Em busca da beleza

06 de Agosto de 2020

[Por: José Neivaldo de Souza]




Beleza! É um desafio defini-la, mas concordo com Charles Chaplin ao dizer que ela “é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la, mas quem consegue descobre tudo”. Busco a beleza das coisas, das pessoas e de Deus, mas não saberia defini-la sem pensar em valores como amor e justiça.   

 

Belo é contemplar este imenso universo e sentir, na mesma sintonia, sua pulsação. Tudo é harmonia! A natureza tende ao Bem e tudo o que a agride é nocivo à esta beleza: poluição das águas e do ar, desmatamento e exploração parasitária do ser humano em favor do lucro e acúmulo de capital. O dinheiro em si não é um mal, enquanto energia sua finalidade é simbólica: simboliza troca, doação. Porém, como observou o teólogo Jean-Ives Leloup, a energia acumulada pode nos envenenar. A relação com o dinheiro diz muito da relação com a natureza, com as pessoas e com Deus. 

 

A beleza do ser humano está em viver a igualdade. Naturalmente não somos indivíduos dados à injustiça e ao ódio pelo outro. Somos seres relacionais e tudo o que foge à alteridade é agressivo à vida. Nascemos de relações e vivemos por elas. Somos dependentes da boa vontade dos outros. O problema se estabelece quando o indivíduo se coloca como centro de si mesmo destituindo o direito do outro ser. Rousseau, filósofo francês, em seu “Discurso sobre a desigualdade”, observou que a deterioração da humanidade começou quando o ser humano abandonou o seu estado natural para se individualizar; quando o primeiro homem, se dizendo civil e com o aval ou a inércia de pessoas simplórias, cercou um terreno e o tomou para si: “quantas misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tampando o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘evitai escutar esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não é de ninguém!’”. 

 

Rollo May em “O Homem à procura de si mesmo” procura a beleza humana e diz que sua característica singular é a autoconsciência, a capacidade da pessoa de sair de si e se ver de fora, ter empatia, isto é: eu me vejo com o outro me vê. Isso “constitui os rudimentos da capacidade para amar ao próximo, ter sensibilidade ética, considerar a verdade, criar a beleza, dedicar-se a ideais e morrer por eles, caso necessário”.      

 

A beleza de Deus está na condição que Ele ocupa na vida humana. Escreveu Rubem Alves: “Deus é uma suspeita do nosso coração de que o universo tem um coração que pulsa como o nosso”. A beleza da vida está regada de amor, justiça e liberdade, atributos da beleza divina. Amor que não leva à igualdade nada mais é do que apologia ou discurso para justificar injustiças. A justiça, fruto do amor, não se reduz às leis que mantém os privilégios de poucos à custa do desespero de muitos. Dom Elder Câmara denunciou isso: “Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”. A liberdade, construída sobre o amor e a justiça, institui e constitui a autoconsciência. É preciso ser humano para transcender. Rubem Alves escreveu: “Vejo as pessoas religiosas fechar os olhos para orar. Elas creem que, para se ver Deus, é preciso não ver o mundo". Não se pode tocar os céus senão com os pés no chão, agindo com amor e justiça.  

 

Tratar da beleza é trazer à mente um conceito antigo, porém muito atual. Hoje enquanto muitos a associam a um corpo feminino, que se encaixa ao modelo que a mídia propõe e divulga, faz-se necessário uma retomada deste conceito. A beleza não se limita a um gosto individual e egóico, ela se impõe como uma luz universal que brilha sobre a natureza, as pessoas e sobre Deus. Luz a ser seguida e assimilada.

 

Imagem: http://www.lupaprotestante.com/blog/la-belleza-de-dios/

 

 

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