[Por: José Neivaldo de Souza]

Em fevereiro de 2018 eu escrevi um texto, celebrando os noventa anos de Dom Pedro Casaldáliga, sobre a festa da resistência e da esperança. Hoje escrevo para celebrar a páscoa desse grande profeta e poeta que escolheu o celibato como oblação pelo Reino de Deus. 

Pedro Profeta! Estatura pequena, frágil, de alma gigante e corajosa. Diante das perseguições revelou a fortaleza da fé, o vigor da esperança e a robustez do amor pelos mais pobres. O bispo da Prelazia de São Felix do Araguaia não se orgulhava do cargo. Seu compromisso, nas trilhas de Isaías, e no ensinamento de Jesus, era com o Reino de Deus; um Reino urgente de justiça, que começa já, a partir dos oprimidos: índios explorados, negros subjugados, mulheres abusadas, etc.  

Homem de palavra! Beleza no olhar e nos gestos. Um pastor cujo báculo era um remo, sem anel de doutor, longe das pompas litúrgicas e das vestes suntuosas.    Como Jesus, o mestre, tinha uma missão: provocar a fome de Deus. Interpretava o mundo de pés no chão e olho na Bíblia. Repetia o trecho do evangelho que diz: “Ouro e prata não tenho” e acrescentava: “nem armas, nem diplomacia, nem poder. “O que tenho, isso vo-lo dou”: a oração de minha fé cristã, minha paixão latino-americana, a inquebrantável esperança na libertação do Reino e, se for preciso, com tantos outros que nos precederam, a minha própria vida”.  

Pedro Poeta! Quão belos são seus poemas! Brotaram de um espirito esperançoso. Em uma oração pelo 7° Encontro Intereclesial de CEBs. A beleza dos versos salta aos olhos: 

Pai de Jesus e Pai nosso, Deus da vida e Senhor da História: convocados por vosso Espírito, Iluminados pelo Evangelho, alimentados na Eucaristia e sustentados pelo testemunho de nossos mártires, somos o “Povo de Deus, na América Latina, a caminho da libertação. (...) Ajudai-nos a construir o vosso Reino, na oração e no trabalho, na família e no movimento popular, na luta e na festa, sendo a Igreja pobre e unida, livre e libertadora, autenticamente latino-americana. Com todos vossos filhos, nossos irmãos, que lutam pela justiça e esperam a libertação. 

Dom Pedro Casaldáliga foi um profeta do povo simples e um poeta de Deus. Sua luta será lembrada, pois outro objetivo não teve senão provocar no seu povo a fome de Deus.