06 de Abril de 2021
[Por: José Oscar Beozzo]
Ao receber na tarde de hoje, a comunicação do falecimento de Hans Küng (*19 de mar. de 1928 · Sursee, Suíça; + 6 de abr. de 2021 · Alemanha), rascunhei algumas linhas sobre ele, que partilho com vocês.
Antes do Concílio, já havia lido seu livro: Concile et retour à l'unité, publicado em francês em 1961. Causou-me grande impacto. Uma lufada de ar fresco, que me abriu muitos horizontes.
O original, em alemão, Konzil und Wiedervereinigung: Erneuerung als Ruf in der Einheit, saiu pela Herder de Freiburg, em 1960.
O editor francês reduziu a três palavras o título quilométrico da edição alemã, mas que exprimia bem o propósito do livro: Concílio e restabelecimento da unidade. A renovação como um chamado para a unidade.
Ouvi-o pela primeira vez, na Domus Mariae, numa palestra em latim, para os bispos brasileiros, sobre a História da Missa (havia começado a discussão do esquema da Liturgia na Aula Conciliar), no dia 27 de outubro de 1962.
Voltei a ouvi-lo dois dias depois, no dia 29 de outubro, na conferência que fez sobre "Concílio e retorno à Unidade".
Ele aceitou o convite, para vir falar para os estudantes do Colégio Pio Brasileiro (não tenho a data de cabeça, mas foi ainda no fim de outubro ou começo de novembro de 1962).
Fez furor e deixou a direção da casa meio de cabelo em pé, pois acendeu a imaginação e esquentou os corações da centena de estudantes brasileiros de teologia e filosofia, que sonhavam, como ele, com uma mudança radical na vida da Igreja.
Perdi uma pessoa que muito me inspirou no início do Concílio e com quem trabalhei depois na Revista Concilium.
Que encontre em Deus seu merecido repouso, pois apanhou muito de pessoas dentro da Igreja (Ratzinger, João Paulo II), mas sentiu-se acolhido e reconciliado com o Papa Francisco.
Junto com Karl Rahner, Yves Congar, Chenu, Schillebeeckx pertenceu ao primeiro time dos teólogos, que exerceram maior influência no Vaticano II. Talvez por ser o mais novo, era o mais livre e ousado nesse quinteto de grandes teólogos católicos.
Na nota de pé de página que escrevi a respeito de sua primeira conferência na Domus Mariae, coloquei as impressões de Dom Helder Camara.
Respiguei depois nas suas Cartas Circulares, outros comentários a respeito de Hans Küng. Helder Camara não esconde seu entusiasmo pelo jovem teólogo suíço:
Valham alguns exemplos:
“À tarde houve aqui, uma palestra esplêndida, Hans Küng, professor da Universidade de Tübingen (Alemanha), sobre o histórico da missa. [...] Tem a profundidade alemã e a fineza austríaca.” HC 13, 26-10-62.
“Hoje, Hans Küng (padre) - cujo livro apresentado pela querida A.C. [Ação Católica], em um dos primeiros boletins do Concílio, em breve enviarei, comentado - volta a fazer-nos uma palestra em Domus Mariae. É uma simpatia! Continuaremos a fazer força pelo Concílio.” HC 14, 28-10-62.
“Já agora somos bons amigos [de Hans Küng]. A 3a palestra que ele ia fazer para nós (sobre o episcopado), eu propus que fosse estendida aos latino-americanos e aberta aos nossos irmãos africanos, com quem ando unidíssimo” (HC 15, 29/10/1962).
Na terceira sessão do Concílio (1964), novo comentário airoso sobre o teólogo, deixando entrever que a admiração era recíproca:
“Ao chegar à Domus, ao final de palestra do Hans Küng, com quem fiquei, depois, até 11 ½ da noite (eu o considero o mais audacioso dos nossos teólogos quando escreve e, ainda mais, quando fala; ele me chama de profeta).” HC 56, 28/29-10-64.
Foto: Pe. Karl Rahner SJ, Áustria, à esquerda e Pe. Hans Küng, Suiça, à direita, em Innsbrück, Áustria, 1962 (crédito: Küng, Memorias, foto 44).
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