Há que se cuidar do broto

19 de Diciembre de 2018

[Por: José Neivaldo de Souza]




Nem tudo está perdido, em meio à devastação, onde tudo aponta para o caos e a falta de esperança, surge um broto, um rebento, que nos diz: “a vida está chegando”. A igreja verdadeira de Cristo nos ajuda a ver isso através dos símbolos litúrgicos e da Escritura sagrada. 

 

O profeta Jeremias, no século VI a. C., aguardava a vinda de um libertador que iria resgatar o seu povo de um nacionalismo cego e opressor. Ele era o choro do Israel e voz dos que não acreditavam em ídolos ou mitos, exaltados por si mesmos. Ao ver sua terra, o templo e a tradição destruídos pelo Império babilônico, sentiu medo, solidão e desespero. Apesar da tristeza, ele não perdeu a esperança. Reluzia a alegria do Verdadeiro Messias no qual cantou o salmista: “misericórdia e verdade se encontram; justiça e paz se beijam” (Sl 85,10). Diante da desolação, ele deparou com um sinal simples da natureza. De um tronco seco, brotava um ramo, metáfora de um novo tempo; uma nova aurora. Nesta visão, surge uma esperança, pois a vida é mais forte que a morte. 

 

Também o profeta Isaías havia anunciado, diante da opressão da Assíria, uma nova vida para Israel. E, com a metáfora do tronco seco, de onde surgiria um rebento cujas raízes trariam uma nova vegetação, ele anunciou um novo reino à sua nação, regado e cultivado pelo Espírito do Senhor. Um ar puro de sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, conhecimento e temor do Senhor (Is 11,1-2). 

 

Assim como Isaías e Jeremias, a igreja cristã celebra a expectativa da vinda Jesus, o verdadeiro Senhor da vida. Uma igreja que exalta outro senhor, que não seja o Senhor da vida, pode ser comparada a uma videira infértil, sua raíz secará e não dará mais frutos (Mt 21,19). A verdadeira igreja de Cristo anseia por conhecer os seus caminhos, sua verdade e salvação (Sl 25). O evangelho de Lucas retrata a situação do povo de Israel. Na época de Jesus havia muitos “messias”, com a promessa de salvar o povo da corrupção e das injustiças da sociedade. Diziam-se libertadores. Lucas, porém, indica o verdadeiro Messias. Ele resplandece a face de Deus no universo, na natureza e na humanidade. Um Deus que chora por amor e justiça. 

 

O evangelista convida, assim como Jeremias e Isaías, a contemplar o “broto” de uma árvore e enxergar ali o símbolo de uma nova estação, um novo ciclo de vida. É preciso cuidar do broto e se preparar para discernir os sinais do reino. O verdadeiro Messias jamais se impõe pelo medo e pelo ódio, ele traz esperança e amor: “Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida”. 

 

A música coração de Estudante, de Vagner Tiso, é profética e evangelizadora. Ela expressa a esperança em meio ao caos; metaforicamente aponta para o “broto” que nasce em área devastada. Com o fim da Ditadura Militar, depois de 21 anos de repressão, perseguição e tortura, ela vislumbrava uma nova era. Na Candelária, Rio de Janeiro, mais de um milhão de pessoas cantavam com Milton Nascimento, pelas “Diretas já”: “Nova aurora a cada dia; E há que se cuidar do broto; pra que a vida nos dê Flor, flor e fruto...”. 

 

Hoje, os profetas, a mensagem de Jesus e a música “Coração de estudante” são mais atuais que nunca, tendo em vista uma sociedade ameaçada pela tirania e o desgoverno. Falsos messias e profetas que procuram, a partir dos próprios interesses, confundir o povo com promessas de vida, mas o que está por traz é o poder da morte. Que o Espírito de sabedoria reine sobre nós para que possamos discernir o bem e construir uma sociedade que transpareça verdadeiramente o reino de Deus e sua justiça.

 

 

Imagem: IAPE

 

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