Reflexões em tempos de quarentena - 02 de agosto de 2020

02 de Agosto de 2020

[Por: Emerson Sbardelotti]




13Ouvindo a notícia, Jesus, de barco, se retirou daí para um lugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões ficaram sabendo, partiram das cidades e o seguiram a pé. 14Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão, encheu-se de compaixão por ela e curou os doentes.

 

15Ao entardecer, os discípulos foram a Jesus e lhe disseram: “Este lugar é deserto e já é tarde. Despede as multidões, para que vão aos vilarejos comprar comida para si”. 16Jesus lhes disse: “Não é preciso eles irem. Vocês é que devem dar-lhes de comer”. 17Eles disseram: “Não temos aqui nada mais que cinco pães e dois peixes”. 18Então Jesus disse: “Tragam aqui pra mim”. 19Em seguida, mandou que as multidões se sentassem na grama. Tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, e, partindo os pães, os abençoou e entregou aos discípulos, e os discípulos para as multidões. 20Todos comeram e ficaram satisfeitos. E, com os pedaços que sobraram, recolheram doze cestos cheios. 21Os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

 

O Evangelho de hoje inicia com Jesus ouvindo a notícia do martírio do profeta João Batista. Os donos do poder, tentam a todo custo, todos os dias, eliminar toda e qualquer vida, matando a alegria e a esperança do povo santo de Deus.

 

José Antonio Pagola afirma que a morte do Batista deve ter causado grande impacto. Com ele desaparecia o profeta encarregado de preparar Israel para a vinda definitiva de Deus. Todo o projeto de João ficava interrompido. Não fora possível sequer completar a primeira etapa. A conversão de Israel ficava inacabada. O que iria acontecer agora com o povo? Como iria atuar Deus? Entre os discípulos e colaboradores de João tudo é inquietude e confusão.

 

Jesus reage de maneira surpreendente. Não abandona a esperança que animava o Batista, mas a radicaliza até extremos insuspeitados. Não continua batizando como outros discípulos de João, que continuaram sua atividade depois da morte dele. Dá por terminada a preparação que o Batista impulsionou até então e transforma seu projeto em outro novo. Nunca põe em dúvida a missão e a autoridade de João, mas inicia um projeto diferente para a renovação de Israel. Em Jesus vai despertando uma convicção: Deus vai atuar nesta situação desesperada de um modo insuspeitado. A morte do Batista não será o fracasso dos planos de Deus, mas o começo da sua ação salvadora. Deus não vai abandonar o povo. Pelo contrário, é agora que irá revelar ainda melhor sua misericórdia.

 

Jesus começou a ver tudo a partir de um horizonte novo. Já acabou o tempo de preparação no deserto. Começa a irrupção definitiva de Deus. É preciso situar-se de maneira diferente. O que João esperava para o futuro já começa a tornar-se realidade. Começam uns tempos que não pertencem à época antiga da preparação, mas a uma era nova. Já está chegando a salvação de Deus (PAGOLA, 2012, p.103-104).

 

Mencionar o deserto é evocar a ideia do êxodo, enquanto projeto de vida querido por Deus. O povo, que sai das cidades, quer se livrar do sistema que oprime e mata. No encontro com o povo que o seguiu, Jesus de Nazaré tem compaixão por eles e elas. Compadecer é sofrer com quem sofre. Ao curar os doentes Jesus devolve ao coração delas e deles: a esperança e a vida.

 

Enquanto os discípulos querem despedir as multidões, para que possam comprar comida; Jesus diz que eles é que devem dar-lhes de comer. Comprar, tem o significado de retornar à opressão, à escravidão e à exploração das cidades; para Jesus a alternativa tem que ser outra: eles é que devem dar-lhes de comer.

 

A proposta de Jesus é que se partilhe tudo o que se tem. Partilhar é o ato mais revolucionário do Evangelho de hoje. Partilhar é uma forma alternativa e eficaz para desmoronar as estruturas de dependência e miséria que mantêm o ser humano submisso e dependente de uma economia que não valoriza a vida, mas patrocina a morte. 

 

Na época de Jesus, sentar para participar de um banquete, era um sinal de que ali estavam e se reuniam pessoas livres. Ao partilhar os alimentos é concedida a gratuidade e a generosidade de Deus. Gesto de fraternura de uns com os outros, numa grande ciranda de gentileza e afeto. Algo que, infelizmente, só acontece nos momentos em que a humanidade está de joelhos frente a uma calamidade pública que ceifa a vida de tantos, de tantas. 

 

Em breve chegaremos a estúpida marca de 100 mil mortos pelo COVID-19. Um verdadeiro genocídio. Um crime contra a humanidade.

 

Neste Dia do Senhor: Domingo da Fome Saciada: o verdadeiro milagre contido neste Evangelho é o amor traduzido na partilha ensinada e querida por Jesus de Nazaré, que garantiu no texto, a abundância dos bens; que nos leva a refletir profundamente que é possível, necessário e urgente suprimir as terríveis desigualdades presentes nesta sociedade brasileira tão injusta e gananciosa, onde a necropolítica de um governo incapaz e sem habilidade para enfrentar crises, pelo contrário, fazendo-as aumentar, como bem expressam os bispos da Igreja Católica na corajosa e profética Carta ao Povo de Deus. (leia, ao final desta reflexão a íntegra desta Carta, ainda não aprovada pela CNBB, mas já defendida por inúmeras pessoas que estão presentes na defesa da vida).

 

O poeta Sergio Vaz tem uma frase que ecoa como um mantra nestes dias sombrios em que vivemos no Brasil: “Milagres acontecem quando a gente vai à luta”! Neste momento, prefiro estar ao lado destes 152 bispos católicos na luta pela defesa da vida, sabendo muito bem, qual será o preço a se pagar. Ainda bem que eu sempre soube que nunca seria fácil.

 

Convido você, que reflete este Evangelho da instituição da partilha como dom e ato revolucionário a cantar uma linda e antiga canção das Comunidades Eclesiais de Base, feita pelo querido cantador Roberto Malvezzi, o “Gogó”, parceiro de sonhos, utopias e profecias: O Milagre de Repartir, que hoje se torna O Milagre de Partilhar...e sei que ele não vai se importar, que eu cante bastariam cinco pães e dois peixes...

 

Bastariam dois pães e dois peixes e o milagre do amor pra acabar com tanta fome e acabar com tanta dor.

 

Jesus vendo a multidão, sabendo que tinha fome, pediu a quem tivesse alguma coisa pra aqueles homens e repartiu o peixe e o pão. Criou assim a comunhão.

 

Maria, em seu fogão, cozeu um pouco de pão, depois repartiu aos filhos como se fosse o seu coração. Refez o gesto de Nosso Senhor. Refez o gesto do seu amor.

 

O Cristo que agora vem e dá-se entre os irmãos, sacia a cada um, com o pão da vida e a vida do pão. Essa é a lei de Nosso Senhor. Não há medida para o amor.

 

Agora, enquanto termino esta reflexão, me lembro de uma vez, quando chegou uma família no portão, onde um pai, uma mãe grávida, uma menina na época com uns 5 anos, um menino na época com uns 3 anos, e o pai pediu com os olhos profundos e cansados de tantos nãos...um prato de comida: para os filhos e para a esposa...e emenda me dizendo: “eu posso pagar fazendo qualquer coisa que o senhor pedir depois que minha família comer”. E de sua alegria ao ver o pouco que eu tinha sendo partilhado com eles, elas; mas dado com amor. Sentaram-se na calçada e comeram e ficaram satisfeitos. Ao se despedirem me disseram: “Deus lhe faça feliz”. E pela primeira vez na vida eu compreendi: “Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,6-8).

 

 

Emerson Sbardelotti 

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 Arte-Vida de Luís Henrique Alves Pinto

 

 

“CARTA AO POVO DE DEUS”

 

Somos bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Escrevemos esta Carta ao Povo de Deus, interpelados pela gravidade do momento em que vivemos, sensíveis ao Evangelho e à Doutrina Social da Igreja, como um serviço a todos os que desejam ver superada esta fase de tantas incertezas e tanto sofrimento do povo.

 

Evangelizar é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do Evangelho, 176). Temos clareza de que “a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus […] (Lc 4,43 e Mt 6,33)” (Alegria do Evangelho, 180). Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e meta.

 

É neste horizonte que nos posicionamos frente à realidade atual do Brasil. Não temos interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus, presente em nossa história, na medida em que avançamos na construção de uma sociedade estruturalmente justa, fraterna e solidária, como uma civilização do amor.

 

O Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, comparado a uma “tempestade perfeita” que, dolorosamente, precisa ser atravessada. A causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança.

 

Este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exige de suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados. Somos convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta. Essa realidade não comporta indiferença.

 

É dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em relação a esse cenário. As escolhas políticas que nos trouxeram até aqui e a narrativa que propõe a complacência frente aos desmandos do Governo Federal, não justificam a inércia e a omissão no combate às mazelas que se abateram sobre o povo brasileiro. Mazelas que se abatem também sobre a Casa Comum, ameaçada constantemente pela ação inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores, latifundiários e outros defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos humanos e os da mãe terra. “Não podemos pretender ser saudáveis num mundo que está doente. As feridas causadas à nossa mãe terra sangram também a nós” (Papa Francisco, Carta ao Presidente da Colômbia por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, 05/06/2020).

 

Todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste momento tão grave e desafiador. Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela COVID-19, tratando-o como fruto do acaso ou do castigo divino, o caos socioeconômico que se avizinha, com o desemprego e a carestia que são projetados para os próximos meses, e os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer preço. Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco suporta ser confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja, no seguimento Àquele que veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

 

Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade do Governo Federal em enfrentar essas crises. As reformas trabalhista e previdenciária, tidas como para melhorarem a vida dos mais pobres, mostraram-se como armadilhas que precarizaram ainda mais a vida do povo. É verdade que o Brasil necessita de medidas e reformas sérias, mas não como as que foram feitas, cujos resultados pioraram a vida dos pobres, desprotegeram vulneráveis, liberaram o uso de agrotóxicos antes proibidos, afrouxaram o controle de desmatamentos e, por isso, não favoreceram o bem comum e a paz social. É insustentável uma economia que insiste no neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos grupos poderosos em detrimento da grande maioria da população.

 

O sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a qualquer preço. Convivemos, assim, com a incapacidade e a incompetência do Governo Federal, para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de ele se colocar contra a ciência, contra estados e municípios, contra poderes da República; por se aproximar do totalitarismo e utilizar de expedientes condenáveis, como o apoio e o estímulo a atos contra a democracia, a flexibilização das leis de trânsito e do uso de armas de fogo pela população, e das leis do trânsito e o recurso à prática de suspeitas ações de comunicação, como as notícias falsas, que mobilizam uma massa de seguidores radicais.

 

O desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece. Esse desprezo é visível nas demonstrações de raiva pela educação pública; no apelo a ideias obscurantistas; na escolha da educação como inimiga; nos sucessivos e grosseiros erros na escolha dos ministros da educação e do meio ambiente e do secretário da cultura; no desconhecimento e depreciação de processos pedagógicos e de importantes pensadores do Brasil; na repugnância pela consciência crítica e pela liberdade de pensamento e de imprensa; na desqualificação das relações diplomáticas com vários países; na indiferença pelo fato de o Brasil ocupar um dos primeiros lugares em número de infectados e mortos pela pandemia sem, sequer, ter um ministro titular no Ministério da Saúde; na desnecessária tensão com os outros entes da República na coordenação do enfrentamento da pandemia; na falta de sensibilidade para com os familiares dos mortos pelo novo coronavírus e pelos profissionais da saúde, que estão adoecendo nos esforços para salvar vidas.

 

No plano econômico, o ministro da economia desdenha dos pequenos empresários, responsáveis pela maioria dos empregos no País, privilegiando apenas grandes grupos econômicos, concentradores de renda e os grupos financeiros que nada produzem. A recessão que nos assombra pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de brasileiros. Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda.

 

Fechando os olhos aos apelos de entidades nacionais e internacionais, o Governo Federal demonstra omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres e vulneráveis da sociedade, quais sejam: as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, as populações das periferias urbanas, dos cortiços e o povo que vive nas ruas, aos milhares, em todo o Brasil. Estes são os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus e, lamentavelmente, não vislumbram medida efetiva que os levem a ter esperança de superar as crises sanitária e econômica que lhes são impostas de forma cruel. O Presidente da República, há poucos dias, no Plano Emergencial para Enfrentamento à COVID-19, aprovado no legislativo federal, sob o argumento de não haver previsão orçamentária, dentre outros pontos, vetou o acesso a água potável, material de higiene, oferta de leitos hospitalares e de terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea, nos territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais (Cf. Presidência da CNBB, Carta Aberta ao Congresso Nacional, 13/07/2020).

 

Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário. Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?

 

O momento é de unidade no respeito à pluralidade! Por isso, propomos um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, com ética na política, com transparência das informações e dos gastos públicos, com uma economia que vise ao bem comum, com justiça socioambiental, com “terra, teto e trabalho”, com alegria e proteção da família, com educação e saúde integrais e de qualidade para todos. Estamos comprometidos com o recente “Pacto pela vida e pelo Brasil”, da CNBB e entidades da sociedade civil brasileira, e em sintonia com o Papa Francisco, que convoca a humanidade para pensar um novo “Pacto Educativo Global” e a nova “Economia de Francisco e Clara”, bem como, unimo-nos aos movimentos eclesiais e populares que buscam novas e urgentes alternativas para o Brasil.

 

Neste tempo da pandemia que nos obriga ao distanciamento social e nos ensina um “novo normal”, estamos redescobrindo nossas casas e famílias como nossa Igreja doméstica, um espaço do encontro com Deus e com os irmãos e irmãs. É sobretudo nesse ambiente que deve brilhar a luz do Evangelho que nos faz compreender que este tempo não é para a indiferença, para egoísmos, para divisões nem para o esquecimento (cf. Papa Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, 12/4/20).

 

Despertemo-nos, portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam. Com o apóstolo São Paulo, alertamos que “a noite vai avançada e o dia se aproxima; rejeitemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,12).

 

O Senhor vos abençoe e vos guarde. Ele vos mostre a sua face e se compadeça de vós. O Senhor volte para vós o seu olhar e vos dê a sua paz! (Nm 6,24-26).

 

 

Assinam 152 bispos, entre eles, Dom Cláudio Humes.

 

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