A Amazônia: o sonho do Papa Francisco

13 de Febrero de 2020

[Por: José Neivaldo de Souza]




A Exortação Apostólica Pós-sinodal do Papa Francisco, “Querida Amazônia”, convoca e convida, não só os católicos, mas todas as pessoas de boa vontade a sonharem com uma Amazônia onde os direitos dos nativos não sejam negligenciados, a riqueza cultural não seja destruída, a beleza natural não seja ameaçada e a Igreja que ali trabalha não seja indiferente às injustiças e à exploração sem limites. O sonho, referido por Francisco, é um projeto de esperança para a sociedade, a cultura, o meio ambiente e a Igreja. 

 

Um sonho social! Para o Sumo Pontífice, o interesse dos colonizadores, com a desculpa do progresso, continua disfarçado e dissimulado, ameaçando a vida dos mais vulneráveis. A ganância e o lucro são a causa do empreendimento de muitas empresas no território amazônico: apropriam-se das terras, privatizam a água potável, desmatam, exploram minérios e petróleo e contaminam o ambiente. Para ele, é uma exploração que leva à morte social, pois favorece a migração, a xenofobia, a violência sexual, o tráfico de pessoas etc. Esta realidade, muitas vezes justificada ou autorizada pelo poder local e federal, mostra a cara de uma Amazônia ameaçada em suas diversas formas de vida. Francisco exorta, todo povo de Deus, a não só indignar-se, mas a superar a ideologia exploração ilimitada construindo redes de diálogo, de solidariedade e comunhão com os excluídos. Que o projeto de desenvolvimento social, na Amazônia, contemple a igualdade entre os povos.  

 

Um sonho cultural! Este sonho, segundo Francisco, está ligado à melhor obra educadora: “cultivar sem desenraizar, fazer crescer sem enfraquecer a identidade e promover sem invadir”. Para ele, a cultura dos povos da Amazônia não é “selvagem”, no sentido pejorativo da palavra, mas diferente. Tem sua identidade, sabedoria e valores que, durante séculos foram transmitidos de geração em geração. É preciso, portanto, promover o diálogo, comunicações alternativas e compartilhar esperanças com os nativos, ribeirinhos, e os habitantes que ali vivem e sofrem com a invasão violenta dos meios de comunicação dos poderosos. Que o projeto de desenvolvimento cultural respeite e promova as tradições dos povos da Amazônia!

 

Um sonho ecológico! Francisco observa que os nativos vivem na certeza de que “tudo está interligado”. Eles têm respeito e cuidado pela natureza, pela água que corre nos rios e córregos e que traz saúde e equilíbrio para a criação. Esta ideia é fundamental no projeto de esperança, pois precisa se concretizar cada vez mais nesta terra ameaçada por interesses espúrios. É importante voltar a atenção para a preservação das espécies que correm o risco de extinção e, principalmente, considerar os micro-organismos fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas. O sonho ecológico inclui os conhecimentos técnicos contemporâneos, mas contempla a sabedoria ancestral como “profecia da contemplação”. Uma profecia que vê a Amazônia como um lugar teológico, o espaço de revelação do criador à criatura. Francisco exorta à mudança de hábitos e costumes que, até então, interessam a uma cultura predatória.  Que o projeto de desenvolvimento ecológico, na Amazônia, seja sustentável!

 

Um sonho eclesial! A Igreja, para o bispo de Roma, tem uma missão diante dos desafios apresentados na Amazónia: anunciar a libertação da miséria material a partir da opção pelos mais rejeitados e defender a vida. Estes abandonados têm direito ao anúncio da boa nova: Deus, em Jesus Cristo, se deu por amor. Evangelizar, para ele, não é impor uma cultura, mas sim levar a mensagem de inclusão e diálogo, deixando agir o Espírito de sabedoria daquela cultura que se volta com respeito aos ancestrais, aos idosos e à preservação de seus valores. Francisco desafia a Igreja. Segundo ele, é preciso formar agentes pastorais, leigos e leigas, diáconos e presbíteros, com o rosto amazônico, isto é, que evitem juízos generalizados e preconceituosos acerca das crenças, rituais, danças e músicas, pois elas manifestam o sagrado e fazem a experiência benevolente de Deus. Uma Igreja aberta, exorta o Papa, que seja ecumênica e inter-religiosa neste pluralismo religioso e que busque na solidariedade o ponto de partida para a promoção dos mais pobres e a preservação da vida. Que o projeto de desenvolvimento eclesial, na Amazônia, ajude a criar redes de diálogo e libertação em torno da justiça e do amor de Cristo. 

 

A exortação de Francisco vem de encontro ao projeto “sonho” assinado por Jair Bolsonaro que permite atividades extrativistas, agropecuárias e hidroelétricas na Amazônia brasileira. Ainda que a aprovação dependa do Congresso Nacional, este projeto, além de motivar a invasão de miradoras e madeireiras, avilta os direitos dos indígenas que ali vivem e incentiva o ecocídio. O sonho do Papa nos ajuda a não fechar os olhos, a não calar a nossa voz, pois “tudo está interligado”. 

 

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