Ser pastor na “Republica” de Curitiba

13 de Diciembre de 2018

[Por: José Neivaldo de Souza]




O Pastor Cristiano Fiori me enviou um texto sob o título: “Ser Pastor em Curitiba”, no qual desabafa. Achei que, para este tempo de advento, é ele propício à nossa reflexão. Por isso, vou postá-lo em sua integra para que nos ajude a questionar nossa postura diante da verdadeira mensagem do evangelho. Eis o texto: 

 

“Talvez minha experiência atual, em pastorear uma cidade como Curitiba, possa ajudar outros pastores ou mesmo outras cidades a fazerem uma avaliação honesta e sincera dos desafios que os profetas da atualidade estão enfrentando.

 

Tenho a impressão que as igrejas atuais matam profetas, assim como a cidade de Jerusalém matava aqueles que a ela eram enviados como “boca de Deus” e sua voz não foi ouvida. Uma das coisas que me falaram é que o ministério profético é um ministério onde se fala muito e não se é ouvido. Quando você é enviado a cidades, como Curitiba, por exemplo, uma capital, uma região específica como a do Sul do país, suas particularidades e costumes, não dá pra chegar e simplesmente sair falando como o dono da verdade ou mesmo se achando o maior.

 

É necessário amor! Amar a cidade é resultado de um amor a Deus. Amar o próximo é amar o cidadão, seja ele ou ela quem for. Profeta que não prega com lágrimas nos olhos e angústia no coração pode procurar outro ofício! Trazer a mensagem do Eterno para uma realidade pífia, finita é um dos trabalhos mais árduos que alguém poderia realizar, por isso não se faz com forças humanas, mas, com a presença e unção do Espírito Santo.

 

Dito isso, aqui em particular, há um sentimento muito forte; um sentimento de heroísmo. Aqui a Lava-Jato tem sua base popular. Aqui está preso um presidente e uma boa parte de envolvidos em escândalos de corrupção. Aqui moram dois dos personagens mais famosos da Lava-Jato, o promotor e o juiz; sendo um deles evangélico e frequentador de uma das mega igrejas. Um ar de messianismo paira no ar! Sairá daqui um “salvador da pátria”. Entramos no circuito nacional. Pouco se falava de Curitiba, agora só se fala da “República de Curitiba”. As igrejas entraram nesse papo. Aqui o dinheiro manda. Alguns daqueles que dão uma boa oferta são “dizimistas fiéis”; entregando uma enorme quantia de fidelidade, se sentem merecedores da ponta da mesa.

 

Pastor é funcionário. “Pastor sai, a igreja fica!”, alguns dizem. Sim! Eles falam isso aqui. Fala-se de planejamento, mas o pastor não está, digamos, incluído no jogo! Aliás, vez ou outra, fazem esquemas, bolam jogatinas lisas e, sim, estratégicas para que, se algum pastor metido a besta quiser mexer, solapar, desarmar, denunciar esse status quo, logo o pastor ou a pastora seja retirado e o caminho fica livre para a manutenção da roda!

 

Em Curitiba, há um neoconservadorismo que se maquia com discursos de defesa da família e de bons costumes, muito parecido com aquele pregado pelos fariseus na capital Jerusalém. Foram esses mesmos, tais conservadores, que mataram Aquele que vinha justamente para cumprir o que eles tanto pregavam. Um conservadorismo, e por outro lado um liberalismo, que cega a ponto de não poderem mais ver com clareza o que está diante dos olhos. Ou se é de um lado, ou de outro. “Tome uma posição!”, dizem. A opressão é ambidestra.

 

Há, nesse meio, gente santa. Conheci gente de uma coragem que não se admira apenas, copia-se. Gente que, mesmo diante da possibilidade de se manter calado, não mede esforços para a continuação da obra do Senhor. Gente que ama a Deus e O teme! Gente que sabe o que é santidade. Gente que arregaça as mangas e se deixa desgastar no ministério. São poucos, mas são fortes. São aqueles que não se dobram a Mamon, mesmo diante da mais tentadora oferta. São corajosos, porque percebem que até seus familiares caíram no engano e lá permanecem hipnotizados por uma força aparentemente mais poderosa que o Evangelho. Mas, permanecem firmes e prosseguem na fé e na esperança de que, no final, o bem sempre vence o mal!

 

Conheci gente que está tão assustada com tudo isso que acabou se afastando, até mesmo da igreja, porque não encontra mais ali um ponto de convergência e de cura de consciência como Jesus propõe. Não! Há lados! Mega igrejas ditando regras, marchando pra Jesus e, quem não entra na engrenagem, justamente por crer que esse não é o caminho proposto por Cristo, são apenas postos de lado.

 

Pastorear Curitiba cansa, desgasta, angustia. Pastorear cansa, desgasta, angustia, mas apenas se você é pastor. Empresário da fé, empreendedor do evangelho, mantenedor sacro, coaching celestial, seja lá o que for que estejam inventando para a época, não são e nunca serão profetas de Deus. Falarão de si mesmos, de seus corações, de suas convicções e ideologias, a não ser que se convertam. Ser pastor em Curitiba é chamar a igreja à conversão!”.

 

O texto de Cristiano chora! Ao lê-lo, lembrei da passagem de Mateus que apresenta o choro de Jesus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mt 23,37). Que neste advento possamos olhar para o verdadeiro Messias que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10b). 

 

Imagem: https://www.istockphoto.com/mx/foto/curitiba-ciudad-paraná-brasil-gm517848246-89690845 

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