Reflexões em tempos de quarentena - 28 de junho de 2020

28 de Junio de 2020

[Por: Emerson Sbardelotti]




O DIA DO SENHOR EM CASA

EVANGELHO DE MATEUS 16,13-19

 

13Quando chegou à região de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: “Quem as pessoas dizem que é o Filho do Homem?”. 14Eles disseram: “Alguns dizem que é João Batista; outros dizem que é Elias; outros, que é Jeremias ou algum dos profetas”. 15Perguntou-lhes então: “E vocês, quem vocês dizem que eu sou?”. 16Simão Pedro, respondendo, disse: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. 17Jesus lhe respondeu: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas. Porque não foi alguém de carne e sangue quem lhe revelou isso, e sim o meu Pai que está nos céus. 18Eu também lhe digo: Você é Pedro e sobre esta pedra construirei a minha igreja. E as portas do inferno não dominarão sobre ela. 19Eu darei a você as chaves do Reino dos Céus: o que você ligar na terra, será ligado nos céus; o que você desligar na terra, será desligado nos céus”.

 

O dia 29 de junho, é a data consagrada pelo nosso povo - exclusivamente à memória de São Pedro. É claro que a tradição ocidental junta, numa única celebração, a memória de São Pedro e São Paulo, colunas da Igreja. Mas, para seguirmos a intuição do nosso povo, com a liberdade dos filhos e filhas de Deus, podemos consagrá-la especial e exclusivamente à memória do santo pescador e pecador, que aprendeu, às custas de muitas mancadas, o amor e a fidelidade a Jesus, seu Mestre. 

 

Podemos deixar para fazer com São Paulo, o que fazem os paulistas, comemorando a sua preciosa memória no dia 25 de janeiro ou no domingo seguinte. 

 

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré envia os doze em missão e eles tomam conhecimento das reações do povo a respeito dele, considerando-o como enviado especialíssimo de Deus para preparar a era messiânica; alguém poupado da morte ou morto e redivivo para ter maior autoridade. 

 

As diversas respostas colocam Jesus de Nazaré na linha da tradição profética. Messias-Cristo era o título de esperança para indicar o salvador que Deus enviaria ao seu povo. Naquele momento da história de Israel a esperança em um Messias-Cristo não estava separada das aspirações políticas de um povo escravo de Roma. De fato, a missão de Jesus era anunciar o projeto de vida do reino de Deus. Sua nova comunidade-igreja de amigos e amigas, de discípulas e discípulos, missionárias e missionários, terá em Pedro, sua pedra fundamental (do grego: pétros - indica uma pedra, pedregulho que se pode pegar, mover e lançar). Enquanto a pedra (do grego: petra - silhar, penha ou rocha, aquilo que provê um fundamento sólido para uma construção), é onde se assentará a obra e o domínio de Jesus que ele chama de "minha igreja". A palavra Pedro, em aramaico kepha (rocha), significa pedra escavada, gruta que serve de abrigo para os pobres, os pastores e seus animais.

 

Ao mudar o nome de Simão para Pedro, atribui a ele a tarefa de ser a rocha que dará solidez à comunidade nova daqueles que aderem a Jesus pela fé. Isso não é um reconhecimento de suas qualidades pessoais e naturais, mas ao que Pedro será. É um caminho vocacional que irá transformar Pedro, para a missão que é unir a todos em torno da Palavra de Deus e de sua misericórdia. Não se trata de um poder sem limites, mas é um poder de responsabilidade pastoral. 

 

José Bortoloni diz que Jesus realiza o projeto de Deus (é o Messias) num contexto de conflitos e violência, passando pela morte e vencendo-a. Seu messianismo é uma luta constante em favor da justiça do Reino e contra as injustiças que promovem a morte. E o cristianismo, o que é? É o prolongamento da ação de Cristo que promove a justiça e a torna possível. O poder de Jesus é um poder que comunica vida. Sua prática o demonstra. Seu nome o comprova. Ora, ele quer como seus colaboradores aqueles que estão dispostos a confessá-lo, pois a partir desse testemunho é que nasce a comunidade de Cristo (“construirei a minha Igreja”). Jesus faz suas testemunhas participarem do seu poder de vida (“darei as chaves do Reino do Céu”). Quando o testemunho cristão é pleno, é o próprio Jesus quem age na comunidade, permitindo-lhe ligar e desligar. Contudo, a comunidade não é proprietária do poder de Jesus. É ele quem construirá e dará do que é seu. A comunidade administra esse poder a partir do testemunho que vive e anuncia. Assim agindo, demonstra quem é a favor e quem é contra Jesus (BORTOLINI, 2010, p. 758).

 

No outro lado da História, temos o apóstolo Paulo, que é o grande responsável pela difusão do Evangelho. Transformado por Cristo em mensageiro, ele realiza com excelência a missão dos apóstolos serem testemunhas de Cristo. Ele é o apóstolo das nações. Ele teve seu nome mudado por Cristo, seduziu e se deixou seduzir, combateu o bom combate, completou a carreira, manteve a fé. Por causa de Paulo temos uma teologia jesuânica; para nós da América Latina e do Caribe, ela é da libertação, inculturada, próxima a nós. 

 

O que seria hoje combater o bom combate? Lutar pela justiça, pela verdade, contra o racismo, contra o fundamentalismo, contra o fanatismo, contra a discriminação, contra o machismo e contra todos os tipos de violência que impedem sermos de fato, seres humanos. 

 

Pedro e Paulo são personagens com características bem diferentes, porém, com um mesmo intuito: fazer com que a mensagem de Jesus de Nazaré chegue a todos os corações.

 

Em quase 100 dias de isolamento social, a Palavra de Deus fez nossas famílias se reunirem, se unirem; reaprendemos a rezar juntos. O maior símbolo destes 100 dias: o pão caseiro. Muitas pessoas passaram a fazer, a partir de incontáveis receitas, o pão caseiro. Ao modelar a massa, ao esticar e colocar na forma, o pão se tornou símbolo de aproximação, de trabalho em equipe; mesmo quem nunca fez nada na cozinha, se aproximou para colocar a mão na massa. E ao partilharem o pão, entenderam, entendem quem é Jesus de Nazaré e porque ele espera de cada um, de cada uma de nós que sejamos rochas; que apesar da pandemia sejamos um porto seguro para outras pessoas que estão desanimadas, sem esperanças, sem fé, sem alegria.

 

Neste dia se comemora na Igreja Católica, o dia do Papa; que nossas orações sejam para o querido e amado Papa Francisco, no sentido que ele combata o bom combate, tenha força para pastorear suas ovelhas e continue sendo fiel à alegria do Evangelho, com seu testemunho de fé e vida, de levar a Igreja a se abrir cada dia mais, como intuiu o Concílio Ecumênico Vaticano II, se fazendo Igreja dos pobres, seguindo os passos do Mestre de Nazaré.

 

Neste Dia do Senhor em que se comemora a Solenidade de São Pedro e São Paulo, cantemos um hino de Cristiane G. da Matta e Marcos R.N. da Matta:

 

1. Festejamos  Pedro  e  Paulo,  os  apóstolos  de  Cristo,  que  inspiram  com  clareza  a  alegria  e  a  unidade da Igreja.

 

Pedro  e  Paulo  nos  ensinam  Tua Lei,  Senhor. Até ao martírio, pelo Teu amor plantaram a Igreja, com fé e com destreza seguiram os passos Teus, amigos de Ti, ó Deus.

 

2. “Tu  és  Filho  do  Deus  vivo,  és  o  Cristo  com  certeza”. “Tu és Pedro, tu és pedra, sobre a qual construirei a minha Igreja”.

 

3. Paulo, mestre das nações com seu dom belo e fecundo, o maior dos missionários, anunciou o Evangelho em todo o mundo.

 

Emerson Sbardelotti 

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 Arte-Vida de Luís Henrique Alves Pinto

 

Cita

 

 

1 BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos. 5.ed. São Paulo: Paulus, 2010.

 

Procesar Pago
Compartir

debugger
0
0

CONTACTO

©2017 Amerindia - Todos los derechos reservados.