Reflexões em tempos de quarentena - 16 de agosto de 2020

16 de Agosto de 2020

[Por: Emerson Sbardelotti]




O DIA DO SENHOR EM CASA

EVANGELHO DE LUCAS 1,39-56

 

39Nesses dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, a uma cidade de Judá. 40Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê pulou de alegria em seu ventre. Isabel ficou plena do Espírito Santo 42e exclamou com voz forte: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre! 43Como mereço que a mãe do me Senhor venha me visitar? 44Pois quando a voz de sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê pulou de alegria em meu ventre. 45Feliz aquela que acreditou, porque será cumprido o que lhe foi dito da parte do Senhor”. 

 

46E Maria disse: “Minha alma exalta o Senhor, 47meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para a humilhação de sua serva. Eis que, de agora em diante, todas as gerações me considerarão feliz, 49pois o Todo-podereso fez grandes coisas por mim. Seu nome é santo 50e sua misericórdia perdura de geração em geração para aqueles que o temem. 51Ele agiu com a força de seu braço. Dispersou os arrogantes de coração. 52Derrubou dos tronos os poderosos e exaltou os humildes. 53Encheu de bens os famintos e despediu os ricos sem nada. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55como tinha dito a nossos antepassados, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre”.

 

56Maria ficou com Isabel cerca de três meses, e então voltou para casa.

 

Em 2020, a CEB Nossa Senhora do Magnificat, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Cobilândia, Vila Velha-ES, comemora no Dia do Senhor em que se festeja a Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto), 45 anos de fundação e existência, e já se vão 35 anos que participo, servindo ao povo santo de Deus, da melhor maneira possível. Levando-a em meu coração e em minhas orações, por todos os locais onde Deus me envia a evangelizar. Um maravilhoso detalhe: o nome da Comunidade foi dado por D. João Baptista da Mota e Albuquerque, primeiro arcebispo de Vitória do Espírito Santo, padre conciliar e um dos 40 bispos que assinaram o Pacto das Catacumbas da Igreja Servidora e Pobre (Catacumbas de Domitila, Roma, 1965).

 

Um segundo detalhe: todas as vezes que a Equipe de Liturgia em que atuo, que é a responsável pelo 3º. Domingo, preside e anima a Celebração da Palavra, eu, no serviço de ministro da Palavra, convidava duas mães: uma mais experiente e uma mais jovem (esta tocava a guitarra e cantava na Celebração) que cantava o Magnificat. Eu me tornava o narrador do texto bíblico; a mãe mais experiente narrava o texto dito por Isabel e a jovem mãe cantava o Magnificat. Momento de muita emoção na Comunidade, pois este Evangelho era proclamado, cantado por duas mulheres. Nas vozes destas duas mulheres a profecia e a força deste Evangelho de Lucas nos ensinou a viver e ensinar a viver o Magnificat à luz da morte-ressurreição de Jesus de Nazaré, sempre iluminando a nossa caminhada.

 

O Magnificat se inspira fortemente no cântico de Ana (cf. 1Sm 2,1-10), mas não foi composto por Maria, mas, provavelmente, fosse um hino de louvor à intervenção de Deus nas primeiras comunidades cristãs, em favor dos pobres, excluídos e discriminados. É um texto profético, que colocado nos lábios de Maria de Nazaré tornam presente a ação do Deus da Vida em favor dos pobres do Reino.

 

Nesta Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, faço memória do 9º. dia da Páscoa de Pedro Casaldáliga, que ao recitar o poema Maria da Libertação, fazia-nos mergulhar na beleza do Magnificat:

 

Maria nossa do Magnificat:

queremos cantar contigo!

Maria de nossa Libertação!

Contigo proclamamos a grandeza do Senhor, que é o único grande,

e nEle nos alegramos contigo, porque, apesar de tudo, Ele nos salva.

Contigo cantamos, Maria, exultantes de gratuidade,

porque Ele se fixa nos insignificantes;

porque seu poder se derrama sobre nós em forma de amor;

porque Ele é sempre fiel,

igual em nossas diversidades,

único para nossa comunhão,

de século em século, de cultura em cultura, de pessoa em pessoa.

Porque seu braço intervém historicamente,

por intermédio de nossos braços, inseguros mas livres;

porque um dia intervirá, definitivamente Ele.

[...] Maria de Nazaré, cantadora do Magnificat, servidora de Isabel:

fica também conosco, que está para chegar o Reino!

Fica conosco Maria, 

com a humildade de tua fé, capaz de acolher a Graça;

fica conosco,

com o Espírito que te fecundava a carne e o coração;

fica conosco,

com o Verbo que ia crescendo em ti,

humano e Salvador, judeu e Messias, Filho de Deus e filho teu,

nosso Irmão,

Jesus (CASALDÁLIGA, 1988, p. 255-257).

 

E ainda completou: “Maria de Nazaré” ainda é atualidade. Inclusive nesta nossa Igreja da contestada libertação. Digo mais: é sobretudo em nossa Igreja que ela é atualidade, nova e forte. Porque é mais que latino-americana, utopia, paradoxo e mistério, periferia marginal e vitória da pequenez, essa Maria de Nazaré, comadre pobre, esposa do camponês-operário-quebra-galho, cantadora libertária do Magnificat, seguidora do “subversivo” Jesus, Filho do Deus Vivo e filho dela, condenado e executado pelo Império e pelo Templo, no entanto ressuscitado e presentíssimo (CASALDÁLIGA, 1988, p. 259).

 

Duas mulheres que se encontram para louvarem a Deus pelas vidas que carregam em seus ventres. Vidas que serão doadas em serviço à outras vidas. Cada um com o seu estilo, cada um com a sua mensagem.

 

Nossas Comunidades Eclesiais de Base são convidadas neste Dia do Senhor a festejarem a ação de Deus na vida dos pobres de Israel, refundando a justiça e a esperança. A direção dada pelo Magnificat é que a Boa Notícia terá como destinatários: os pobres.

 

A Ave-Maria é o salmo mais rezado em toda a América Latina e Caribe. Convido a você rezar esta linda releitura feita por Frei Betto:

 

AVE MARIA LATINO-AMERICANA

 

Ave Maria,

grávida das aspirações de nossos pobres,

o Senhor é convosco,

bendita sois vós entre os oprimidos,

benditos os frutos de libertação

do vosso ventre.

 

Santa Maria, mãe latino-americana,

rogai por nós

para que confiemos no Espírito de Deus,

agora que o nosso povo assume a luta por justiça

e na hora de realizá-la em liberdade,

para um tempo de paz.

 

Amém!

 

 

Emerson Sbardelotti 

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 Arte-Vida de Luís Henrique Alves Pinto

 

Cita

 

 

1 CASALDÁLIGA, Pedro. Na procura do Reino – Antologia de textos 1968/1988. São Paulo: FTD, 1988.

 

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