23 de Marzo de 2020
[Por: Emerson Sbardelotti]
Cuidado meu velho com o mosquito
cuidado minha velha com o vírus
de cuidado em cuidado
a humanidade dá o recado
a humanidade sente, que
é melhor respeitar o diferente
dialogar para ser nova gente
encontrar o melhor presente
que é viver...
(Emerson Sbardelotti. Poema feito em 17 de março de 2020, às 20:02, já na quarentena)
Nestes dias, em que as aulas presenciais foram canceladas e foi ativado o sistema remoto, o comércio encerrou suas atividades, as ruas começam a ficar desertas, e estamos em quarentena, pergunto aos meus botões, como iremos superar esta pandemia chamada COVID-19 (Novo Coronavírus)? A única resposta que me vêm à mente é uma mudança de atitudes que prevaleça uma tríplice ação: Respeito. Diálogo. Encontro (Virtual).
Comecei o texto com um poema para expressar minha preocupação, com este momento tão difícil que vive o Brasil (se já não bastasse o cenário político) e várias outras partes do Planeta que estão sendo tocados por este vírus. Muitas pessoas ainda não acreditam que há uma pandemia, e que muitas pessoas já morreram, e não estão nas estatísticas oficiais, o número só tende a aumentar.
Como teólogo da libertação, minha preocupação, meu objetivo de vida, é estar a favor dos pobres, pois junto com eles, luto contra a injustiça criada e imposta a eles. Servir os pobres é um ato de amor, um ato de misericórdia, um ato de esperança, onde a vida sempre deve ter a última palavra. Para que isso se realize com eficácia, procuro viver este tripé que coloquei em meu poema: o respeito, o diálogo e o encontro. Não é fácil, porém, sigo insistindo que só venceremos esse momento terrível com a conscientização e união de todos, de todas em torno do bem comum: preservar a vida.
Este é um tempo de calamidade, mas não é tempo para desespero. É um tempo propício ao reencontro. Como não podemos abraçar e beijar quem amamos, o jeito é usar as redes sociais para este encontro virtual, onde devemos praticar o respeito e o diálogo.
Encontrar para dialogar, respeitando-se mutuamente!
Quanto tempo não converso com aquela pessoa, que um dia me fez mal? Ou que ela acha que eu fiz mal para ela? Quanto tempo que em casa eu não me sento para conversar com meus familiares, saber como foi o seu dia? Quanto tempo eu não conto uma piada e não dou uma gargalhada com alguma besteira dita por alguém?
Encontro. Respeito. Diálogo.
Cuidado meu velho com o mosquito. Cuidado minha velha com o vírus.
Nossas vovós e nossos vovôs precisam de cuidados, recheados de muitos carinhos. Nós precisamos de muitos carinhos e cuidados. Cuidar é sinônimo de amar! Não há vida que não mereça ser cuidada, respeitada. Nestes tempos de crises, a solidariedade, que deveria ser algo cotidiano, jorra com muita força. Que possamos fazer da solidariedade um hábito; não podemos exercê-la somente nas tragédias, mas todos os dias de nossas vidas. Assim deve agir o verdadeiro cristão, a verdadeira cristã. Solidarizar-se todos os dias de sua vida.
Diálogo. Encontro. Respeito.
Refazer na quarentena o que não fazia mais dentro da própria casa.
Quanto tempo que não arruma aqueles antigos discos de vinil, aquela coleção do Jorge Amado, ou a coleção de chaveiros e selos esquecidos no fundo de uma caixa?
Pra que ficar juntando roupas e assessórios que já não usa mais?
Aproveite para fazer uma longa faxina!
Abra mão daquilo que apenas está ocupando lugar; lugar que poderia estar sendo melhor aproveitado.
Volte a sorrir!
Quando não há sorrisos em nosso dia à dia, tudo fica triste demais. E nossa relação com os outros começa a desandar. Quando abre-se os olhos, já está sozinho, sem ninguém com quem conversar ou contar. Aproveite esse tempo para se perdoar e pedir perdão.
De cuidado em cuidado a humanidade dá o recado.
Não há por que não acatar o pedido dos profissionais da saúde. Eles, elas, estão se expondo para cuidar da população. Não sei nos outros países, mas no Brasil, em muitos hospitais e postos de saúde, estes profissionais estão fazendo verdadeiros milagres, pois começam a faltar materiais e medicamentos. Imagine o desespero que é saber que os dois respiradores do hospital em que trabalha estão quebrados? Não tem fornecedor de máscaras; ainda tem álcool gel. Máscara cirúrgica com elástico acabou na farmácia! E só está no começo. Como vai ser isso? Não brinque com a própria vida, é o pedido dos/as profissionais da saúde. Ela é o nosso bem mais precioso. Faça a higienização necessária. Fique em casa!
A humanidade sente, que é melhor respeitar o diferente.
Que possamos abrir nossas janelas ou irmos para as varandas e tocarmos um instrumento e cantar, para alegrar a vida um do outro. Cantemos aquelas cantigas antigas, que todos, todas, sabem de cor. Preencha os dias com harmonia, música e amor.
Dialogar para ser nova gente.
Não dói, nem tira pedaço ser gentil. Gentileza gera gentileza. Ofereça um sorriso todas as manhãs, todas as tardes, todas as noites. Sempre haverá alguém que irá melhorar o próprio astral por causa deste sorriso. Dialogue sempre. Se abra ao diálogo.
Encontrar o melhor presente que é viver...
É encontrar o outro, a outra, na sua frente, na telinha do seu computador, do seu celular. Admire aquela pessoa como nunca antes. Deixe seus olhares se encontrarem. Relembrem boas e velhas histórias.
Isso é bem viver!
Bem viver
Alegria e a mística do bem viver
Bem viver
Bem viver
Bem viver
É imaginar outros mundos possíveis
Bem viver
Bem viver
É aprender, desaprender, reaprender
Na diversidade
Humanos sensíveis
Bem viver
Bem viver
(Emerson Sbardelotti e Lula Barbosa. Bem Viver. Para ouvir a canção acesse: https://www.youtube.com/watch?v=UYC3xlaYt70)
Que nesta Quaresma, nosso jejum, nossa oração, nossa esmola, seja uma mudança de atitude, onde colocaremos em prática o respeito, o diálogo e o encontro.
Afinal, tudo é Páscoa!
Emerson Sbardelotti é doutorando e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Imagem: https://deconceptos.com/ciencias-sociales/recado
©2017 Amerindia - Todos los derechos reservados.