O cão e a educação

17 de Mayo de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




As manifestações de 15 de maio surpreenderam o Brasil. Além de demonstrar a baixa popularidade do governo, que cada vez mais despenca, mostra o quanto algumas áreas sociais, são importantes para a soberania nacional. A educação é uma delas. Dizia o grande educador brasileiro, Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. As paralizações deste dia expressam esta consciência. 

 

O povo saiu às ruas, em mais de 200 cidades do Brasil, neste dia 15 de maio para protestar contra o bloqueio de investimentos nas escolas e universidades públicas. Além dos profissionais da área, entidades sindicais, estudantis, políticas, o movimento foi de solidariedade àqueles que reivindicam melhores condições para o conhecimento. 

 

As declarações do presidente e do seu ministro da educação são impensadas. Final de abril o ministro havia comentado sobre os cortes apontando para a “balbúrdia” de algumas universidades públicas e que, segundo ele, não produzem “desempenho acadêmicos esperados”. Que resultados ele espera? Na falta de um argumento plausível, ele usou este. Tanto é que o objetivo já estava traçado e foi anunciado logo depois: o corte de verbas seria aplicado em todas as universidades federais. Nesta mesma direção, por falta de argumentos e diplomacia vai o presidente. Ele não esperava tamanha manifestação. Para ele, é mais fácil, chamar de “imbecis” ou “idiotas úteis”, aqueles que defendem a educação e protestam contra a falta de incentivo, do que saber-se ignorante e se reconhecer fantoche nas mãos de uma equipe econômica cujo programa é desqualificar e privatizar tudo o que é público.   

 

No momento do ato, em favor da educação, o ministro foi convocado pela Assembleia dos deputados para explicar os cortes. Infelizmente, quando não desviava do tema, responsabilizava os governos anteriores, particularmente Dilma Rousseff: “este governo que tem 4 meses, não é responsável pela situação”. Quem é? Foi preciso que, quem presidia a sessão, pedisse que ele não se desviasse do tema arguido.

 

Comparo este governo, em relação ao dinheiro público, a um cão com um pedaço o osso na boca. Não divide, rosna para quem ele acha que é uma ameaça e, como se não bastasse, procura um pedaço ainda maior. A educação não é do governo, é patrimônio público e nele se deve investir para que o saber seja compartilhado e não usurpado. Vem à mente a fábula de Esopo: “o Cão e o pedaço de carne”: “um cão atravessava um riacho com um pedaço de carne na boca. Quando viu seu reflexo na água, pensou que fosse um outro cão carregando um pedaço de carne ainda maior. Soltou então o pedaço que carregava e se jogou na água para pegar o outro. Resultado: não ficou nem com um nem com outro, pois o primeiro foi levado pela correnteza e o segundo não existia”.

 

A partir desta imagem vejo que o governo atual corre um grande risco e ele já se anuncia: ficar sem o poder que lhe foi garantido pelo voto e ficar sem o poder que ele supostamente acha que é dele.  Um governo que procura se impor pela brutalidade, jamais terá na educação e na conscientização um aliado. 

 

 

Imagem: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/15/album/1557947728_420644.html 

 

 

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