Ante el nuevo gobierno de ultraderecha que San Jorge nos socorra

10 de Enero de 2019

[Por: Leonardo Boff | Texto en español y portugués]




Ante el nuevo gobierno de ultraderecha, furioso y perseguidor, que está tocando ya derechos fundamentales de los ciudadanos, especialmente los salarios, y de los de otra condición sexual, necesitamos unir nuestras fuerzas de resistencia y de crítica, por un imperativo ético de salvaguardia de la democracia y de los commons que pertenecen al pueblo brasileño.

 

Además de este esfuerzo cívico, necesitamos la ayuda del santo preferido de los cariocas, que es San Jorge. Su historia legendaria nos puede dar ánimo y fortaleza.

 

Un dragón terrible amenazaba una pequeña ciudad del Norte de África. Exigía vidas humanas escogidas por sorteo. Cierto día, la suerte cayó sobre la hija del rey. Vestida de novia fue al encuentro de la muerte. Y he aquí que aparece San Jorge con su caballo blanco y su larga lanza. Hiere al dragón y lo domina. Le amarra la boca con el cinturón de la princesa y lo conduce, manso como un cordero, hasta el centro de la ciudad.

 

Necesitamos interpretar esta leyenda pues puede mejorar nuestra conciencia sobre lo que somos realmente. Sigo aquí las reflexiones de la psicología analítica de C. G. Jung y especialmente de su discípulo preferido Erik Neumann (cf. A história da origem da consciência, Cultrix 1990). Según él, el dragón que atemorizaba y el caballero heroico son dos dimensiones del mismo ser humano. El dragón en nosotros es nuestro inconsciente, nuestra  ancestralidad oscura, nuestras sombras, nuestras rabias y odios. De este trasfondo irrumpieron hacia la luz la conciencia, la independencia del ego y nuestra capacidad de amar y de convivir humanamente, representados por San Jorge. Por eso en algunas iconografías, especialmente en una de Cataluña (es su patrono), así como en la del brasileiro Rogério Fernandes, el dragón aparece envolviendo todo el cuerpo del caballero San Jorge.

 

Somos esta contradicción viva: tenemos la parte San Jorge y la parte dragón dentro de nosotros.  El desafío de la vida que siempre nos acompaña y nunca tiene un fin definitivo es que San Jorge mantenga sometido al dragón. No se trata de matarlo sino de domesticarlo y quitarle la ferocidad. 

 

El pueblo siente la necesidad de un  santo guerrero y vencedor, como se mostró en la novela “Salve Jorge” cuyo script fue hecho por una gran devota del santo, Malga di Paulo. San Jorge salva a las mujeres prostituidas contra el dragón del tráfico internacional de mujeres. 

 

Lo que hemos estado presenciando últimamente en Brasil, especialmente durante la campaña electoral, y ahora, infelizmente, en el actual gobierno es la irrupción del dragón. Él amenazaba a todos y cobraba sacrificios. Aquí él actuó sin ataduras y se expresó mediante todo tipo de violencia verbal e incluso física contra homoafectivos, indígenas, opositores y mujeres. Como ya escribimos en este lugar, es la emergencia de la dimensión perversa de nuestra “cordialidad” que, según Sérgio Buarque de Holanda, puede manifestarse también mediante el odio y la enemistad. Ella estaba y está siempre presente dentro de nosotros. Pero en la  condición psico-social-política que se ha creado puede salir de la oscuridad y manifestarse destructivamente.

 

Delante del dragón que ganó visibilidad ¿qué vamos a hacer? Tenemos que despertar al San Jorge que está dentro de nosotros. Él venció siempre al dragón. Vamos a usar las armas que ellos no pueden usar. A las discriminaciones responderemos con la inclusión de todos indistintamente. Al odio diseminado contra opositores, responderemos con amorosidad y compasión. A la creación de chivos expiatorios, responderemos con la defensa de los inocentemente marginalizados e injustamente condenados. A las mentiras y a las visones fantasiosas que nos quieren llevar a la Edad Media, responderemos  con la fuerza de los hechos y haciendo valer el sentido de la contemporaneidad.

 

Hay que vencer el mal con el bien. No reenvidar con los métodos e ideologías esdrújulas que se presentan pretendiendo no tener ideología. Lo que en verdad más tienen los miembros del partido y varios ministros es una extraña ideología de hacer sonreír de tan baja, anticuada  y ridícula.

 

En este afán, hacemos nuestra la oración popular: “Andaré vestido y armado con las armas de San Jorge para que mis enemigos, teniendo pies no me alcancen, teniendo manos, no me agarren y teniendo ojos no me vean… Que mis enemigos sean humildes y sumisos a Vos. Amén”.

 

*Leonardo Boff es teólogo y coordinador de la traducción de la obra completa de C.G.Jung en la editorial Vozes.

 

Traducción de Mª José Gavito Milano

 

*     *     * 

 

Face ao novo Governo que nos valha São Jorge

            

Face ao novo Governo de ultra-direita, furioso e perseguidor, atingindo já direitos fundamentais dos cidadãos, especialmente os salários e os de outra condição sexual, precisamos unir nossas forças de resistência e de crítica, por um imperativo ético, de salvaguarda da democracia e dos comms que pertencem ao povo brasileiro.

 

Além desse esforço cívico, precisamos da ajuda do santo preferido dos cariocas que é São Jorge. Sua história legendária nos pode dar ânimo e fortaleza.

 

Um dragão terrível ameaçava uma pequena cidade no Norte da África. Exigia vidas humanas escolhidas por sorteio. Certo dia, a sorte caíu sobre a filha do rei. Vestida de noiva foi ao encontro da morte. Eis senão quando, irrompe São Jorge com seu cavalo branco e sua longa lança. Fere o dragão e o domina. Amarra a boca com o cinto da princesa e o conduz manso como um cordeiro até o centro da cidade.

 

Precisamos interpretar esta legenda pois pode melhorar nossa consciência sobre o que somos realmente. Sigo aqui as reflexões da psicologia analítica de C. G. Jung especialmente de seu discípulo preferido Erik Neumann (cf. A história da origem da consciência, Cultrix 1990). Segundo ele, o dragão amedrontador e o cavaleiro heróico são duas dimensões do mesmo ser humano. O dragão em nós é o nosso inconsciente, a nossa ancestralidade obscura, nossas sombras. nossas raivas e ódios. Deste transfundo irromperam para a luz a consciência, a independência do ego e nossa capacidade de amar e conviver humanamente, representados por São Jorge. Por isso que em algumas iconografias, especialmente uma da Catalunha (é seu patrono), o dragão aparece envolvendo todo o corpo do cavaleiro São Jorge, bem como aquela do brasileiro Rogério Fernandes.

 

Somos esta contradição viva: temos a porção São Jorge e a porção dragão dentro de nós. O desafio da vida que sempre nos acompanha e nunca tem um fim definitivo é São Jorge manter subjudado o dragão. Não se trata de matá-lo mas de domesticá-lo e tirar-lhe a ferocidade.

 

O povo sente necessidade de um  santo guerreiro e vencedor, como se mostrou na novella”Salve Jorge” cujo script foi feito por uma grande devota do santo, Malga di Paulo. São Jorge salva as mulheres prostituídas contra o dragão do tráfico internacional de mulheres.

 

O que assistimos ultimamente no Brasil e especialmente durante a campanha eleitoral e agora, infelizmente, no atual governo é a irrupção do dragão. Ele ameaçava a todos e cobrava sacrifícios. Aqui ele foi solto e se expressou por todo tipo de violência verbal e até física contra homoafetivos, indígenas, opositores e mulheres. Como já escrevemos neste lugar, é a emergência da dimensão perversa de nossa “cordialidade” que, segundo Sérgio Buarque de Holanda, pode se manifestar também mediante o ódio e a inimizade. Ela estava e está sempre presente dentro de nós. Mas criou-se uma condição psico-social-política que pôde sair da escuridão e se manifestar destrutivamente.

 

Diante do dragão que ganhou visibilidade que vamos fazer? Precisamos acordar o São Jorge que está em nós. Ele sempre venceu o dragão. Vamos usar as armas que eles não podem usar. Às discriminações respondemos com a inclusão de todos indistintamente. Ao ódio disseminado contra opositores, responderemos com amorosidade e compaixão. À criação de bodes expiatórios, responderemos com a defesa dos inocentemente marginalizados e injustamente condenados. Às mentiras e às visões fantasiosas que nos querem levar à Idade Média, responderemos  com a força dos fatos e fazer valer o sentido da contemporaneidade.

 

Importa vencer o mal com o bem. Não revidar com os métodos e ideologias esdrúxulas que apresentam, com a pretensão de não ter ideologia. O que na verdade mais têm os membros do partido e vários ministros é uma bizarra ideologia de fazer sorrir de tão rasa, velhista  e ridícula.

 

Nesse afã, fazemos nossa a oração popular : ”Andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos, não me peguem e tendo olhos não me enxerguem...E meus inimigos fiquem humildes e submissos a Vós. Amém”. 

 

Leonardo Boff é teólogo e coordenador da tradução da obra completa de C.G.Jung junto à editora Vozes.

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