Educação: entre o poder e o saber

15 de Noviembre de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




A educação sempre foi uma “pedra no sapato” do Poder instituído. Minha percepção se dá diante das tensões que circulam no debate acerca das principais teorias educacionais. A despeito disso, faço algumas considerações sobre do tema a fim de me expressar melhor. O que é educação? Educar para a obediência ou liberdade? 

 

A palavra “educar”, em sua origem, vem do latim “educere” e se forma com a junção do prefixo “ex” que significa “exterior” e “ducere” cujo significado é “conduzir”. Atento à etimologia da palavra “conduzir para fora” posso inferir que educação é o ato de “sair de si em direção ao mundo exterior”. É o “duto” por onde a vida flui. No sentido informal do termo, ninguém escapa ao processo de “ensinar-e-aprender. A educação, diferente para cada cultura, não se resume ao ensino escolar, por isso, dizia Kant: é através dela que a humanidade se aperfeiçoa. Neste entendimento, escreve Brandão:

 

Mesmo onde não criaram a escola, ou nos intervalos dos lugares onde ela existe, cada tipo de grupo humano cria e desenvolve situações, recursos e métodos empregados para ensinar às crianças, aos adolescentes, e também aos jovens e mesmo aos adultos, o saber, a crença e os gestos que os tornarão um dia o modelo de homem ou de mulher que o imaginário de cada sociedade – ou mesmo de cada grupo mais especifico, dentro dela - idealiza, projeta e procura realizar1.

 

As mudanças históricas do conceito “educação” se dão de acordo com o tempo, o espaço e as conveniências com que ela é usada. Sem a pretensão de abordar suas principais teorias, penso ser importante tratá-la segundo suas conveniências: Poder e Saber. Há uma educação “de fora para dentro”, já formatada, cujo objetivo é fazer com que se interiorize um sistema preconcebido de ideias e reprodução social; há outra, “de dentro para fora”, com a finalidade de construir valores que favoreçam a produção do bem comum e da justiça social. Minha reflexão, ao seguir este roteiro, pretende abordar a educação como reprodução do poder e confrontá-la a outro modelo de educação, mais original, o de produção do saber. 

 

Sob a conveniência do poder a semântica da palavra educação é transformada. A ideia “sair de si em direção ao mundo” não tem muito sentido, pois o que importa, na ótica do poder, é fazer o caminho inverso. Há os detentores do saber e, conforme o sistema autoritário vigente, ele é peneirado e controlado pelo mercado. Isso se projeta na escola, pelos professores; na família, pelos pais; e na sociedade pelas autoridades constituídas, etc. Nesta relação, os alunos, as crianças e os cidadãos agem como meros receptáculos, ou como diria Paulo Freire, “caixa de depósitos” de um conteúdo que lhes chega mais como um valor de troca e menos como valor de uso. 

 

Neste tipo de conduta, “dirigida”, a educação é articulada como um “meio” de dominação das pessoas, com o intuito de mantê-las na ignorância e posicioná-las em um mundo de fanáticos. Rubem Alves dizia que o fanático é filho da estupidez: Os fanáticos são pessoas honestas que acreditam nos seus pensamentos e nada os dissuade do seu caminho. E porque acreditam na verdade dos seus pensamentos tudo fazem para destruir aqueles que têm ideias diferentes”. Estúpidos e fanáticos temem uma educação a serviço do saber. É neste sentido que ela é “pedra no sapato”. Incomoda. 

 

Sob a conveniência do saber, é importante conservar a tradição da palavra educação. Ela cultiva a curiosidade, o desejo de conhecer e a criatividade. Neste sentido, ela é o caminho pelo qual o ser humano se torna pessoa, se posicionando de forma livre diante do mundo, aprendendo a observá-lo, a formar uma consciência crítica e a escavar saídas que levem a uma vida mais justa e digna de ser vivida. Diferente do poder, não há um saber maior que o outro, mas saberes diversos. A pessoa se desenvolve produzindo possibilidades para a transformação do mundo e de suas relações.  

 

A educação, muito mais que transformar o mundo, transforma as pessoas para que tenham outra visão da realidade. Nesta nova realidade, a pessoa pode questionar a própria ignorância a fim de superá-la. O fruto mais sublime desta superação, conforme Platão, é a tolerância. 

 

É preciso ensinar as crianças, jovens e adultos a pensarem e repensarem a liberdade diante de outras liberdades. Paulo Freire dizia: “se a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser opressor”. A educadora italiana, Maria Montessori, se direcionando à escola, observou que a educação genuína e autêntica é a que ajuda a criança a se libertar. É preciso lembrar que, se um governo investe mais em armas do que em educação o poder é adorado e o saber assassinado.   

 

Citas

 

 

1. BRANDÃO, C. Rodrigues. O que é Educação. 21ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 22.

 

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