Qual é o valor de uma vida?

18 de Abril de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




“O valor de uma vida não se mede pela quantidade de coisas que realizamos, mas pela qualidade de nossa presença em cada uma de nossas ações”. Frédéric Lenoir

 

Qual o valor de uma vida? O pensamento de Lenoir, filósofo e místico francês, ajuda-nos a buscar uma resposta. No mundo contemporâneo, imbuído de uma ideologia utilitarista, a realidade quantitativa predomina sobre a qualidade e se impõe de tal forma que o modelo de uma vida valorosa se apresenta em forma de riqueza e bens materiais. 

 

O valor quantitativo da vida. O acúmulo de dinheiro e o lucro dizem respeito ao ter e não ao ser. Quanto mais tenho melhor! A cultura da posse gera um problema difícil de ser resolvido: a desigualdade social. O Brasil, neste quesito, está entre os dez primeiros países no ranking mundial, conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU. Não é surpresa! Com a ajuda do IBGE, deparamos com a Gestalt da pobreza: 10% dos mais ricos do Brasil acumula quase 50% da renda do país gerando uma “imensa desigualdade” retratada na falta de condições básicas para a maioria da população: comida, educação, saúde pública, trabalho qualificado, transporte, cultura, etc. 

 

A reboque da ideologia do acúmulo vem a ostentação, exibição do luxo. Há os que ostentam o que de fato possuem e há os que desejam levar uma vida em alto estilo, mas isso não condiz com a sua realidade: gastam o que não têm para mostrarem o que não são. Estes, muitas vezes, se endividam sem terem o real controle dos ganhos e dos gastos. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) divulgou que o número de endividados aumentou nos primeiros meses de 2019. Fora o problema do endividamento, a ostentação gera ganância e luxúria facilitando crimes como roubo e assassinato.

 

O valor qualitativo da vida. O verdadeiro valor não está no acúmulo de capital, lucro e tampouco na ostentação, mas numa vida simples. Frédéric Lenoir indica que há duas vias complementares para o bem-viver; são vias de libertação e comunhão. Uma: “ir em direção a si mesmo” e outra: “estender a mão ao outro”. 

 

Tornar-se “si mesmo” é possível pela introspecção. Por esta via procuramos identificar o que não somos, isto é, o que recebemos do exterior através da educação e da cultura. Geralmente são ideologias religiosas ou políticas, de uma determinada sociedade, que alienam e escravizam o eu impedindo-o de ir em direção a si mesmo. Esta pressão faz com que tenhamos receio de nos mostrar quem de fato somos e passamos a vida tentando agradar as pessoas imaginando suas expectativas sobre nós. A introspecção nos ajuda a tomar consciência destes vínculos que, apesar de importantes em nossa vida, precisam ser observados com olhar crítico a fim de nos libertarmos das supostas expectativas do outro. 

 

Não é fácil “estender a mão ao outro”. Sri Prem Baba observou que o outro não significa dependência, mas deve ser via de comunhão. O problema do relacionamento está muitas vezes atrelado à ideia de que o outro é subordinado a mim ou eu subordinado a ele. Esta falta de autonomia se expressa no plano físico, psíquico e espiritual. Cria-se uma ilusão em relação ao outro na medida em que se deposita nele o motivo da felicidade. “Estender a mão ao outro”, sem interesse de fazer dele uma extensão do eu ou de se sujeitar a ele, é uma forma de manifestar a qualidade da presença; uma presença libertadora voltada para a comunhão. 

 

Voltando ao pensamento de Lenoir, pergunto sobre o valor de uma vida e me coloco nesta resposta. São muitas as coisas que realizamos ou ficaram inacabadas, mas poucas são aquelas que realmente contaram com a qualidade de nossa presença. Concordo com a poetisa portuguesa Florbela Espanca: “Se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis”.

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