A Sutileza do amor

12 de Diciembre de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




Atribui-se a Mahatma Gandhi a frase: “o amor é a força mais sutil do mundo”. Muito se fala sobre o amor. As pregações de líderes religiosos acerca deste tema, ainda que evoquem a Sagrada Escritura ou a famosa Carta de Paulo aos Corintios (1Cor 13), já não nos convencem. Os discursos políticos que procuram “enquadrar” o amor aos interesses próprios ou em favor de uma elite que explora e mantém seus privilégios sobre uma grande massa de excluídos, também não nos persuadem mais. Paira no ar um certo ceticismo e, para enxergá-lo, é preciso sutileza, uma virtude revolucionária cuja capacidade de ver, julgar e agir ultrapassa a forma comum de enxergar a vida. 

 

Apesar de antigo, o amor é um tema a ser repensado para os dias atuais. O que é o amor? Considerando o contexto social, político e religioso, em que vive o povo latino-americano, urge uma nova concepção de amor que não seja carregado de demagogias ou que se ajuste aos interesses de um “Poder” despótico e ganancioso. É preciso repensar o tema sob a ótica dos excluídos.  

 

O amor, força “sutil”, se difere do amor “comum” confundido com passividade, ingenuidade e ignorância. Não são poucas as vezes que escutamos a frase “o amor é cego”. Cabe-nos resgatar as qualidades que fazem do amor uma “força sutil”. O termo sutileza, no entendimento de Gandhi, não é irracional, pelo contrário, é perspicácia e inteligência. 

 

Enquanto perspicaz, o amor tem os olhos de uma águia. Com excelência de visão, ela enxerga além do normal, não se limita à uma sobrevivência rasa, mas explora a liberdade e a coragem de vencer os obstáculos e voar até o topo. O evangelista João tem como símbolo a águia e não é por acaso que afirma: “Deus é amor”. Este amor, qualidade excepcional de Deus, não é passivo, mas sagaz e astucioso, capaz de perceber as artimanhas de um sistema que vem para “roubar, matar e destruir” (Jo 10,10). 

 

Enquanto inteligência, o amor tem a capacidade de julgar, isto é, colocar em confronto os caminhos da sabedoria e da ignorância e optar por um saber que não se dobra a qualquer “Poder”, tampouco àquele que desmonta os direitos humanos e provoca a barbárie. Em tempo de crises e escuridão, este amor, é capaz de distinguir o justo e o injusto, a paz e a violência. A coruja, para os gregos antigos, era o animal que simbolizava a sabedoria e o discernimento. A noite e a escuridão não se impõem sobre a sensibilidade e a capacidade da ave de identificar o que lhe traz vida ou morte. Platão, em sua alegoria da caverna observou que basta um facho de luz na escuridão. Este facho é a sabedoria e depende de nossa inteligência segui-la ou não. 

 

Hoje, mais que falar de amor, é preciso uma ação. Em tempos de barbárie a única atitude que pode ajudar uma população a sair da crise é o amor. Não falo de um amor passivo, mas pacífico, capaz questionar toda postura cuja base se fortalece a partir do ódio e da violência. A sutileza do amor nos leva a uma ação perspicaz e inteligente. Uma ação que contesta toda forma injustiça e nos faz anunciar, como o profeta Ezequiel: “não oprimir a ninguém, não reter os direitos, não roubar, alimentar o faminto e cobrir ao nu com sua roupa” (Ez 18,16). 

 

Imagem: https://marcianosmx.com/las-pequenas-sutilezas-del-amor/

 

 

 

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