Reflexões em tempos de quarentena - 24 de maio de 2020

19 de Mayo de 2020

[Por: Emerson Sbardelotti]




O DIA DO SENHOR EM CASA

EVANGELHO DE MATEUS 28,16-20

 

16Os onze discípulos foram para a Galileia, à montanha que Jesus lhes havia indicado. 17Ao vê-lo, ajoelharam-se diante dele. No entanto, alguns duvidaram. 18Jesus se aproximou e lhes disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. 19Vão, portanto, e façam que todas as nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20e ensinando-as a observar tudo o que lhes ordenei. Eis que eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”.

 

A certeza da presença do Ressuscitado fortalece a nossa caminhada: nosso ponto de partida e chegada é a Galileia, onde tudo começou, onde existem os pobres, os excluídos, os marginalizados, os menores do Reino, aqueles que não possuem o necessário para viver, os despossuídos. 

 

Retirar, voltar, ir, são verbos que apontam para algo estratégico com o objetivo de levar adiante a missão iniciada na Galileia (Mt 4,12); agora, a missão será expandida para todas as nações, contudo, Israel não está fora deste mandato missionário. Ao subirem a montanha indicada por Jesus, provavelmente seus corações queimavam ao se lembrarem das palavras de bem-aventuranças do Mestre (Mt 5,1-12). Voltar para a Galileia é reencontrar Jesus de Nazaré como nossa única referência afetiva, efetiva e vinculante, aquela única verdade da qual nos é permitido viver e crescer!

 

José Antonio Pagola1 nos diz que “voltar a Jesus é transformar nossa relação com Ele. Voltar ao “primeiro amor”, deixar-nos “alcançar” pela sua pessoa. Deixar-nos seduzir não apenas por uma causa, um ideal, uma missão, uma religião, mas pela pessoa de Jesus, pelo Deus vivo encarnado em Jesus. Deixar-nos transformar lenta, mas profundamente, por esse Deus apaixonado por uma vida mais digna, mais humana e feliz para todos, começando pelos pequenos, indefesos e excluídos”.

 

Como seres humanos somos cheios de incertezas e dúvidas, mesmo quando a verdade está em nossa frente. Com aqueles discípulos não foi diferente. Eles repetem o gesto das mulheres que se ajoelham ao encontrarem o Ressuscitado. Elas acreditaram, eles não: eles duvidaram. Muitas vezes há dureza em nossos corações, há muros que impedem que alcancemos com o olhar o horizonte que surge. Essa barreira nos impede de experimentar Jesus de Nazaré, e a partir deste evento sermos mais fiéis ao Evangelho. 

 

Prostrar-se diante de Jesus é não ter dúvidas do mandato missionário que cada um, cada uma recebe todos os dias. Reconhecer o Ressuscitado na própria vida é uma experiência indescritível, porém se torna um estímulo para uma fé comprometida com a defesa da vida, uma fé adulta, capaz de identificar as recomendações do Ressuscitado no cotidiano de nossas comunidades eclesiais de base.

 

O mandato missionário é para todos, para todas: batizar e ensinar em nome da Trindade Santa. Uma mensagem universal, onde ninguém está excluído. Uma mensagem aberta para toda a humanidade: Jesus de Nazaré vive para sempre em nossas vidas e em nossas comunidades.

 

Neste tempo de quarentena, no silêncio de nossos dias e noites, fazemos de nossas casas, nossos lares, nossos ninhos, espaço de respeito, diálogo e encontro, onde procuramos recuperar a nossa identidade de seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré. Neste domingo da Ascensão do Ressuscitado, nossas comunidades, mesmo com os templos fechados, são chão onde jorra a vida, é terra sagrada, é Galileia, onde somos convocados, convocadas a aprender a olhar as coisas e sentir todas as coisas com os olhos e o coração de Deus. É urgente construirmos um outro mundo novo melhor e possível, passarmos para uma nova fase do cristianismo. Afinal, não haverá um retorno para o que éramos antes do COVID19. Nossa missão é que nossa fidelidade a Jesus de Nazaré contribua para que a Igreja sinta e se torne mais viva e viva o Ressuscitado de maneira nova. Que seja de fato uma Igreja dos pobres, para os pobres, com os pobres; tal como era o sonho de São João XXIII e agora é o sonho do Papa Francisco. O movimento de seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré é uma atitude a serviço do Reino de Deus, nas causas dos pobres, nas causas da vida. E assim cantaremos com Zé Vicente:

 

Nós vamos pra missão / Nós vamos trabalhar / É Deus quem nos convida / Para a vida transformar.

 

1. Desperta minha irmã desperta meu irmão / Contempla a nossa gente abandonada / O pobre está clamando a terra esta gritando / Pois vem juntar-se a nós nesta jornada!

 

2. O sino já tocou o galo já cantou / O dia vem nascendo atrás dos montes / A marcha vai passando alegre eu vou cantando / Deus vivo é água viva em nossas fontes.

 

3. Se alguém você feriu se alguém o machucou / Se tudo ao seu redor está escuro / Perdoa o seu irmão acolhe o seu perdão / O amor é o segredo do futuro.

 

4. Você que escutou sorriu e se encantou / E firme está presente nessa estrada / Contigo eu vou contente Deus vai à nossa frente / Nós somos missionários da alvorada.

 

Emerson Sbardelotti

Arte-Vida de Luís Henrique Alves Pinto

 

Cita

 

1 PAGOLA, José Antonio. Recuperar o projeto de Jesus. Petrópolis: Editora Vozes, 2019, p. 40.

 

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