08 de Enero de 2021
[Por: Pedro A. Ribeiro de Oliveira]
Em decorrência de um câncer linfático, Luiz Alberto faleceu na madrugada do dia 30 de dezembro, em Juiz de Fora / MG. Casado com minha irmã Lúcia, deixa uma filha, dois filhos, cinco netos e uma neta. Nascido em Lavras do Sul / RS em 1935, era bacharel em Direito, mestre em Ciência Política e doutor em Sociologia pela Universidade de Paris III. Em 2018 recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, de Belo Horizonte, por sua relevante contribuição no campo do pensamento cristão.
Sua vida pode ser definida pelo título de seu livro de memórias, publicado em 2015: “um andarilho entre duas fidelidades: religião e sociedade”. Intelectual no sentido clássico de erudição, criatividade e notável capacidade de expressão, Luiz Alberto foi intelectual também no sentido gramsciano: pessoa capaz de ler o implícito no real e explicita-lo, para assim apontar os rumos mais adequados à ação transformadora.
Membro da equipe de assessores do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBRADES), percorreu o Brasil dando cursos de formação a militantes de base e agentes de pastoral, muitas vezes fazendo dupla com o Pe. J. B. Libânio. Por muito tempo continuou sendo convidado a dar cursos e palestras a Movimentos sociais, Pastorais, Comunidades Eclesiais de Base – CEBs – e para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Também atuou em outros Países, especialmente da América Latina, seja como técnico da CEPAL e como executivo da FAO, seja como assessor convidado por ONGs ou organismos das Igrejas cristãs. Até recentemente dirigiu o Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.
Ainda estudante foi dirigente nacional da Juventude Universitária Católica e depois Secretário-geral da Juventude Estudantil Católica Internacional. Desde então esteve na linha de frente do processo de aggiornamento da Igreja católica. As raízes de seu pensamento vinham da França recém liberada da dominação nazista, onde E. Mounier era sua grande referência ao formular o personalismo como proposta de sociedade justa e respeitadora dos direitos humanos. Por outro lado, a realidade latino-americana o impelia a beber nas fontes de Marx para entender a lógica perversa do capitalismo. Luiz Alberto não hesitou em trazer aquela teoria para o campo da militância cristã, como instrumento teórico de análise do real, mas o fez afastando-se das correntes dominantes do marxismo e priorizando abordagens então marginalizadas, como as de Antonio Gramsci e de Rosa Luxemburgo.
Seu pensamento corajoso e inovador desempenhou papel fundamental na formação da Esquerda católica, do Brasil, desde a experiência frustrada da Ação Popular dos anos 1960, até as teimosas CEBs e Pastorais Sociais de nossos dias, que ele assessorou enquanto suas forças o permitiram.
Com um pé nas instituições universitárias, como professor, e outro pé no campo eclesial, como assessor de pastoral, Luiz Alberto realizou a difícil proeza de ser respeitado tanto no mundo acadêmico quanto entre militantes cristãos atuantes em Movimentos Sociais. Intelectual não-conformista, gostava de se contrapor ao pensamento predominante nas instituições estabelecidas. Seu gosto pela polêmica e pelo contraditório era expressão de sua pedagogia: obrigar o interlocutor ou interlocutora a desenvolver uma argumentação convincente. Mirando o exemplo de seu personagem favorito – Don Quixote – ele sentia-se à vontade ainda que estivesse sozinho na oposição à corrente de pensamento dominante – inclusive na Esquerda.
Por tudo isso, sua família não hesitou em vesti-lo com a camiseta do Quixote desenhado por Picasso para fazer sua viagem para a eternidade. Com uma salva de palmas, dele nos despedimos ao final de uma celebração macroecumênica, agradecendo a Deus por termos convivido com tal mestre. A-Deus, Luiz Alberto!
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