Lamento de um humilde teólogo

30 de Abril de 2020

[Por: José Neivaldo de Souza]




Num momento como este, em que necessitamos da espiritualidade dos profetas, para a anunciar o Reino de solidariedade e denunciar tudo o que promove o ódio e a guerra, é triste ouvir o novo ministro da justiça, o pastor presbiteriano, André Mendonça, fazer uso indevido do título “profeta”.

 

Em seu discurso, o evangélico traz uma falsa narrativa da trajetória do presidente do Brasil: “o senhor tem sido, há 30 anos, um profeta no combate à criminalidade”. Ao comparar Bolsonaro a um profeta, ele banaliza o termo como se os profetas interpretassem a ação de Deus à imagem e semelhança dos interesses escusos do poder. 

 

Enquanto teólogo, não posso me calar diante desta barbaridade. Conhecemos bem a trajetória do hóspede do Planalto: defende a Ditadura violenta, que torturou e matou pessoas, em nome de uma pseudodemocracia; implementa reformas, que aviltam os direitos dos trabalhadores, em favor de grandes corporações privadas; incentiva a violência contra as mulheres, os negros, os índios, LGBTs etc.; inventa fakes acerca daqueles que não concordam com o seu despotismo; articula com milícias e policiais corruptos que extorquem os mais humildes, aqueles por quem Deus tem apreço; Diante das ameaças de morte por Coronavírus, minimiza ou nega a gravidade da pandemia, com ironia: “Sou messias, mas não faço milagre”.  

 

Há algo de profético nisso? Não tem nada a ver com os profetas conhecidos pelos judeus e cristãos, que deram suas vidas em favor da justiça, do amor e da paz. É preciso resgatar as denúncias proféticas: Que mensagem traz Samuel aos belicosos? O que diria Jeremias àqueles que promovem os torturadores? Como agiria Amós diante dos que roubam as terras de camponeses e indígenas? O que profetizaria Isaías àqueles que bajulam um mito e faz dele um deus? 

 

Convido o pastor a ler mais, não só os profetas, mas também o apocalipse (3,15.16), particularmente o texto onde Deus ameaça a vomitar de sua boca aqueles que dizem ter boas obras, mas é indiferente à justiça e à sensatez: “Conheço as suas obras...”  

 

 

Imagem: Crédito da Foto: reprodução/TV Brasil 

 

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