agosto de 2022
[Por: Ricardo Machado | IHU On Line]
“Nunca a Amazônia foi tão saqueada, sequestrada, mutilada e devastada como está sendo nesse instante; ao mesmo tempo, nunca vimos tanta gente gritando aos quatro cantos do planeta pedindo pela proteção da Amazônia. Parece haver um descompasso entre as palavras e as coisas.” É com essa contundência e descrição de uma realidade trágica que Bruno Malheiro, pesquisador e roteirista, descreve e define a atual situação do bioma mais biodiverso do mundo. Nesta entrevista por e-mail, Malheiro traça um panorama sobre as condições sociais e globais que nos levaram a este estado de coisas.
“O capitalismo é um modo de produção ancorado em uma maneira de pensar e representar o mundo produzida a partir de experiências absolutamente distantes de nós, amazônidas. É um modo de agir por uma racionalidade refratária ao sistema vivo que nos abriga, a terra, ou seja, é um modo de generalizar a morte e confinar a vida”, explica o entrevistado.
Por outro lado, propõe todo um outro circuito de relações sociais, políticas e cognitivas que partam do território e das cosmologias dessa região. “Portanto, pensar a Amazônia a partir de seus povos significa, também, mudar o centro de referência de onde se pensa o Brasil e o mundo; não estamos falando de uma região qualquer, estamos falando de um bioma cuja diversidade biológica espelha sua diversidade étnica e linguística, de uma região sem a qual o já desequilibrado metabolismo da vida na terra já estaria em colapso completo”, sublinha.
Toda essa riqueza se oferece também como adubo à imaginação política, inclusive da esquerda, não raro demasiadamente focada em uma visão eurocêntrica do mundo e distante dos problemas concretos desses povos. “Se boa parte de nossa esquerda anda gastando mais energia em combater o inimigo esquecendo de um projeto próprio, os povos amazônidas nos oferecem outras formas de usar, organizar, sentir e pensar o mundo radicalmente distintas da racionalidade necropolítica que nos governa”, propõe.
Bruno Cezar Pereira Malheiro é professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - Campus de Marabá. Possui graduação em Geografia pela Universidade Federal do Pará, é mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA - UFPA) e Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense. É coordenador do Laboratório de Estudos em Território, Interculturalidade e R-Existência na Amazônia (LaTierra).
Tem experiência de pesquisa nos seguintes temas: Geografia da Amazônia; Geo-história da Amazônia; Conflitos territoriais na Amazônia; Geografia dos Grandes Projetos de desenvolvimento; Discurso e produção do espaço; Questão agrária na Amazônia; Educação do campo; e Geografia e Pensamento decolonial.
É autor de vários artigos em revistas especializadas e um dos autores do livro Horizontes Amazônicos: para repensar o Brasil e o mundo (Rosa Luxemburgo e Expressão Popular, 2021). É roteirista do filme “Pisar Suavemente na Terra”.
Confira a entrevista.
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