01 de Mayo de 2019
[Por: José Neivaldo de Souza]
“A filosofia é o melhor remédio para a mente” (Cícero)
Para que serve a Filosofia? Esta pergunta me veio à mente depois das declarações de Bolsonaro e de seu ministro da educação. Para eles, pelo que entendi, investir na formação filosófica e sociológica é um desperdício de dinheiro público. Melhor é concentrar investimentos em áreas que “geram retorno”. Que retorno?
O “retorno”, do qual falam, apesar de financeiro, tem o seu viés político. Na cabeça deles, é mais fácil conduzir uma massa desprovida de pensamento crítico e distanciada de um conhecimento verdadeiro. O “retorno” que almejam é a fidelidade de um povo que acredita em afirmações impensadas e, sem refletir, as espalha como verdades absolutas. Afirmações como: “nunca houve ditatura no Brasil”; “é preciso reescrever os livros de História”; “o nazismo era um movimento de esquerda”; “os dados do IBGE não dizem a verdade sobre o aumento do número de desempregados no país”; “o Brasil não pode ser um país do mundo gay... se alguém quiser vir fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”, são desprovidas de racionalidade e pensamento crítico.
Quem corrobora com estas afirmações, e as compartilha, provavelmente jamais leu Platão para quem a política é arte do bem-viver e uma vida que não se questiona não vale a pena ser vivida. Desconhecem a ética de Aristóteles na qual o amor à coerência dos fatos tem prioridade à perversa insensatez: É sábio pensar antes de afirmar, é tolice afirmar sem pensar! Nunca ouviram falar de um Arthur Schopenhauer que, diante da ganância do poder, localiza a felicidade na consciência e não nos bancos. Não sabem que uma nação, como bem escreveu Descartes, se torna mais civilizada quando seus cidadãos se importam com a liberdade, a fraternidade e a igualdade, temas tão caros à Filosofia.
Não é a Filosofia que perseguem, é o filosofar, o desejo da busca e a fome de saber. Dizia Immanuel Kant: “Não se ensina Filosofia, mas a filosofar”. Filosofar é admirar a beleza das perguntas: O que? Por que? Quem? De onde? Para onde? Rubem Alves perguntava sobre o que é mais importante: “saber as respostas ou saber fazer as perguntas?”
É o medo das perguntas que levou e leva os ditadores da história a se oporem à Filosofia. Mas, qual Filosofia? Aquela que não tem receio da verdade, da qual diziam os gregos: é "alguma coisa" que, com ela ou sem ela, o mundo segue sua rota. Sem pretensão de mudar o mundo, a Filosofia quer acolhê-lo em suas relações de amor e dor. É por isso que Sócrates apresentou ao conhecimento um novo caminho: conhecer a si mesmo antes de julgar os outros e indagar acerca do mundo. Que a acolhida seja amorosa e, ao mesmo tempo, corretiva. Os Impérios e as religiões perseguiram a Filosofia: Os romanos a viam como um estorvo e, através de seu mandatário, levaram um de seus maiores pensadores ao suicídio. Sêneca, o pensador da “tranquilidade da alma”, não conseguira acalmar Nero, o imperador perturbado que o condenou. Os cristãos, atrelados ao poder, a expulsaram de seus templos, preferindo a linguagem dogmática e fundamentalista que, para a indignação de Rubem Alves: “não tem reticências nem pontos de interrogação. Só pontos finais e pontos de exclamação”.
A Filosofia não serve aos Impérios e nem se dobra aos instrumentos de seu poder. Talvez seja este o seu maior erro e pelo qual é condenada. Ela ama a sabedoria que se questiona: “sei que nada sei” e corrige o “suposto saber” da imbecilidade que procura aplicar no presente as respostas prontas do passado. O sábio, diferente do tolo, tem o seu compromisso com a liberdade e a verdade, essenciais à uma vida que se renova, como bem expressa a poesia de Cecilia Meireles: “a vida só é possível reinventada”. À pergunta: para que serve a Filosofia? Respondo: Não serve para nada! A não ser para nos ajudar a acolher a vida e nos ensinar a morrer.
Imagem: https://www.magisterio.com.co/articulo/para-que-sirve-la-filosofia
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