24 de Abril de 2019
[Por: José Neivaldo de Souza]
No momento em que escrevo, ouço a linda canção de Beto Guedes. Não tem como não celebrar o dia 22 de abril, instituído pela ONU, desde de 2009, como o “Dia da Terra”. Alegrem-se aqueles que que se conscientizam da importância da Mãe terra para a sustentação da vida. A “Pacha mama”, como é chamada pelos povos andinos, não quer ser lembrada somente neste dia, mas suplica que todos os dias sejam de reverência e cuidado diante da ação predatória e destruidora do ser humano.
A terra nos observa! Observa o quanto os seus recursos naturais e humanos são explorados exageradamente por uma parte de sua população que não se preocupa com as mudanças climáticas e tampouco com um projeto econômico que considere a preservação da natureza. A terra nos observa! O jornal O Globo mostra o mapa da desigualdade mundial, divulgado no Fórum de Davos. Entre 2017 e 2018 “26 pessoas possuem a mesma riqueza dos 3,8 bilhões que compõem a metade mais pobre da humanidade”. Serão os “donos” da terra? Estes agem como imperadores, ditam suas políticas e influenciam governos e nações e implantam uma filosofia do desenvolvimento que une privatização de bens, exploração de recursos naturais e lucro.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, já em sua campanha eleitoral, mostrava sua ideia neoliberal. Havia anunciado que seguiria Donald Trump, não só nas políticas de privatização, mas também na retirada do Brasil do Acordo de Paris, tratado internacional, ocorrido em 2015, assinado por 195 países, entre eles o Brasil. Estes países se comprometeram a reagir às mudanças climáticas e reduzir o aumento de gases de efeito estufa. Com a vitória, Donald Trump anunciou a retirada dos EUA, um dos maiores poluentes do planeta, do Acordo.
Com a eleição de Bolsonaro, provavelmente, sob dura oposição, o Brasil poderá se retirado do Acordo. Sua política facilita a exploração dos recursos naturais, pois entende que o meio ambiente deve estar sujeito ao desenvolvimento. Não será difícil entregar a Amazônia para a exploração de empresas multinacionais, já que comunga das ideias de latifundiários contrários à demarcação de terras indígenas e favoráveis ao desmatamento para o desenvolvimento do agronegócio.
A ambição humana ameaça o planeta terra! O escritor russo, Lev Tolstoi, retrata bem esta paixão. Em sua obra: “De quanta terra precisa o homem?” o camponês Pahóm ouve a conversa de sua mulher com a irmã acerca das vantagens e desvantagens de morar no campo e na cidade. Impulsionado pela ambição, disse em voz alta: “se eu possuísse muitas terras, nem mesmo ao diabo eu temeria”. Ele não sabia que o “coiso”, de trás do fogão, o ouvira. A partir deste momento, Pahóm começa a acumular mais e mais terras. Abriu-se um buraco em seu desejo e a ganância o fez ir além. Chegando em um lugar distante, o chefe da aldeia o desafia oferecendo “terras a perder de vista” caso ele consiga, em um dia, percorrer todas as propriedades e retornar ao ponto de partida, antes do pôr do sol. Caso contrário, perderia tudo. O ambicioso Pahóm sai marcando suas terras, mas não percebe o cair da tarde. Quando se dá conta o sol já está se pondo. Começa a correr desesperadamente a longa distância de volta a fim de chegar ao pondo de partida. Exaurido, mal escuta o chefe dizer que ele ganhara as terras, cai morto.
Tolstoi levava uma vida simples, preocupa-se com a natureza, pois sabia que a ganância humana é uma paixão diabólica, que não tem limites. Sua pergunta ressoa hoje: “De quanta terra precisa o homem?”. O que fazer para cuidar do planeta e impedir danos irreparáveis à biodiversidade? Minha sugestão é conscientizar-se de que a terra não nos pertence, nós pertencemos a ela. A ganância é uma paixão a ser contida. A “Pacha mama” gera vida, é preciso preservá-la usando de forma consciente os seus recursos. “Nossa casa comum”, diria o Papa Francisco, nos convoca a pensarmos além de nossas fronteiras em favor do cuidado e do amor às gerações futuras.
Imagem: https://elblogverde.com/dia-de-la-tierra-como-celebrarlo/
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