Reflexões em tempos de quarentena - 05 de julho de 2020

05 de Julio de 2020

[Por: Emerson Sbardelotti]




25Nessa ocasião, Jesus começou a dizer: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas a sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai. E ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 28Venham a mim, todos vocês que andam cansados e curvados pelo peso do fardo, e eu lhes darei descanso. 29Carreguem minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. 30Pois minha carga é suave e meu fardo é leve”.

 

O Evangelho que refletimos hoje é tradicionalmente conhecido como o Hino da Alegria, uma espécie de salmo que saiu da boca de Jesus de Nazaré.

 

O louvor que Jesus eleva ao Pai, pode parecer estranho, pode parecer que Jesus esteja preferindo apenas os pequeninos e descartando os sábios, os doutores e os entendidos. Os sábios e entendidos da época de Jesus não entenderam sua mensagem a respeito do Reino e a Justiça de Deus; ao contrário, os pequeninos, as ovelhas sem pastor, os simples, os pobres compreendem a mensagem de Jesus de Nazaré e a colocam em prática, pois é uma boa notícia de libertação, de misericórdia, de esperança e de defesa da vida. E ao compreenderem a mensagem de Deus, os pequeninos, que não possuem a ciência religiosa, pela revelação que Jesus oferece, se tornam os amados de Deus. Deus opta pelos pobres, não porque são melhores do que os ricos, mas porque são as vítimas.

 

O agrado de Deus pelos pecadores, aqueles mais desprovidos de tudo e de todos, é repleta de compaixão; portanto, o privilégio dado aos pequeninos, não tem origem em nenhuma virtude humana, mas da infinita e misericordiosa vontade de Deus.

 

O Pai conhece o Filho; o Filho conhece o Pai: o verbo conhecer, tem o significado profundo de que Jesus de Nazaré faz uma experiência íntima do Pai; portanto, conhecer é experimentar. Para nós, conhecer a graça de Deus apresentada por Jesus é experimentá-la, acolhê-la e aceita-la, reconhecendo que é este itinerário que nos levará ao conhecimento da salvação que é a própria experiência da salvação. A salvação passa pela cruz. Não há salvação sem cruz!

 

A misericórdia e a compaixão exercitada por Jesus de Nazaré é que coloca os pequeninos em sua direção. O descanso ainda não será o céu, mas a paz, o alívio e a liberdade. Jesus oferece a todos nós um novo modo de viver: a justiça de Deus, reveladora do amor e da misericórdia divina, ampla e irrestrita.

 

Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Jesus se coloca como uma nova fonte de vida capaz de restaurar o povo cansado: “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo” (11,28) do ensino e interpretação da Lei feita pelos entendidos, porque estão fazendo da Palavra um instrumento de dominação do povo. Jesus convida a todos, sem distinção de raça, de sexo e de classe a se aproximarem dele. O seu ensino é descanso do passado opressor. Sua mensagem tem exigências, ela é jugo suave, não como a Lei ensinada pelos letrados, que mantinha o povo na opressão do puro-e-impuro. Jesus convida o povo a romper com o ensinamento legalista que esmagava e a assumir o seu ensinamento. Ele é o Filho, a Sabedoria que conhece e revela o Pai. Ao invés de uma moral sufocante, sem alegria, Jesus propõe o serviço exigente e alegre das bem-aventuranças! 

 

Os versículos 28-30 só aparecem em Mateus. Eles são reveladores do fardo da interpretação da Lei que os líderes do judaísmo formativo estavam impondo sobre o povo. Ao mesmo tempo este texto deixa claro que as comunidades dos pequeninos são portadoras da libertação messiânica que Jesus veio trazer. A novidade não virá através da elite dos sábios e entendidos, mas através da comunidade dos pequeninos com os quais Jesus se identifica. Os pobres são evangelizados e evangelizam. Esta reflexão nos convida a perguntar: que efeito produz em nós a palavra do pobre, do excluído, da excluída? (CNBB, 1998, p. 95-96).

 

Neste domingo, Dia do Senhor, mais um da longa quarentena, recebo com apreensão a notícia que religiosos pensam em reabrir as igrejas; sinceramente e de todo o coração: ainda não é o momento. Nosso Deus é um Deus Pai e Mãe de misericórdia, um Deus da defesa da Vida, e palavras que Ele nos diz hoje, escondidas dos sábios e entendidos são essas: TODA VIDA IMPORTA!

 

Se toda vida importa, em obediência ao Evangelho, não podemos sair de nossas casas, ainda não há uma vacina para o COVID-19, e já passou de 60 mil pessoas mortas no Brasil. Em nome de Jesus de Nazaré, as igrejas devem continuar fechadas e as pessoas devem respeitar o isolamento social em casa. Fique em casa, proteja sua vida, proteja as nossas vidas!

 

Nós que andamos cansados e curvados por causa do peso do fardo, com esperança e coragem, caminhamos na direção dos abreijos com fraternura de Jesus de Nazaré. Nossa luta na pandemia é pela vida: vida em abundância para todos!

 

Pensando em todas essas coisas, fiz este poema, que partilho com você, encerrando a minha reflexão:

 

LUTAR NA PANDEMIA

 

Não consigo respirar / Não consigo nem gritar / Um pé no meu pescoço / Sem fruta, sem caroço / Amor e poesia / Lutar na pandemia

 

Sou contra o racismo / Sou contra o machismo / Abraços são presentes / Abraços dos ausentes / Amor e poesia / Lutar na pandemia

 

Combater todo medo / Expor todo segredo / Seja cego ou mudo / Vida além de tudo / Amor e poesia / Lutar na pandemia

 

Resistir tem um preço / Tem CEP e endereço / Juntos na amizade / Juntos na liberdade / Amor e poesia / Lutar na pandemia

 

Não se compra respeito / Nasce dentro do peito / O olhar verdadeiro / Acolhe o parceiro / Amor e poesia / Lutar na pandemia

 

Nada de gripezinha / Morte como vizinha / Não solte a minha mão / É virtual a canção / Amor e poesia / Lutar na pandemia

 

Pra você que entendeu / Que sorriu e percebeu / Abra a sua asa / Fique salvo em casa / Amor e poesia /Lutar na pandemia

 

 

Emerson Sbardelotti 

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 Arte-Vida de Luís Henrique Alves Pinto

 

Cita

 

 

1 CNBB. Ele está no meio de nós! – O Semeador do Reino: O Evangelho segundo Mateus. São Paulo: Paulinas, 1998.

 

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