[Por: José Neivaldo de Souza]

“Amizade sincera” é, para mim, uma das mais belas canções que já ouvi. Renato Teixeira é um artista, revela na música o que declama na poesia: a beleza da amizade. Há, na história do pensamento, vários tratados sobre este tema e, de Platão a Nietzsche, já tive acesso a algumas leituras. Mas, uma alegria me toma neste momento, ao ouvir esta música: “Amizade sincera é um santo remédio, é um abrigo seguro...”.  

Reporto-me a outros tempos. Recordo pessoas que acolheram, de forma modesta, a minha passagem por suas vidas. Algumas recusaram os meus conselhos, talvez pela impossibilidade de colocá-los em prática ou, quem sabe, porque não acreditavam neles; outras preferiram o meu silêncio e escuta, era o que tinham para a dor de existir. Entendo o poeta: “Os melhores amigos não trazem dentro da boca palavras fingidas ou falsas histórias. Sabem entender o silêncio”.  

Encontrei pela vida pessoas que disseram não à minha intransigência e, constantemente se negaram a caminhar nas minhas ideias e loucuras, porém, sabiamente se ofereceram como colo para que nele eu me acalmasse e deslumbrasse outro mundo possível. Lembro do amigo Rubem Alves: “É isto que amamos nos outros: o lugar vazio que eles abrem para que ali cresçam as nossas fantasias”.

Tenho boas lembranças! Há pessoas que, por empatia, desejaram minha presença e, apesar da distância, viu em mim um “abrigo seguro”. Nada queriam a não ser um abraço. Clarice Lispector expressa claramente o desejo delas: “Me abrace, que no abraço mais do que em palavras, as pessoas se gostam”. Martha Medeiros também entendeu assim: “Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve”. Elas contavam com o meu sorriso para que o seu dia fosse melhor. A estas pessoas, como canta Renato Teixeira, eu pude dizer: “conte comigo... Lembre-se sempre que, mesmo modesta, mina casa será sempre sua”. 

Há pessoas que ofendi, mas persistiram; outras, desistiram, lamento tê-las perdido. Algumas amizades consegui destruir e, quem sabe, são exatamente estas que me fazem pensar. Há um provérbio chinês, recordo com frequência, que diz: “É preciso anos para a construir uma amizade, para destruí-la basta um minuto”

Amizade não é para qualquer um, é planta a ser cultivada e regada por toda a vida. Cícero, filósofo latino, em sua obra Amizade, elenca alguns benefícios da amizade. Para ele, a amizade é da natureza humana, se conforma tanto na alegria, quanto na tristeza; tanto na saúde, quanto na doença. Só os sábios a cultivam como virtude, pois uma relação sincera não se fortalece pela utilidade, submissão, interesses próprios, bajulação ou adulação, mas pelo amor. O amor liberta. Escreveu Rubem Alves: “Amar é ter um pássaro pousado no dedo, quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”. 

Para concluir, a amizade é feita de comunhão de verdades, pensamentos e desejos. Ainda que considere a diversidade, ela não se envereda pelo ódio e a agressão, mas pelos caminhos do diálogo e da ternura. Os verdadeiros amigos fortalecem nossa esperança e não nos deixam enfraquecer diante das intempéries da vida e isso Renato Teixeira canta muito bem. É preciso, custe o que custar, “manter a presença, mesmo quando ausentes”. 

Imagen: https://www.artelista.com/obra/2560865161408461-amistad.html