Ira: Caminho de vida ou morte?

08 de Febrero de 2019

[Por: José Neivaldo de Souza]




“A mais forte arma conhecida é a arma da benção. Portanto todo indivíduo inteligente se apoia nela. Ele vence com a paz, não com a guerra”. Lao-Tzu

 

Mahatma Gandhi, grande líder indiano, controlava sua ira direcionando-a para a revolução. Quando falamos de revolução nos vem à mente a luta armada e violenta. Gandhi revolucionou sem pegar em armas. O seu projeto de não-violência ativa baseava-se no autocontrole. A ira ou raiva, para ele, é uma energia a ser direcionada tanto para a guerra quanto para a paz, dependendo de quem a conduz. Gandhi aprendeu, às duras penas, a se distanciar de si mesmo e enxergar de fora as suas paixões, sem se confundir com elas. Para controlar a ira, Gandhi usava como técnica o recolhimento. Fazia jejum da fala. Ao forte desejo de eliminar o inimigo ou alguma coisa, o autocontrole direcionado à paz interior.     

 

A ira pode ser direcionada à morte. Notícias sobre pessoas vítimas de ira nos chegam todos os dias. A comissão das Nações Unidas pelos Direitos Humanos denunciou o alto índice de violência contra mulheres e apontou o Brasil como um dos primeiros países no ranking mundial. O feminicídio vem aumentando e são muitos os casos em que sua motivação é uma raiva com intenção de vingança. 

 

No passado a ira era uma prática comum e, ainda que considerada como um dos sete pecados capitais, pela igreja católica, persiste ainda hoje apesar das leis e punições. Ela tem suas justificativas numa cultura onde se cultiva o preconceito ou prejuízo em relação às pessoas, crenças, hábitos e comportamentos. As atitudes preconceituosas são manifestadas pela intolerância, irritação, comportamentos vingativos, etc. 

 

Uma ira descontrolada é força. Transformada em ódio ela pode levar as pessoas à terríveis consequências. Evitar que a ira se desenvolva pelo caminho do preconceito e da violência é essencial na preservação da saúde física, psíquica e espiritual. 

 

A ira pode ser direcionada à vida. Quem busca a tranquilidade da alma sabe que a raiva precisa ser controlada. Ainda que a pessoa aja com rigidez em relação ao outro, sua intenção não é maltratá-lo ou eliminá-lo de seu caminho, mas ajudá-lo a caminhar e a crescer. Aqui lembramos a passagem do evangelho (Mt 21, 23-27) em que Jesus, ao chegar ao templo, é vítima da ira dos sacerdotes e anciãos do povo. Eles questionam a origem da autoridade de Jesus esperando dele uma reação que pudesse prejudica-lo. A pedagogia do Mestre de Nazaré, baseada no autocontrole e na não-violência, ajudou-os a perceberem a própria ignorância e a reverem suas mazelas: “Jesus disse: eu também vou perguntar um coisa; se vocês me responderem, eu direi com que autoridade faço isto.
O batismo de João era do céu ou dos homens? Eles pensaram: se dissermos que é do céu ele vai nos dizer: então por que não creram? Se dissermos que é dos homens, o povo se revoltará pois consideravam João um profeta. E, então disseram: Não sabemos. E Jesus disse-lhes: Nem eu vos digo com que autoridade faço isto”.

 

O controle da ira é algo imprescindível na vida daqueles que buscam, em primeiro lugar, a paz interior e consequentemente a paz no mundo. Devemos estar atentos e banda, cujo nome é bem sugestivo, IRA, nos ajuda a pensar: “O mundo é grande; A mente é suja; O sangue é quente; E o desejo indisfarçável”. Vencer os próprios desejos e controlar os sentimentos, eis uma sabedoria da vida. Há um texto islâmico que, ao tratar da virtude da fortaleza, diz que forte não é quem vence o inimigo, mas quem vence a si mesmo, ao dominar a própria ira. 

 

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Imagem: https://www.elciudadano.cl/artes/la-edad-de-la-ira/02/16/ 

 

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