Sínodo da Amazônia: “Caminhando e cantando”

18 de Octubre de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




Ainda no espírito do Sínodo da Amazônia, onde se consideram as discussões importantes acerca da preservação das florestas e do respeito aos direitos de seus habitantes, proponho refletir sobre os desafios deste encontro e, o maior deles, o da oposição do governo Jair Bolsonaro.

 

A palavra Sínodo vem do grego e significa “juntos no caminho”. A Igreja católica, respeitando a diversidade de opiniões, quer ouvir os fiéis acerca dos desafios atuais e, à luz da fé, discernir o caminho que favoreça a vida. A Igreja, no seguimento de Jesus, tem a missão de trabalhar pelo ideal da paz, pela consciência da justiça e a prática do amor. Valores que levam à uma vida mais digna: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). 

 

Um dos maiores desafios hoje, apresentado pela realidade atual, é ecológico. “Nossa casa comum”, na compreensão do Papa Francisco, está em perigo. Como a Igreja vê esta realidade? Como pensá-la fora de um sistema predatório que visa lucro e enriquecimento? O que fazer para preservar a vida diante das ameaças de destruição, do esgotamento dos bens comuns e das mudanças climáticas? 

 

Concentrando sua preocupação com a natureza, o Papa, em nome da Igreja de Cristo, se reúne no Vaticano, com lideranças católicas e não católicas comprometidas com as causas ecológicas a fim de ouvir e traçar novos rumos para a Igreja. Sob o tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, os sinodais abordam questões pastorais e ambientais de interesse dos países do bioma amazônico.    

 

No Brasil, devido à proposta da Igreja católica de pensar e repensar o meio ambiente como criação, reações ao Papa e aos bispos (CNBB) vieram com toda força. Tais reações chegam, não só por parte do governo, mas por políticos ligados às principais bancadas que o sustentam no desmonte dos Direitos humanos: Bala, Evangélica e Ruralista.  

 

Jair Bolsonaro se preocupa com a Igreja que não o apoia em seus intentos de exploração da Amazônia. Procura monitorar os movimentos religiosos que ele chama de “progressistas” e “esquerdistas” a fim de impedir sua posição em relação aos Direitos da floresta. Procurou intervir, já no encontro preparatório, ao destituir na ONU, a principal liderança do povo da floresta, o Cacique Raoní; ao ameaçar os bispos com a presença da ABIN (Agência Nacional de Inteligência) nas paróquias preparatórias e principalmente fazendo pressão para participar do Sínodo em Roma. 

 

Alguns movimentos reacionários e de extrema-direita o acompanham neste propósito articulando um congresso paralelo, em Roma, de oposição ao Papa e aos bispos. O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira é um deles. Defensor da TFP (Tradição, Família e Propriedade), seu objetivo é combater a igreja “progressista” representada pela teologia da libertação.  

 

Assim como o governo não quer diálogo com a Igreja católica, a fim de tratar de assuntos concernentes à democracia e ao Estado de Direito, também a Igreja pode não convidar o Planalto para este encontro, já que o evento diz respeito ao “sínodo dos bispos” e não dos políticos. Este Sínodo quer ouvir da boca de um povo, aviltado em seus direitos, quais os seus maiores desafios; ele quer discernir os caminhos da vida e não da morte. Como caminhar com quem não se propõe “caminhar juntos”? 

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