No Espírito do Sínodo da Amazônia

11 de Octubre de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




A natureza, nossa “casa comum”, implora por cuidados. Envolvidos neste sistema de exploração, a tendência da maioria das pessoas é não se importar ou acreditar que é falso o alarme ecológico acerca do “esgotamento dos recursos naturais”. A exploração do planeta está ultrapassando o seu limite e pode levar à escassez de água, à perda da biodiversidade, à deterioração da qualidade de vida e à desigualdade planetária. Em sua encíclica Laudato Si, Papa Francisco chama atenção para esta realidade e pede sensibilização e atitude.  

 

A água é essencial à vida. Quando se trata de água doce, o direito se reduz e vemos o aumento da pobreza pública em relação a este recurso. Em sociedades desprovidas de controle, há seca, doenças e grande índice de mortalidade infantil causados pela poluição dos lagos e rios. Cada vez mais escassa, a água potável é um bem comum passível de ser privatizado pelos que visam uma política econômica voltada para o lucro e a riqueza. O Papa teme que “o controle da água por grandes empresas mundiais se transforme em uma das principais fontes de conflitos deste século”1

 

Biodiversidade é vida! Devido à ambição sem limites e ao valor que se dá à exploração das florestas, animais, vegetais e minerais, sem falar dos povos nativos, muitos não conhecidos, o sistema biótico está ameaçado. O Papa aponta para a importância da Amazônia e se preocupa com a possibilidade de internacionalizá-la que, segundo ele, “só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais”2. Por isso, propõe que façamos pressão junto ao governo para não se vender a “espúrios interesses locais ou internacionais”. 

 

Sabemos os efeitos da degradação ambiental na qualidade de vida. O progresso trouxe inovações tecnolcientíficas e comodidades, mas por sua característica antiecológica, pode ser desastroso. Entre as inovações tecnológicas cabe lembrar os “mass media”. Apesar de nos ajudar a partilhar e comunicar melhor os conhecimentos, há um aumento do vazio e do isolamento. É preciso questionar a degradação social, como observa Francisco, a exclusão e desigualdade social; a violência e novas formas de agressividade; o narcotráfico e o consumo de drogas. A degradação social leva à degradação ambiental3

 

A desigualdade planetária é uma preocupação, pois cada vez mais, na medida em que cresce a população mundial, também aumenta o número de pessoas carentes de acesso aos bens naturais. Francisco observa que “O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das plantações”4. O crescimento da desigualdade atinge principalmente os mais frágeis do planeta e, por isso, é preciso uma revolução ética capaz de transformar as consciências em favor da justiça e da equidade em nível local e mundial. Leonardo Boff fala de um “pacto ético” que, segundo ele, deve estar fortalecido “na sensibilidade humanitária e na inteligência emocional expressas pelo cuidado, pela responsabilidade social e ecológica, pela solidariedade generacional e pela compaixão”5

 

Aumenta o abismo entre ricos e pobres em nível nacional e internacional. Não se trata aqui de jogar culpa nos países mais ricos, cujo nível de consumo, desperdício e lixo são exorbitantes, mas de trazer à consciência uma postura, mais crítica, acerca da preservação do meio ambiente já que o problema ecológico está ligado ao problema político-social. Para Francisco: “Torna-se indispensável criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder, derivados do paradigma tecnoeconômico, acabem por arrasá-los não só com a política, mas também com a liberdade e a justiça”6.

 

Tudo está interligado! O cuidado e o respeito às criaturas devem estar na agenda de cada um, mais que nas agendas dos governantes do mundo. Pensar e agir localmente é o primeiro passo para as transformações que virão em nível global. No momento em que escrevo ouço a música “O Sal da Terra” de Beto Guedes: “Vamos precisar de todo mundo pra banir do mundo a opressão. Para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor”.

 

Citas

 

 PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si. São Paulo: Paulinas, 2015, p. 27. 

2 Ib. p. 32.

3 Ib. p. 36.

4 Ib. p.41.

5 BOFF, Leonardo. Ética Mundial. Rio de Janeiro: Sextante, 2003, p. 16. 

6 PAPA FRANCISCO, 2015, p. 41.

 

 

Imagem: https://www.fpablovi.org/index.php/magisterio-pontificio/748-amazonia-nuevos-caminos-para-la-iglesia-y-para-una-ecologia-integral

 

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