A Amazônia é nossa?

06 de Setiembre de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




As queimadas na Amazônia têm preocupado e muito, não só em nível local, onde se dá o enfraquecimento do solo, mas em escala global com a perda da biodiversidade. A preocupação não é com a Amazônia “pulmão do mundo”, este discurso já deixou de ser consistente, mas é com o papel fundamental que exerce na dinâmica regulatória do clima em todo o planeta. Os impactos transcendem as fronteiras geográficas locais e atingem o globo terrestre. 

 

Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais) foram quase 30.000 Km² do bioma queimados em agosto deste ano (2019), equivalente a 4 milhões de campos de futebol, colaborando para aumentar os prejuízos ambientais, sociais e econômicos. Para o Observatório do Clima este recorde, mostra “o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro”. Alguns especialistas desconfiam que as queimadas são uma forma de limpar a sujeira feita pelo desmatamento. Estes dados são ignorados pelo então presidente que, não só “acha”, mas tem certeza, que a Amazônia é do Brasil e ninguém tem o direito de se intrometer, tampouco aqueles que apresentam os dados reais do desmatamento. 

 

Esta semana, ele pediu que os brasileiros, no dia 7 de setembro, se vestissem verde e amarelo “para mostrar ao mundo que aqui é o Brasil. Que a Amazônia é nossa”. É preciso deixar claro ao presidente que uma parte da Amazônia, a maior parte, está no território nacional, definida como Amazônia Legal, mas a Amazônia, enquanto bioma, abrange outros países, vai além do território nacional. As queimadas atingem o ecossistema em geral, a maior floresta tropical do planeta, portanto os impactos são de proporções internacionais e este discurso de que “a Amazônia é nossa” não tem crédito.

 

Qual Amazônia? Aquela que ele decretou suscetível de exploração por agricultores fora da Amazônia Legal? Aquela que compromete diversos estados como o Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso? É esta Amazônia que ele chama de “nossa” e, por isso, podemos devastá-la ao bel prazer? Se o seu decreto tinha intenção de apagar o fogo, pelo contrário, colocou mais lenha na fogueira. 

 

A intenção de que o mundo não se intrometa no Brasil está ligada ao não compromisso com as políticas ambientais e à desconfiança dos órgãos responsáveis pela segurança e preservação do bioma. Por que cancelou as verbas da Alemanha e da Noruega destinadas à proteção e preservação do bioma? Por que o Ministério da Agricultura quer rever a demarcação de terras indígenas, as regras de proteção ambiental e áreas protegidas, mesmo sabendo que estas políticas evitaram o avanço do desmatamento, de queimadas e grileiros? 

 

Por essas e outras é preciso rever se o problema do presidente é questão de consciência. talvez não! Não há interesse por parte do governo que a lei de proteção da Amazônia e dos povos da floresta seja cumprida, pelo contrário, ela vem sendo questionada e desmontada. O que se percebe é o desejo de queimar os avanços que tivemos nos últimos anos em relação à proteção e preservação da Amazônia. De fato, entre 2013 e 2014, o IMPE e Ministério do Meio Ambiente divulgaram os dados do desmatamento da Amazônia legal com queda de 18% ficando na casa de 5.891 km². Se comparar com os dados do IMPE hoje, como foi mencionado acima, é de questionar: Qual é a Amazônia que o governo quer preservar? 

 

 

Imagem: https://www.correiodiplomatico.com/ecoa-o-grito-a-amazonia-e-nossa/ 

 

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