Repensando o sagrado: Rubem Alves e a Teologia da Libertação

29 de Agosto de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




De 27 a 29 de agosto aconteceu na Universidade Federal de Juiz de Fora um simpósio cuja abordagem é “Repensando o Sagrado: Rubem Alves e a Teologia da Libertação”. Um evento promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião. Além de conferências e grupos de trabalhos, foi fundado, em parceria com o Instituto Rubem Alves, o SIRA: Sociedade Internacional Rubem Alves. 

Foi um encontro interessante, não só pelas reflexões produzidas e apresentadas ali acerca de um Rubem Alves teólogo, educador, psicanalista e contador de estórias, mas acima de tudo foi um encontro emocionante, pois contamos com a participação de pessoas que conviveram ele e deram os seus testemunhos recordando a convivência brincalhona com o mestre.

O evento começou com uma bela apresentação tratando de Resgatar em show de voz e violão, o gosto de Rubem Alves. Algumas reflexões permearam o encontro tratando de expor a vida e obra do pensador de Boa Esperança. O encontro serviu ainda mais para aguçar o desejo de conhecer a fundo a literatura alvesiana.

Quem foi Rubem Alves? Como ligá-lo à teologia da libertação? Não tem como escrever, em poucas palavras, sobre a vida e obra deste gênio, por isso prefiro falar um pouco de como o conheci. Entrei em contato com a teologia de Rubem Alves há 30 anos na Cidade de Deus, Rio de Janeiro. Emergia a ideia, na época, de que a Igreja dos pobres era a “menina dos olhos” de Deus. Era a igreja Pós-Medelín  da opção preferencial pelos pobres. Engajei-me na pastoral de favelas caindo num ativismo sem espiritualidade.  Este ativismo me fez questionar a igreja enquanto instituição e poder e, com isso, vieram também as dúvidas sobre Deus. Comentei isso com um sacerdote amigo e ele me indicou o livro de Rubem Alves: “Variações sobre a vida e a morte”. Devorei a obra. 

Fui provocado pelas ideias de Rubem Alves. Primeiro pela maneira artística que escreve, fugindo do academicismo pesado e sem sabor. Ao Falar de outro mundo possível, ele aponta para a beleza e diz que teologia é uma comida que se faz por motivos estéticos. Entendi que não precisava “acreditar” para fazer teologia, pois o que mais importa é Descobrir e revelar o Deus escondido em nós. As melhores teologias surgem da dúvida e não da ideias claras e distintas.

O Deus que eu procurava não era doutrinal, pesado e sem emoção, por isso a dúvida. Mais ainda, o livro me fez questionar o tipo de espiritualidade na qual eu estava embarcando. Entendi que viver no espirito não é se fechar ao corpo, aos prazeres da carne e à alegria; não é fechar os olhos e virá-los para dentro a fim de não ver o mundo, mas abri-los e enxergar, sob a ótica do amor, toda beleza das coisas. Espiritualidade é enxergar o mundo com os olhos de Deus, com os olhos da beleza.

Depois que conheci Rubem Alves, e passei a entrar em contato com suas obras, comecei a entender que Deus “adora brincadeira”. Aprendi quando criança que é preciso deixar os brinquedos se quiser ser adulto. Rubem Alves me ensinou outra lição: deixar de lado adulto, sério e sisudo. O que salva o adulto é a criança brincante dentro dele. Talvez seja isso que Jesus queria: mostrar as crianças como metáforas do Reino de Deus. 

A Teologia de Rubem Alves ao, ser chamada de “ libertação”,  não se dirige à uma práxis de fé misturada com politica, mas à ideia de que há algo essencial no ser humano a ser liberto: a beleza. Dizia Rubem Alves “Deus criou os pássaros, os homens as gaiolas”. Libertação, na perspectiva de Rubem Alves é estética, muito mais que politica. Por isso que ele citava sempre uma frase de F. Dostoievski: “a beleza salvará o mundo” 

 

Imagem: https://todobiografias.net/rubem-alves/ 

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