O laicato e o ministerio da profecia (O laicato na Igreja e no mundo 8)

22 de Febrero de 2019

[Por: Agenor Brighenti]




A missão dos leigos e leigas na Igreja e no mundo não é outra que a missão de todos os cristãos, incluídos o clero e os religiosos e religiosas. Ainda que haja diversidade de tarefas segundo a especificidade dos carismas dispensados pelo Espírito, a missão da Igreja como um todo é única – evangelizar, através do exercício do ministério da profecia, do sacerdócio e do serviço ao mundo. O que no Antigo Testamento o que era atribuição de grupos distintos, Jesus reúne os três múnus e os confere como missão a cada batizado (LG 13).

 

O exercício do ministério da profecia pelo testemunho

 

O exercício do ministério da profecia Palavra começa pela acolhida e vivência pessoal e comunitária da Palavra de Deus. Vivência é, antes de tudo, dar testemunho (martyría) de uma vida cristã, condição para ser “luz do mundo” e “sal da terra”. Não combina com cristianismo uma vida morna. Muito menos com a Igreja, uma comunidade eclesial que não irradia o Evangelho pela vida. Por isso, a ação primeira para um laicato testemunha da Palavra é engajar-se numa pequena comunidade eclesial, inserida profeticamente na sociedade. É a vivência e a convivência com os irmãos na fé, que funda o testemunho cristão, a base de tudo. Segundo a Evangelii Nuntiandi, o testemunho é o primeiro meio de evangelização (EN 21). É falar de Deus sem falar, pois se trata antes de “mostrar” a fé pela vida que “demonstrá-la” com meras palavras. 

 

O exercício do ministério da profecia pelo anúncio do Evangelho 

 

A vivência da fé cristã, além de acolher e irradiar o Evangelho pelo testemunho, consiste também em anunciá-lo explicitamente. O Evangelho chega pelos olhos que veem o testemunho dos que creem, mas também pelos ouvidos que escutam as pessoas que o anunciam. A mensagem do Evangelho consiste em anunciar o Reino de Deus que Jesus inaugurou com sua presença e com sua obra - um Reino de Justiça, de Paz e de Amor, já anunciado pelos profetas. Trata-se de anunciar o Evangelho, com todo seu potencial profético e transformador, fazendo dele uma boa notícia aos que têm fome e sede de justiça, aos que choram e sofrem, aos misericordiosos e pacíficos... (Mt 5,1-2; Lc 6,20-23). Anunciar, sobretudo aos excluídos, que não estamos jogados à nossa própria sorte, à mercê das estruturas de pecado, que engendram dominação e morte. Que temos um Pai que nos criou para a felicidade com ele, que nos enviou seu Filho, vencedor do egoísmo pelo amor sem medida, para introduzir-nos em seu Reino. Que a Igreja continua a obra de Jesus e que ela quer ser esperança, sobretudo aos que esperam contra toda esperança. E que aquele que quiser terá na Igreja um espaço privilegiado para viver e edificar o Reino de Deus no mundo. 

 

O exercício do ministério da profecia pela catequese

 

Precedida pela vivencia da fé no seio de uma comunidade eclesial (martyria) e pelo anúncio do Evangelho do Reino (kerigma), a catequese (didaskalia) é o momento da educação e da formação cristã, condição para ser profeta. Leigos e leigas catequisados, para serem também eles catequistas, a começar enquanto pais com seus filhos. Catequese é mais do que preparar-se para receber os sacramentos. Trata-se de um processo de iniciação à vida cristã, que precisa ser permanente, prolongando-se na catequese com adultos. Espaço privilegiado de formação na fé têm sido as comunidades eclesiais de base. Sua centralidade na Bíblia assegura uma catequese vivencial, através da qual os conteúdos são vistos em estreita relação com a vivência pessoal e comunitária. Felizmente, a Igreja na América Latina tem multiplicado os espaços de formação na fé, particularmente de capacitação mais esmerada dos catequistas. 

 

O exercício do ministério da profecia pela teologia

 

Finalmente, o exercício do ministério da profecia desemboca na teologia (krísis), numa fé crítica, adulta, capaz de anunciar e denunciar. Na Igreja antiga, das escolas de catecumenato surgiram as escolas de teologia, pois se percebeu que o cristão precisava “dar razões à sua fé”. A privação do acesso dos cristãos em geral à teologia é uma das razões da milenar “infantilização do laicato” na Igreja. É na teologia que a fé encontra seu polo crítico, antídoto para devocionismos, emocionalismos e fundamentalismos e, sobretudo, para clericalismos, seja por parte do clero como de leigos clericalizados. Urge o aumento do número de leigos com formação teológica, também no âmbito acadêmico e profissional, em especial, de mulheres. O Documento de Aparecida frisa que o melhor dos esforços das paróquias e dos párocos seja canalizado para a formação do laicato (DAp 174). 

 

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