10 de Enero de 2020
[Por: Emerson Sbardelotti]
Assisti por 3 vezes ao filme DOIS PAPAS e anotei algumas coisas, mesmo não sendo um crítico de cinema, mas, um estudioso da Teologia. Humildemente, faço algumas ponderações.
No início do filme há uma frase dizendo que é baseado em fatos reais, não é bem assim; os diálogos entre os "dois papas" são encontrados em separado nos livros publicados por ambos e por seus biógrafos. Quem preparou o roteiro do filme, hipoteticamente, utilizou tais informações. O remendo deu certo, mas não é a verdade; o tal encontro entre os dois nunca aconteceu antes da escolha de Bergoglio, como Papa Francisco.
A cena dos dois assistindo futebol não é verdade, há uma foto dos dois, Bergoglio já papa em exercício, visitando Bento XVI emérito, mas não se sabe ao certo o que assistiam. Ratzinger nunca deu a mínima para futebol, seu hobby era a música.
O filme apresenta um Ratzinger/Bento XVI bonzinho; quem foi perseguido por ele, e sobreviveu, sabe muito bem que ele não é bonzinho como passa o filme, pode ser educado, tímido, até um pouco gentil, mas, bonzinho...
Aos 75 anos, os padres e bispos devem renunciar a administração de suas paróquias e dioceses como pede o Código de Direito Canônico.
O filme é uma ficção onde tenta-se mostrar a humanidade de Ratzinger e Bergoglio...em alguns momentos há uma forçação de barra.
Enquanto ficção atende ao intuito da Netflix de concorrer ao Oscar.
O filme não se aprofunda nos casos de corrupção e de pedofilia nos papados de João Paulo II e Bento XVI, nem na relação de Bergoglio com a ditadura argentina. Fica claro que o filme não tem essa preocupação pois passa rapidamente sobre tais assuntos abordando-os como assuntos de uma confissão mútua de ambos os padres, que se perdoam.
Gostei da intenção de mostrar livros de D. Helder Camara, Gustavo Gutiérrez e Paulo Freire enquanto inspiração para um projeto de Igreja em Saída que está sendo colocado em prática por Francisco; projeto este que vem causando-lhe perseguições e difamações, principalmente, por pessoas de dentro da Igreja Católica que são contrárias às reformas e mudanças que quer realizar no seio da Igreja.
Ao final, para se ter uma ideia, a cena em que Francisco pede para orar por Bento XVI não ocorreu da forma retratada ali. Quando Francisco se curva, o pedido de oração é para que o povo na Praça São Pedro reze por ele. Só por ele. O pedido de oração por Bento XVI foi feito antes daquele gesto. Este gesto de Francisco nunca havia sido feito antes, sempre foi o papa abençoando os fiéis na Praça São Pedro, e não o contrário. Este gesto foi esvaziado pelo diretor do filme ao ligá-lo ao pedido de oração pelo bispo emérito de Roma.
Se as pessoas não conhecem a verdade, acabam achando que o filme é a verdade.
Como entretenimento, é interessante.
Como tentativa de explicar dois pontos de vistas diferentes e talvez, certa humanidade de ambos os personagens, é interessante.
Emerson Sbardelotti é Doutorando e Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Imagem: https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-50921514
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