05 de Abril de 2019
[Por: José Neivaldo de Souza]
Quem não faria como Pilatos que, diante de um condenado como Jesus de Nazaré, aproveitou a oportunidade para perguntar o que é a verdade? Os últimos acontecimentos me fizeram debruçar sobre a semântica e analisar o significado e a interpretação que fizeram deste conceito: "a verdade".
Desde sua campanha, Jair Bolsonaro quis se impor como honesto e verdadeiro. Diante de uma população cansada e desmotivada, em relação à corrupção, ele se apresentou como o salvador que iria livrar o Brasil do comunismo e dos pecadores. Os comunistas são todos os que se opõem a ele, principalmente os partidos de esquerda e, de maneira particular, o Partido dos Trabalhadores cuja bandeira é pintada com a cor vermelha.
Num discurso messiânico, o capitão da reserva retomou um chavão que repetia no exército, nos tempos da Ditadura Militar: “Deus acima de todos e a pátria acima tudo”. Como se não bastasse se impôs como arauto da verdade repetindo em alto e bom tom o versículo bíblico: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). Aos analfabetos políticos e ingênuos na fé faz entender, através dos bombardeios de fake News (calúnias e notícias falsas) que os adversários querem destruir os bons costumes, ameaçam a família e a propriedade privada.
Este tipo de discurso era patente no auge do Regime Militar. Grupos integralistas, de ideologia nazifascista, como a TFP (Família, Tradição e Propriedade) e outros ligados ao sistema totalitário e ao conservadorismo político-religioso levantavam esta bandeira. O que pretende o presidente do Brasil quando procura negar fatos históricos ou até mudar a semântica do conceito “verdade”? Colocar-se acima da verdade. Este é o seu único interesse. A este tipo de pessoa diria Gandhi: “há muitas inverdades sendo proferidas e proliferadas neste mundo completamente estupefato e desnorteado. Assim, tudo o que posso lhes dizer, e com a mais profunda humildade, é que a verdade não será encontrada por ninguém que não possua um abundante senso de reverência e autoentrega”.
Em suas últimas declarações, juntamente com o seu ministro Ernesto Araújo, o presidente nos faz perguntar acerca dele mesmo: que verdade quer conhecer? A partir de qual verdade pretende livrar a pátria? Todos sabemos, e os historiadores confirmam isso, que o Nazismo foi um movimento de extrema-direita e tinha como alvo político-religioso limpar a Europa dos comunistas e dos judeus. Foi o estopim da segunda grande guerra. Em sua visita ao museu do Holocausto em Jerusalém, Bolsonaro deixou escapar uma das maiores asneiras, convertendo a verdade em opinião pessoal. Segundo ele, o Nazismo, responsável pelo assassinato de seis milhões de judeus, foi um “movimento de esquerda”. Provavelmente queria agradar a Benjamin Netanyahu e a população israelita, por isso procurou subverter a verdade assim como fez em outras ocasiões. A penúltima subversão foi a negação do “Golpe” de 1964 e das atrocidades da ditadura.
Esta figura, repudiada por uma boa parte da população brasileira, que não representa aqueles que presam pela verdade histórica e crítica, vive de opiniões pessoais. Opiniões, dizia Sócrates, filósofo da antiguidade grega, “não têm compromisso com a verdade, já que não suportam o debate”. A verdade que liberta não tem a pretensão de agradar os poderosos e nem de semear ódio, mas de cultivar o diálogo e a justiça, como dizia o sábio Lao-Tse, venerado por toda China comunista. Resta-nos citar o livro da Sabedoria (7,30b) que nos ensina desde os Impérios antigos: “Sapientiam autem non vincit malitia”. Num bom português: “Contra a sabedoria o mal não prevalece”.
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