Reflexões em tempos de quarentena - 31 de maio de 2020

31 de Mayo de 2020

[Por: Emerson Sbardelotti]




O DIA DO SENHOR EM CASA

EVANGELHO DE JOÃO 20,19-23

 

19No fim desse dia, que era o primeiro da semana, estando trancadas as portas do lugar onde estavam os discípulos com medo dos judeus, chegou Jesus. Colocou-se no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês”. 20Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes, porque viram o Senhor. 21Jesus lhes disse de novo: “A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês”. 22Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo. 23Os pecados daqueles que vocês perdoarem, estarão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados”.

 

No Evangelho deste Dia do Senhor em nossas casas, o Pentecostes, acontece no mesmo tempo em que a Páscoa de Jesus. Ao morrer na cruz, Jesus entrega o espírito (Jo 19,30); depois, no primeiro dia da semana, o domingo da ressurreição, Ele sopra o Espírito Santo sobre eles e elas e os/as enviam em missão. Este gesto lembra o sopro de Deus, o hálito de vida, a ruah, modelando o ser humano do barro da terra, tornando-o um ser vivente (Gn 2,7): homem e mulher imagem e semelhança do Deus Vivo e Libertador.

 

Pentecostes era conhecida como Festa das Semanas (Ex 34,22; Dt 16,10); como Festa da Colheita (Ex 23,16) e na época de Jesus de Nazaré uma festa anual de peregrinação a Jerusalém, que acontecia 50 dias após a Páscoa (Lv 23,15-16).

 

Inicialmente, há na primeira comunidade cristã sentimentos de descrença e de temor. A comunidade dos discípulos e discípulas está terrivelmente amedrontada por causa da crueldade das autoridades judaicas; ainda está presente tudo o que fizeram com o Mestre de Nazaré: assassinaram-no pregando-o numa cruz.  

 

Somente o Espírito Santo enviado pelo Pai através de Jesus fortalece a vida daquelas mulheres e homens. Colocando-as, colocando-os em saída. A cruz, antes, sinal de loucura e maldição, se torna agora esperança e salvação. Não podem mais ficar trancados numa sala ou dentro de casa, precisam ir para o mundo. Colocam em prática os primeiros passos de uma Igreja em saída.

 

O Evangelho precisa chegar a todas as pessoas. No centro de toda mensagem do Evangelho que levarão à todas as nações, o Ressuscitado deve estar sempre presente. Jesus de Nazaré aparece no meio deles e delas e lhes dá sua paz. Ele já está na paz do Pai. Estende-a para nós! Esta paz enche os discípulos e as discípulas de coragem e de confiança. Esta paz deve encher-nos também hoje de coragem, de confiança, para que acreditemos, que protegendo nossas vidas, ficando nos nossos lares, poderemos amanhã, depois de amanhã ou daqui alguns meses, voltarmos aos nossos serviços na comunidade, testemunhando que a fé em Jesus de Nazaré nos fez atravessar a tempestade em família, amando-nos em família, protegendo muitas vidas em família.

 

Mostrar as mãos e o lado é sinal do mistério pascal: vida, paixão, morte e ressurreição. Porém, Jesus de Nazaré não está mais condicionado ao tempo e ao espaço. Ele está no meio de nós, está dentro de nós, mas está além de nós! O Crucificado é o Ressuscitado. Não há salvação, nem ressurreição sem cruz. Cada um, cada uma, deve assumir sua cruz e seguir o Mestre; ele sabe por onde nos conduzir.

 

Os discípulos e as discípulas recebem o Espírito Santo com a missão de reconciliarem a humanidade consigo mesma e com Deus. A mensagem de Jesus de Nazaré deve chegar a todos os lugares e ao fazer morada, prevalecerá o amor. O perdão virá porque se ama verdadeiramente. Perdão e amor mútuo deverão andar lado a lado. Somente assim, a comunidade dará provas de que segue fielmente o Evangelho. Caso contrário estará destinada ao fracasso.

 

Em mais um Dia do Senhor em nossas casas, viver o Pentecostes é deixar a paz de Jesus encontrar brechas em nossos corações, para que possamos saborear a vida a partir de dentro, encontrando uma alegria nova e diferente. Encontrar aquela interioridade que nos faz escutar Deus no silêncio do coração; movê-lo da cabeça para o coração. Fortalecendo o nosso ser para os dias que virão, em que nossas experiências familiares de compaixão, fraternura, solidariedade, misericórdia, respeito e diálogo, serão ferramentas para a construção deste outro mundo novo melhor e possível que sonhamos e desejamos ardentemente. Somente assim, sairemos desta pandemia transformados e firmes para encarar o novo horizonte que se abrirá em nossa frente. Esse sonho, essa utopia, essa chama não se apaga.

 

Irmanados, irmanadas por esta irrupção do Espírito Santo em nosso meio, cantemos essa linda canção de Zé Vicente, alegrando assim muitos corações:

 

Eu vi, eu vi uma chama se acender

E o coração do meu povo aquecer

 

Chama viva verdadeira / feita de fogo e paixão / 

clareando a terra inteira / como em noite de São João /

e o meu povo em caminhada / lutando pra ser feliz /

fazendo festa animada / nas ruas do meu pais /

Eu vi, eu vi! Eu vi, eu vi!

 

Chama forte em sarça ardente / que em Moisés Deus acendeu (Ex 3) /

pra reunir toda a gente / no mais lindo jubileu / 

e o seu povo em marcha santa / para a terra prometida / 

nova bandeira levanta / de liberdade e mais vida / 

Eu vi, eu vi! Eu vi, eu vi!

 

Línguas de fogo e de cores / que em Pentecostes brilhou (At 2) / 

reunindo os seguidores / de Jesus Nosso Senhor / 

e a nova comunidade / se fez num só coração / 

vivendo a grande unidade / que marca o povo cristão / 

Eu vi, eu vi! Eu vi, eu vi!

 

Salve o fogo na fogueira / salve a tocha no altar /

salve a brasa na lareira / salve o sol sempre a brilhar / 

salve a chama cozinhando / nosso pão de cada dia / 

salve o Espírito Santo / a luz que sempre nos guia /

Eu vi, eu vi! Eu vi, eu vi!

 

 

Emerson Sbardelotti 

Simplex agricola ego sum in regnum vitae.

 

 

Arte-Vida de Luís Henrique Alves Pinto

 

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