Teologia em tempos de pandemia

11 de Marzo de 2021

[Por: Emerson Sbardelotti]




Essa foto mexeu muito comigo, no dia em que assisti o vídeo pela internet e depois nas primeiras páginas dos jornais no dia seguinte. Toda vida é uma dádiva oferecida a nós por Deus! Defender toda vida na Terra não é somente uma obrigação, mas, um certificado de que nos empenhamos em religar a humanidade ao divino.

 

No dia 18 de abril de 2020, o taxista Marcio Antônio do Nascimento Silva teve que chorar a morte de seu filho Hugo, 25 anos, vítima da COVID-19. Uma ONG colocou na areia da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, cruzes representando as vítimas do coronavírus. Alguns apoiadores do atual governo federal brasileiro e negacionistas da pandemia, começaram a derrubar as cruzes. Este pai se sentiu ofendido, afinal, uma daquelas cruzes representava o filho dele. E se derrubassem todas, diversas vezes, ele as recolocaria novamente.

 

Fica a pergunta que este pai fez dias depois, após recolocar cada cruz derrubada: “Era como se fosse a cruz do túmulo do meu filho, que não consegui velar. Uma daquelas cruzes representava ele. Será que se fosse com o filho dele que tivesse acontecido ele faria isso?”.

 

Sinceramente: não creio no arrependimento de pessoas assim mesmo diante da morte!

 

Um mês antes desta foto ser publicada escrevi um poema, ainda sem melodia que diz assim:

 

CriAmor

 

O poeta dizia em uma canção:

“Que os bons morrem jovens”.

E quando a juventude está no espírito,

não pense que seja esquisito

que é preciso esperar um pouco mais

para o encontro definitivo com o Criador...

Na verdade: CriAmor.

Os maus continuam por aí

destilando ódio e fundamentalismo.

A verdade é pluralismo! 

 

Depois de tudo que vi, li, ouvi...sendo realista: até julho de 2021 chegaremos a 500 mil mortes pela COVID-19. Até dezembro chegaremos a 1 milhão de mortos pela COVID-19 no Brasil. O governo nazifascista e seus apoiadores (quem votou nele e agora se diz arrependido também) devem pagar na Justiça Internacional por crimes contra a Humanidade!

 

Testemunho um genocídio que só aumenta a cada dia, e só me resta escrever denunciando isso, pois as instituições que deveriam estar se movimentando para barrarem esta loucura, por motivos obscuros, não fazem nada, ficam assistindo a esse espetáculo de morte, sem se importarem com a vida da população, parecem estar de acordo com todo esse sangue derramado; infelizmente, muitas pessoas dentro das Igrejas estão apoiando este governo genocida. Preferem adorar o ídolo (o mito) do que experimentarem a misericórdia e a justiça que vem dos Evangelhos.

 

Não sou pessimista nem otimista exagerado, mas sempre fui um realista objetivo. Enquanto vários países, buscam oferecer qualidade de vida para suas populações; o Brasil, além de pária das Nações, se torna o epicentro da COVID-19 no mundo. O que um voto errado faz de ruim a toda uma Nação. A um ano que este governo cruel, desde que a COVID-19 chegou no Brasil, não faz outra coisa que não seja negar a pandemia, que não seja sabotar a ciência, a vacina, desacreditar as falas embasadas da Organização Mundial da Saúde, da Fiocruz, do Butantã. Ao invés de triplicarem os esforços para a vacinação total da população brasileira, fica enrolando para comprar mais insumos, mais vacinas; o governo prefere armar parte da população, a outra parte não terá tempo de comprar arma alguma pois estará morta.

 

Me desculpem, mas este desgoverno que está aí não quer outra coisa que não seja a morte de parte da população brasileira: os pobres, os artistas, os professores. Não quero reduzir o leque de opções daqueles e daquelas que já morreram ou que irão morrer, mas estou falando apenas por mim: sou pobre, sou artista e sou professor! E ainda não tenho idade para tomar a vacina, estou aguardando chegar a minha vez; mas paira a desconfiança: terá vacina para todos? 

 

Enquanto teólogo da libertação busco sempre estar imbuído de uma imensa, teimosa e fiel esperança; afinal, a arte de esperançar é fazer jorrar do coração para todo o corpo a utopia inquieta que não deixa dormir em paz, por isso, seguir no caminho de Jesus de Nazaré é não abrir mão da verdade, da justiça, da fraternidade, da misericórdia, da profecia, assumindo o final que o Mestre teve: a cruz.

 

Olho para amigos e amigas, conhecidos e conhecidas, parentes, tantos...tantas...que estão partindo sem direito a uma despedida decente. E nós, que ficamos, precisamos fazer descer da cruz as pessoas e os povos crucificados por esta economia da morte, por esta necropolítica. 

 

Como diriam Caetano Veloso e Gilberto Gil: “é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte!”. Renato Teixeira diria: “irmão, é preciso coragem!”.

 

Ao voltarmos nossa atenção para o Evangelho encontramos uma cena que me parece bastante atual: “Jesus percorria todas as cidades e aldeias, e ali ensinava em suas sinagogas, proclamando a Boa-Nova do reino e curando toda doença e toda enfermidade. Vendo as multidões, tomou-se de compaixão por elas, porque estavam exaustas e prostradas como ovelhas sem pastor. Então diz aos seus discípulos: ‘A messe é abundante, mas os operários, pouco numerosos; pedi, pois, ao dono da messe que mande operários para a sua messe’” (Mt 9,35-38).

 

Tenho me sentido como uma ovelha sem pastor. Olho para o horizonte eclesial e vejo que a profecia está caindo; há focos de resistência aqui e ali, mas no todo, ela vai enfraquecendo, como vela que consumiu toda sua cera. E mesmo assim, atento aos sinais dos tempos, procuro, dentro das minhas possibilidades, ajudar a quem mais necessita, para que tenham um mínimo de dignidade.

 

Termino este meu desabafo com frases de esperança ditas pelo irmão, amigo e profeta Júlio Lancellotti, que tenho repetido como mantras nestes dias pandêmicos: 1. “Deus não está acima de todos. Ele está no meio de nós”. 2. “O povo quer portar cartão de vacina e não arma”. 3. “A gente procura Cristo no sacrário e Ele insiste em ir para debaixo do viaduto”.

 

Emerson Sbardelotti

 

 

PS.: Não encontrei o nome do autor da foto para dar os créditos devidos.

 

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