Realista esperançoso

23 de Mayo de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




Diante da situação em que vive o povo brasileiro, particularmente os mais sofridos e necessitados da sociedade, escolhi a esperança ao desespero. Não a esperança dos otimistas, que não enxergam a realidade e vivem, como tolos, sustentando a crença de que tudo vai ficar bem quando na verdade não há perspectivas. 

 

Também, não é a esperança do pessimista que, em sua chatice, torce para que suas profecias, acerca do pior, se cumpram. O romancista britânico, Arnold Bennet, escreveu: “O pessimismo, depois de você se acostumar a ele, é tão agradável quanto o otimismo”. De fato, há uma verdade nesta afirmação e, por isso, prefiro a filosofia do nosso dramaturgo Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. 

 

É isso! Enquanto “realista esperançoso”, escolho a esperança que é ao mesmo tempo agradável e desagradável. Agradável porque encara a desgraça de forma bem-humorada e, sem estresse ou medo, espera as coisas melhorem. Desagradável porque, não se pode perder a capacidade de indignar-se ou decepcionar-se, posturas importantes no aprendizado da vida. Concordo que ter esperança é agradável, tem sua alegria, mas, depender dela é desagradável uma vez que, a princípio, ela só se concretiza na memória e pode nos decepcionar. A poetiza mineira, Adélia Prado diz que “quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente”.

 

Meditar sobre a esperança, me dá esperança! Leio a Bíblia, não para justificar a crença em um determinismo brutal que cega e desorienta as pessoas, mas para provocar em mim o gosto pelo caminho. O Livro das Lamentações, atribuído ao profeta Jeremias (Sec. VI a. C.) que, aterrorizado com a total destruição de Jerusalém, ensina: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3,21). Melhor é percorrer o caminho com a memória cheia de esperança. 

 

Jó perdeu sua família, suas posses e, despojado de tudo, se encontrava em desgraça. Em sua tristeza, ele encontrou uma alegria, pois “a esperança dos justos é a alegria” (Pv 10,28a): observando um broto que surgia de um velho tronco à beira do rio, meditou: “Porque há esperança para a árvore, que, se for cortada, ainda torne a brotar, e que não cessem os seus renovos. Ainda que envelheça a sua raiz na terra, e morra o seu tronco no pó, contudo ao cheiro das águas brotará, e lançará ramos como uma planta nova” (Jó 14,7-9). Com Jó aprendo a não me desesperar diante das angústias e do sofrimento. Ao observar a chuva, vejo que as águas mais filtradas, caem das nuvens mais escuras.

 

Como fica a esperança diante de uma notícia triste de que o novo governo, em apenas 100 dias de mandato, em 2019, bateu o recorde de liberação de agrotóxicos (166 após a concessão de 12 novos registros, publicado no Diário Oficial da União)? Penso no que vem pela frente. Os agrotóxicos são nossos inimigos e o Brasil é um dos países que mais usa venenos no planeta. Nossas abelhas estão desaparecendo. Nesta escuridão surge um facho de luz que simboliza a esperança de uma agricultura sustentável: vozes se levantam, com apoio da Greenpeace, contra a liberação recorde de agrovenenos, fortalecendo assim a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA). 

 

É isso! A esperança, “sonho daqueles que estão acordados”, como dizia Aristóteles, é um remédio para quem se deixa provocar pela vida. Ser um “realista esperançoso” ajuda a exigir de mim, como escreveu Clarice Lispector, “que se cobre o mínimo das pessoas”. 

 

 

Imagem: https://ministeriobrasilnovo.com.br/site/esperanca-viva/        

 

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