06 de Junio de 2019
[Por: José Neivaldo de Souza]
Há tempo venho questionando todo discurso acerca de Deus, da fé e das Sagradas Escrituras. Meu questionamento não parte da dúvida, mas sim da certeza de que estes temas podem servir facilmente, como tem servido, para justificar e sustentar interesses escusos.
Fala-se pouco de um Jesus histórico, humano e interessado na igualdade entre as pessoas e na justiça social. Pouco se menciona um Jesus que contesta sua própria religião que, por ambição nas coisas deste mundo, deturpou a imagem de Deus, legalizando sua Palavra e enfraquecendo a fé.
É preciso voltar ao Jesus histórico para entender a fé de Jesus. Nele a imagem de Deus se apresenta claramente e de forma objetiva: Deus é amor e seu reino, de justiça, não é deste mundo, mas começa aqui e agora. Na trilha de Jesus de Nazaré, o cristão deve se opor a todo discurso de ódio e injustiça que se faz em nome de Deus.
É preciso voltar ao Jesus histórico para compreender as Escrituras. Ao reler o Deuteronômio, os profetas e os salmos, o Mestre traz uma nova compreensão à fé e faz com que ela se fortaleça no cuidado com o outro: uma fé que não leva à vida, nada mais é senão um instrumento de manipulação do poder.
Em Mt 12 os fariseus, legalistas, recriminam Jesus e os discípulos por fazerem atividades no sábado, dia do descanso judaico. Jesus, flexibilizando a lei, em favor da misericórdia, mostra que o discurso deles é incoerente e que, se uma ovelha de um deles caísse no buraco, em dia de sábado, ele iria salvá-la. Jesus se opõe, não ao fato de salvar a ovelha, isso é louvável, mas à incoerência do discurso que, ao mesmo tempo, é contraditório e não manifesta a justiça divina.
Há uma historinha que li: um homem seguia numa estrada deserta com os seus animais, um jumento e um cão. Cansados e com muita sede, param em um lugar bonito, portal de mármore e ouro. O porteiro diz que ali é céu e que o homem pode entrar para beber água, mas os animais não. O homem então agradece e, com sede, segue a viagem. Mais adiante encontra um camponês e pede água para si e os animais. O camponês abre a porteira e o deixa entrar com os animais. O homem pergunta que lugar é aquele e o camponês responde que é o céu. O homem então relata o que se passou no outro lugar e que o porteiro o enganara. Não houve engano, diz o camponês, antes de chegar ao céu é preciso seguir os seus sinais, e o maior deles é o amor a toda criatura.
É preciso discernir os sinais da graça divina. Quem não cuida provavelmente apresenta um céu segundo sua própria compreensão.
É preciso perguntar: quem não age com coerência, promove o preconceito e a exclusão, apresenta realmente a verdadeira face de Deus? Quem desrespeita os mais necessitados e usa de discurso religioso para isso, ajuda a fortalecer a fé? São perguntas que nos ajudam a observar e duvidar mais dos discursos sobre o céu. Um céu sem cuidado, amor e justiça, nada mais é do que um “lobo com pele de cordeiro”.
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