28 de Enero de 2021
[Por: Fábio Pereira Feitosa]
A Igreja Católica é uma instituição milenar e como tal está presente em todos os continentes. Ao longo de sua história ela registrou em seus diferentes capítulos diversos eventos que a impactaram internamente, mas também influenciaram a sua relação com o mundo. Entre estes eventos temos o Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado por João XXIII e continuado por Paulo VI entre os anos de 1962-1965.
Ao longo da história desta instituição também tivemos diferentes personagens que ganharam notoriedade por sua entrega ao Reino e ao povo de Deus, entre estas figuras temos o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Pessoa Câmara (1909-1999), citado pelo Papa Francisco como um “santo bispo brasileiro”, tal menção é um reconhecimento por parte do sucessor de Pedro do exemplo que foi a vida deste bispo nordestino, que fez de sua trajetória um ato de entrega aos mais pobres e como tal acabou pagando um alto preço e recebeu a alcunha de comunista, expressão tipicamente utilizada durante os anos da Guerra Fria por aqueles que por não entender o Magistério Social taxavam todos aqueles que seguiam tal linha de comunistas, demonstrando assim um total desconhecimento das inúmeras condenações por parte da Igreja a esta filosofia, bem como das incompatibilidade entre cristianismo e comunismo. Em resposta ao que o acusavam de comunista, Dom Helder certa vez afirmou: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”.
Embora, a Guerra Fria tenha chegado ao fim, alguns ainda hoje de forma totalmente equivocada acabam chamando e muitas vezes acusando de comunistas aqueles que seguem o Magistério Social da Igreja. Inclusive, o próprio Papa Francisco já foi acusado erroneamente de ser comunista por seus opositores.
Mas quem foi Dom Helder Pessoa Câmara? Dom Helder, nasceu em Fortaleza – CE, no ano de 1909 e ingressou no Seminário Diocesano em 1923 e recebeu o sacramento da ordem em 1931, com apenas 22 anos. No ano de 1936, padre Helder foi transferido para o Rio de Janeiro. Em 1952, por indicação de Dom Jaime Câmara, até então arcebispo do Rio de Janeiro padre Helder foi eleito Bispo. Como bispo Dom Helder articulou a criação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do CELAN (Conselho Episcopal Latino-americano).
O Arcebispo de Olinda e Recife é tido como um dos protagonistas da Igreja Católica no Brasil no século XX e consolidou-se como sendo uma voz profética no interior de esta instituição e dos principais inimigos do regime militar brasileiro ao denunciar na França em maio de 1970 a pratica de torturas.
Em virtude de sua intensa militância na luta em prol dos direitos humanos no Brasil, Dom Helder passou a ser um dos alvos mais frequente de ataques e ameaças diretas e indiretas, sendo o caso mais grave a morte de um de seus assessores, o Padre Antônio Henrique Pereira Neto, morto no ano de 1969.
Dom Helder recebeu três indicações ao Prêmio Nobel da Paz: 1970; 1971 e 1973, a fim de inviabilizar a sua vitória o governo brasileiro desenvolveu diferentes estratégias, como: difamá-lo nos meios de comunicação social. Ao longo de sua trajetória Dom Helder recebeu inúmeros Títulos e Prêmio, todos ligados ao seu compromisso com a Paz e a Justiça Social. Por seu incansável apostolado, Dom Helder é de fato um dom para a Igreja e um “santo bispo brasileiro”, como afirmou o Papa Francisco e como tal deve ser lembrado.
* Religioso de São Vicente de Paulo. Formado em História e especialista em Educação e atualmente desenvolve pesquisas sobre história da Igreja e sobre História da Vida Religiosa Consagrada.
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