A pastoral de comunhão e participação – O Modelo de Igreja (Em que o Vaticano II mudou a Igreja 8)

27 de Julio de 2018

[Por: Agenor Brighenti]




A Igreja não nasceu pronta e nem está e nunca estará pronta. Ela é o movimento de Jesus, no contínuo esforço de continuar sua obra, que é de “tornar presente o Reino de Deus no mundo” (EG 176). Portanto, ela está continuamente se “originando”, criando diferentes formas de ser e de fazer sua missão, segundo os desafios de cada época. Por isso, a sucessão de modelos de pastoral e, subjacentes a eles, concepções de Igreja que vão se ampliando.

 

Na América Latina, consequente com a renovação do Vaticano II, a Igreja gestou um novo modelo de pastoral frente ao que havia no momento, que nas palavras de Puebla, podemos denominar “pastoral de comunhão e participação”. Já vimos em que consiste a ação pastoral no seio deste modelo. Vejamos, agora, a concepção de Igreja subjacente a ele. 

 

A Igreja como eclesiogênese

 

A “Pastoral de comunhão e participação” tem uma concepção de Igreja com rosto latino-americano, plasmado por Medellín (1968) e Puebla (1979). O Vaticano II havia afirmado que a Igreja é comunhão, na convivência fraterna da comunidade dos fiéis. A Igreja na América Latina dirá que, só haverá real comunhão, se houver uma Igreja comunidade de pequenas comunidades eclesiais, de tamanho humano. Sem elas, a Igreja não é povo, é massa. Por isso, Medellín fala das comunidades eclesiais de base como “célula inicial da configuração eclesial” (Med 6,1). É ali onde a Igreja-comunidade acontece de fato, onde a Igreja que se faz povo e onde a Igreja, que nasce na base, se faz eclesiogênese.

 

Mas, não são simplesmente comunidades pequenas, na base. Como a missão da Igreja consiste em tornar presente o Reino de Deus num mundo marcado pela injustiça e a exclusão, trata-se de pequenas comunidades, inseridas profeticamente na sociedade, em perspectiva libertadora. No “concílio de Jerusalém”, a Igreja nascente abriu-se aos pagãos; no Vaticano II, abriu-se ao mundo; e em Medellín e Puebla, a Igreja abriu-se aos pobres, presentes na base da sociedade e nas periferias.  

 

Igreja-comunhão

 

É na Igreja - comunidade de pequenas comunidades – onde se dá uma Igreja-comunhão. Ser comunhão e promover comunhão é a vida da Igreja. Como sacramento do Reino de Deus no mundo, a Igreja precisa ser comunhão, tanto interna como externamente. A comunhão interna se concretiza no reconhecimento da radical igualdade em dignidade de todos os ministérios, como afirma o Vaticano II. Não há dois gêneros de cristãos – leigos e clérigos, mas um único gênero – os batizados. Daí a corresponsabilidade na Igreja de todos os batizados, em tudo e por todos (LG 13). A Igreja na América Latina irá mais longe. Afirma que a corresponsabilidade é fundamental, mas que ela só será efetiva com o protagonismo dos leigos e das mulheres. Do contrário, persistirá o clericalismo e a consequente centralização do poder, que precisa ser serviço.

 

Mas, não basta a Igreja ser comunhão internamente. A comunhão interna é sacramento da comunhão que a Igreja está chamada a promover entre todos os povos. O Povo de Deus peregrina na história, no seio de uma humanidade toda ela peregrinante. E o destino do Povo de Deus não é diferente do destino da humanidade. A promoção da comunhão para além de seus muros se dá quando a Igreja assume as causas da humanidade e ao interagir com as iniciativas das pessoas de “boa vontade”, que buscam a promoção de uma sociedade inclusiva de todos. A salvação é comunitária e universal, consequentemente, a missão da Igreja implica o diálogo e o serviço a toda a humanidade. Nada do que é humano é alheio a Deus e, portanto, pode ser alheio à Igreja. Para João Paulo II, “o ser humano é o caminho da Igreja” (RH 78). 

 

Igreja-participação

 

A comunhão, tanto no seio da Igreja como na sociedade, se dá pela “participação” efetiva de cada batizado, seja como cristão na comunidade eclesial, seja como cidadão na sociedade. Não há bom cristão se ele não for também um bom cidadão. A promoção do bem comum é parte integrante da missão da Igreja. Para o Concílio, “a esperança de uma Nova-terra, longe de atenuar, antes deve impulsionar a solicitude pelo aperfeiçoamento desta terra” (GS 39).

 

Para a Igreja na América Latina, o “aperfeiçoamento desta terra” se dá pela transformação da sociedade atual em uma nova sociedade, justa e solidária. Isso implica incluir os excluídos, por uma ação na ótica da opção preferencial pelos pobres contra a pobreza (Med 14,7-10), em vista da transformação das estruturas, condição para a erradicação do pecado social (SD 243).

 

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